Amigo do presidente Lula é condenado
a ressarcir os cofres públicos
Diego Escosteguy
Ana Araujo |
Mauro Dutra: sua entidade recebeu recursos para treinar trabalhadores, mas não treinou |
Há quase quatro anos, uma reportagem de VEJA revelou os detalhes de uma investigação do Ministério Público do Distrito Federal sobre as contas da ONG Ágora, entidade ligada ao PT e dirigida pelo empresário Mauro Dutra, amigo do presidente Lula. Documentos apreendidos mostravam que a ONG, fundada em 1993, dominava uma tecnologia de fraude que ficou muito conhecida nos últimos tempos: o uso dos pobres como isca para desviar dinheiro público. As ONGs recebem milhões do governo para ajudar comunidades carentes, simulam serviços, justificam gastos inexistentes com notas fiscais frias e somem com o dinheiro. A Ágora, criada por um influente grupo de petistas, seguia o mesmo roteiro. Na teoria, dedicava-se a organizar cursos de capacitação para trabalhadores. Ao examinarem notas fiscais frias e ouvirem funcionários da ONG, os promotores constataram que a entidade tinha uma imensa capacidade de sumir com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). O Ministério Público pediu, então, à Justiça que Mauro Dutra devolvesse 900 000 reais desviados. Como sempre, sobrevieram os previsíveis desmentidos, as chicanas jurídicas, e os anos se passaram – mas eis que, em setembro de 2007, sem alarde, a Justiça finalmente reconheceu a fraude e condenou em última instância o amigo de Lula.
Fotos Ana Araujo e Silvana Graça | |
O empresário, que já emprestou a casa e o avião ao presidente, pode ter os bens bloqueados pela Justiça como forma de garantir o ressarcimento de 1,8 milhão |
Dutra não é um amigo qualquer do presidente, que o chama carinhosamente de Maurinho. Maurinho já recebeu Lula para uma temporada em sua casa de veraneio, na cidade litorânea de Búzios, e costumava emprestar seu avião, um King Air, para transportar o então apenas potencial candidato a presidente Lula em viagens pelo país. Maurinho também arrecadou dinheiro para o petista na campanha de 2002. Nos próximos dias, Dutra será notificado da decisão judicial. Ele terá duas semanas para depositar em juízo cerca de 1,8 milhão de reais – valor corrigido dos desvios. Na semana passada, o Ministério Público remeteu à Justiça a lista de bens do empresário, que irão à penhora caso Dutra se recuse a pagar a quantia estipulada. Ele ainda pode recorrer do valor cobrado, mas a condenação sobre as fraudes é definitiva. A Justiça também determinou que o dinheiro devolvido seja investido numa entidade que ofereça aulas de verdade a trabalhadores. Observando-se a relação de entidades suspeitas de desviar dinheiro público investigadas pela CPI das ONGs, será uma missão difícil.