Se cumprir o que antecipou, nesta quarta-feira o Banco Central voltará a puxar os juros para cima, pela primeira vez desde maio de 2005.
O objetivo declarado é tentar conter a inflação. Se terá ou não sucesso na empreitada, é assunto para outra análise. O que vai ser examinado aqui é um efeito colateral não desprezível: o aumento da diferença entre juros internos e externos e a tendência à maior valorização do real.
Em setembro do ano passado, a diferença entre os juros básicos no Brasil (Selic) e os dos Estados Unidos (Fed Funds) era de 6,5 pontos porcentuais. Se quarta-feira o Copom aumentá-los em 0,25 ponto - a aposta predominante do mercado financeiro -, a diferença irá para 9,25 pontos.
A conseqüência disso não será exatamente maior entrada de moeda estrangeira no País. Mais apropriado é dizer que a diferença desestimula a saída de dólares que, em outras circunstâncias, seria considerada “natural”.
Quando levanta recursos externos a juros baixos, troca-os no câmbio interno em reais e os aplica no mercado financeiro a juros mais altos, o investidor faz o que os especialistas chamam de operações de arbitragem com juros via carry-trade. Em geral, elas têm caráter especulativo e não são exclusivas do Brasil. São largamente feitas no mundo com capital japonês, onde os juros estão próximos do zero. As aplicações são em dólares ou em euros.
A entrada de recursos externos no País com esse objetivo é relativamente pequena. E isso é uma das razões pelas quais seria inócuo baixar medidas que restringissem a entrada de capitais.
As principais operações de arbitragem com juros não são especulativas. Elas se fazem ou de modo a evitar a saída de capitais ou a apressar sua entrada no país. Quando o exportador brasileiro antecipa a entrada de dólares para convertê-los em reais e os aplica no mercado financeiro interno para tirar proveito dos juros altos, é provável que ele esteja apenas tentando aumentar receita para compensar alguns custos ou até mesmo o achatamento de faturamento com as baixas cotações do dólar. A retenção no País de lucros de empresas estrangeiras também pode ter esse efeito.
Se não saem daqui, quando o normal seria que saíssem, ou se entram, e o normal seria o contrário, o efeito é o mesmo: valorização do real ante o dólar, que pode ter conseqüências indesejáveis, como a contenção de exportações e o estímulo às importações. Mas o que fazer para reverter esse jogo?
Manifestações de economistas e empresários sugerem que o sistema de metas de inflação não seja tomado rigidamente, mas operado como uma espécie de sistema de geometria variável. Assim, ao ser diagnosticada uma perigosa valorização do câmbio, a prioridade passaria a ser a obtenção do câmbio mais adequado e não o combate à inflação. Seria mais ou menos como tem agido o Fed (o banco central americano), que derrubou os juros para conter a crise sem dar prioridade ao combate à inflação, embora ela tivesse aumentado e, em outras circunstâncias, exigisse alta de juros.
O problema é que no sistema de metas de inflação a credibilidade do banco central é essencial para garantir sua eficácia. Se o Banco Central do Brasil lhe desse outro uso, boa parte dela se perderia.