O Estado de S. Paulo |
18/4/2008 |
O reitor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Ulysses Fagundes Neto, produziu uma verdadeira obra de arte na categoria evasivas desconexas ao explicar por que gastou R$ 12 mil do cartão de crédito corporativo com despesas pessoais. Justificativas dignas de um catedrático na matéria. O reitor Fagundes conseguiu arrebatar o troféu conquistado pela ex-ministra Matilde Ribeiro na semana passada, quando afirmou à CPI dos Cartões que na hora de pagar compras no free shop confundiu o seu cartão particular com o corporativo. “Os dois têm a mesma bandeira e a mesma cor”, disse ela toda santa. Matilde recorreu à desculpa do “equívoco”, em obediência a um padrão consagrado no escândalo do mensalão e, desde então, cada vez mais familiar no ambiente de ilicitudes nacionais. O reitor também se apresentou como vítima de um “equívoco”, mas foi muito além. “Achava que era como uma diária, um dinheiro que você bota no bolso e não tem de explicar.” Faltou-lhe, disse, “informação”. Não obstante o magnífico nessa altura já ter sido claro o suficiente para evidenciar que sua carência não foi de natureza informativa, continuemos a rememorar a evolução do raciocínio. Imaginou - prosseguiu o reitor - que era autônomo para gastar e em momento algum lhe passou pela cabeça que malversava dinheiro público. Quer dizer, como Matilde, confundiu-se. Deu uma interpretação personalíssima ao conceito de autonomia universitária e, na posse do cartão, sentiu-se autônomo para adquirir materiais esportivos no valor de R$ 2.473 na Alemanha, comprar R$ 1.411 em cerâmicas na Espanha, consumir R$ 5.084 em produtos eletrônicos nos Estados Unidos e pagar R$ 2.035 para substituir suas malas na China. Na entrevista em que apresentou as contas, o reitor Fagundes aproveitou o ensejo para corrigir “erros” publicados contra ele no noticiário recente. “Disseram que comprei malas nos Estados Unidos. Não foi, foi na China.” Ao exercer esse indispensável direito de resposta, o reitor detalhou a quem interessar possa: “As minhas malas arrebentaram em Hong Kong. E esse (R$ 2.035) é o preço da Samsonite.” Com a devida vênia, uma dúvida: “arrebentaram” em conseqüência dos excessos da autonomia consumista, ou por que não eram de qualidade como as que a autonomia presumida lhe permitiu adquirir depois? Descoberto, informado sobre a natureza pública do agente pagador das faturas dos cartões, o reitor resolveu devolver o dinheiro, mas não fez disso um ato de contrição. Não se trata de arrependimento, assegurou. “Não fiz por má-fé.” Sabe o que aconteceu, caro leitor? “As regras não eram claras, principalmente em 2006. O ano foi muito confuso.” Abstraindo-se o ilícito da conduta, intriga como é que um homem com esse déficit de cognição intelectual vira reitor de uma universidade federal. Boca torta Em tese, o aumento da verba de gabinete dos deputados em R$ 10 mil por cabeça não tem nada de extraordinário. Na prática, porém, pode vir a se configurar uma ação ordinária (no mau sentido), a depender das implicações resultantes de certos contrabandos muito difíceis de se fiscalizar. A Câmara tirou o dinheiro do orçamento já existente e deu a ele a destinação específica para o aumento dos salários dos funcionários dos gabinetes. Até aí, tudo mais ou menos certo. Não inteiramente, porque a Mesa Diretora se valeu do truque de sempre: aproveitou que o dia foi de produção - desobstrução da pauta e aprovação da primeira etapa do projeto de mudança das medidas provisórias - para tomar uma medida sabidamente impopular. A “ordinarice” reside na ação de alguns deputados que desviam o dinheiro para outras finalidades: alguns embolsam, outros repassam para “fantasmas” (parentes, amigos ou correligionários) e há os que usam a verba para contratar cabos eleitorais nos Estados, deixando os funcionários dos gabinetes em Brasília no ora veja. Como não são concursados, não denunciam as manobras sob pena de perder o emprego. Esse tipo de coisa não ocorre em todos os gabinetes, é claro. Mas esses estratagemas, na verdade, ilegalidades, são mais comuns do que seria o esperado de uma instituição onde são feitas as leis do País. O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, não tem o direito de reagir com irritação às críticas. Elas ocorrem porque o Legislativo insiste na caudalosa produção de motivos. Se os parlamentares estivessem de bem com o eleitorado prestando bons serviços de representação, a opinião pública provavelmente receberia o aumento com naturalidade. Dona franca A ministra da Casa Civil terá pretendido acabar com a hipocrisia ao chamar de “comício” o ato de lançamento de obras do PAC em Belo Horizonte, ou será que em sua inexperiência política não ligou o nome à pessoa? |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, abril 18, 2008
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