Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, abril 18, 2008

Encruzilhada


EDITORIAL
O Globo
18/4/2008

Não está mais em questão saber quais os reais objetivos do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). O dia de ontem, quando, a pretexto de relembrar os 12 anos do conflito ocorrido entre manifestantes e a polícia no interior do Pará, a entidade paralisou mais uma vez a estrada de ferro de Carajás, da Vale, ocupou postos de cobrança de pedágio rodoviário no Paraná, invadiu fazendas e 43 prédios públicos em pelo menos 16 estados, serviu para acabar de vez com a ilusão - de quem ainda a tinha - de que o MST se bate por uma agenda social. Não é verdade. A organização se move por objetivos políticos e de poder, por sobre a Justiça e as demais instituições.

É coisa do passado a luta pela reforma agrária, nascida no Sul de uma associação entre grupos de esquerda radical e segmentos da Igreja Católica ligados à Teologia da Libertação. A agricultura brasileira se modernizou em alta velocidade, terras férteis ociosas passaram a ser cultivadas em ritmo intenso e a fronteira agrícola moveu-se em direção ao norte. E assim a bandeira da reforma agrária foi aposentada pelo dinamismo da própria sociedade brasileira. Com isso, os aspectos revolucionários da proposta do MST ficaram mais explícitos. Propriedades produtivas começaram a ser invadidas - na ausência do latifúndio mantido como reserva de valor - e, na falta de "agricultores expulsos por latifundiários", a organização passou a arrebanhar e manipular um exército de lumpens formado por desempregados urbanos, aventureiros de garimpo e assim por diante. A pauta de reivindicações foi ampliada, para abranger programas habitacionais destinados à baixa renda, redução dos juros e calote na dívida externa. E o leque dos alvos foi aberto, para incluir empresas de grande porte em geral e multinacionais em particular, a engenharia genética aplicada ao campo, etc.

A chegada a Brasília do governo Lula, num comboio do qual fazia parte o MST, permitiu à organização entrar nos aparelhos de Estado e a ter facilitado o acesso a recursos públicos, que passaram a financiar toda essa sucessão de atos violentos, os quais ideólogos devem considerar uma "fase pré-revolucionária".

Toda democracia deve saber conviver com ameaças, dando espaço livre a todos. Mesmo aos que visam a destruí-la - desde, porém, que cumpram a lei. Este é o ponto crucial na questão do MST e o Brasil de hoje: o poder público e a sociedade permitirão que caiamos na transgressão absoluta, caminho curto rumo a uma grave crise institucional, ou o estado de direito será defendido com as armas que a Constituição concede? Estamos nesta encruzilhada.

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