Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 05, 2008

Dilma se contradiz sobre dossiê

Ministra dá nova versão e agora afirma que computador pode ter sido 'invadido'

Chico de Gois e Luiza Damé

BRASÍLIA Aministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, se contradisse ontem ao tentar responder à denúncia, publicada pela “Folha de S.Paulo”, de que o dossiê sobre gastos no governo Fernando Henrique saiu pronto do Palácio do Planalto e tem 27 páginas — e não 13, como se supunha. A ministra cancelou eventos públicos no Rio para dar uma entrevista em Brasília e, sem apresentar documentos, repetiu a versão de que o governo não fez dossiê. Mas recorreu a outras versões: agora, disse que os computadores da Casa Civil podem ter sido “invadidos” e ainda acusou a “Folha” de montagem (leia a resposta do jornal na página 4).

A ministra disse que houve crime de vazamento de informação, mas não pediu apuração da Polícia Federal, e sim do Instituto Nacional de Tecnologia de Informação (ITI), ligado à Casa Civil, que comanda. Disse ainda que houve crime com a suposta violação dos computadores de seu ministério ou até mesmo espionagem e que dos dados que vazaram somente os referentes a dona Ruth Cardoso são sigilosos. Disse que o Palácio do Planalto não descarta qualquer hipótese e que vai fazer uma “investigação ampla e irrestrita”, mas por meio do ITI.

— Estamos empenhados em esclarecer o que aconteceu. Houve uma tentativa de dolo muito clara — disse a ministra, sem esclarecer quantas pessoas tinham acesso aos dados na Casa Civil: — O que quero afirmar é o seguinte: a pessoa e a instituição que está prejudicada é o governo e a Casa Civil e tem uma direção certa, atingir a mim. Há uma tentativa clara de atribuir à Casa Civil a responsabilidade por um suposto dossiê.

“Agente secreto com crachá”

A ministra disse que o trabalho do auditoria do ITI se concentrará em cinco máquinas suspeitas, mas sem esclarecer o motivo. A ministra mostrou as planilhas publicadas na reportagem para dizer que elas não correspondem ao padrão utilizado pelo banco de dados da Casa Civil: — Como foi publicado, há a possibilidade de um computador da Casa Civil ter sido invadido. Aliás, é também muito estranho. Parece muito a história do agente secreto com crachá.

Acho estranho alguém fazer um dossiê na Casa Civil e tirar um retrato.
É como se tivesse uma assinatura.

Dilma disse que, do material publicado ontem há uma coluna intitulada “observações” que, afirmou, não existe no banco de dados oficial. Instada a apresentar uma cópia de como se apresenta o banco de dados da Casa Civil, ela não a exibiu. Disse que na próxima semana o governo divulgará.

— Vai ser muito simples: vocês vão ter acesso e verão. Eu estou afirmando que todos os elementos que eu obtive mostram que essa coluna “observações” não existe na nossa base de dados. Numa planilha, monta-se o que quiser — disse, sugerindo a montagem do dossiê: — Nós vamos cruzar e iremos cruzar todas as informações que estão aqui. Por quê? Assim como vocês puderam tirar uma coluna ou duas, assim como pôde introduzir isso aqui, é possível você introduzir qualquer coisa no banco de dados.

Dados não sigilosos vão para CPI

Dilma questionou o motivo de se fazer um dossiê com informações que são públicas. Ela se referia aos dados de ministros do governo tucano. Do que foi divulgado, segundo informou, somente os gastos de dona Ruth são protegidos por lei. A ministra afirmou que os dados não sigilosos serão todos encaminhados à CPI do Cartão Corporativo. E insistiu que não interessa ao governo vazar as informações que constam do dossiê: — Por que fazer um dossiê de informações que não são sigilosas? Vamos chantagear com o público e notório? Vamos intimidar com o público e notório? — se contradisse, depois de admitir que os dados de dona Ruth, por exemplo, são sigilosos.

Ela informou que o governo vem fazendo um banco de dados e que, inicialmente, priorizou informações a partir de 2003, primeiro ano de mandato do presidente Lula. Depois passou a sistematizar os dados do governo passado. Até o momento, já há informações dos anos 1998, 1999 e 2000.

Faltam 2001 e 2002 para fechar. Dilma negou que o governo tenha apresentado versões diferentes sobre o dossiê: — Temos uma posição única e uniforme.

Cabe a esta Casa Civil organizar os dados existentes.

A “Folha” mostrou cópias de um arquivo que teria sido extraído de computadores da Casa Civil e que seria a base do dossiê contra o governo tucano.

O jornal afirma que o documento é de cunho político e não administrativo.

Os documentos divulgados pelo jornal teriam sido extraídos em 18 de fevereiro de um banco de dados da Casa Civil.

O arquivo registra, em formato Excel, datas e horários de acesso à base de dados do Planalto. O documento só lista gastos com comida, bebida, transporte e hospedagem.
PERGUNTAS SEM RESPOSTAS:

Se a ministra admite que o vazamento de dados é crime, por que não chamou a Polícia Federal para investigar?

Por que só ontem, 15 dias após a primeira reportagem sobre o dossiê, a ministra diz que pediu uma investigação formal sobre o vazamento ao ITI, instituto ligado à Casa Civil, chefiada por ela?.

Por que a ministra diz que o banco de dados estava “formatado mais para o futuro do que para o passado”? O que é um banco de dados que não registra dados passados e sim futuros?

Quem poderia ter acesso a dados sigilosos na Casa Civil?

Por que a secretária-executiva Erenice Guerra não foi afastada?

A ministra diz que vai divulgar os dados de 98 a 2000, quando os gastos eram feitos pela conta B e não por cartão corporativo. Mas Dilma diz que as informações do cartão são mais fáceis. Não seria mais simples iniciar a divulgação pelos dados dos cartões, o que englobaria o período Lula, e não apenas o de FH?

Se, como disse a ministra, a base de dados contém “informações gigantescas”, como é que alguém conseguiu facilmente selecionar apenas os dados do período FH? Isso não exigiria um esforço de uma equipe inteira?

Se o dossiê é uma conspiração tucana, como afirmam aliados do governo, por que ele continha gastos de FH e não de Lula?

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