O Estado de S. Paulo |
17/4/2008 |
Foi dose redobrada. Não dá para dizer que esse movimento mais forte do Banco Central não estivesse dentro das possibilidades, pois o aviso de que a inflação passa do ponto foi passado há quase um mês. Mas essa alta de meio ponto porcentual não era a aposta majoritária dos analistas e dos próprio mercado, que preferiram cravar um avanço dos juros de apenas 0,25 ponto. É provável que o Banco Central só tenha decidido pela alta mais forte na reunião de ontem e, por isso, não tenha tido tempo para ajustar as expectativas do mercado para o que fez. Nas últimas semanas a inflação vinha encorpando, levando os fazedores de preços a puxarem mais fortemente pelas remarcações. Isso já parecia claro na Pesquisa Focus, o levantamento que o Banco Central faz semanalmente junto a cerca de 100 instituições financeiras, empresas e consultorias. Semana passada, a pesquisa mostrou que o mercado já trabalhava com inflação para este ano de 4,66%, número que levava jeito de saltar nestes dias para 4,8% e, na semana seguinte, para 5%. O Banco Central deve ter entendido que não podia deixar que o mercado passasse a determinar o ritmo da inflação e jogou pesado. A idéia parece ter sido fazer a maior parte do serviço de uma vez para que ciclo do aperto monetário seja mais curto e possa permitir uma economia crescendo ainda neste ano a 5% e a inflação dentro da meta. Esta não é uma questão meramente técnica. O Banco Central tinha de decidir se enfrentaria um período eleitoral contaminado pela perspectiva de inflação mais forte ou se tentaria chegar até lá com a situação relativamente sob controle. Decidiu fazer o mal praticamente de uma vez. Essa decisão vai provocar a onda de protestos de sempre. Um grande número de analistas não conseguirá entender como a quimioterapia dos juros pode atacar eficazmente uma inflação gerada fora do País, porque provocada pela alta das commodities agrícolas. Mas o Banco Central não pretende mudar as cotações da Bolsa de Chicago. Quer limitar-se a controlar a inflação causada dentro do País pelo consumo desproporcionalmente mais alto do que a capacidade de oferta da economia. Muito provavelmente a Ata do Copom, que será divulgada na próxima semana, conterá as justificativas do Banco Central que eventualmente terão escapado dos analistas. Argumentar que a política de juros tem pouca eficácia para o efeito pretendido é equivocado. Se fosse assim, ninguém ligaria para a alta dos juros nem ficaria mais satisfeito quando o Copom optasse pela sua redução, como já aconteceu. A decisão de ontem vai aumentar a diferença entre juros internos e externos o que, por sua vez, contribuirá para maior entrada de dólares ou para que mais moeda estrangeira deixe de sair do País. O efeito disso será maior valorização do real (queda do dólar), que o Banco Central tentará corrigir com mais compra de dólares no câmbio interno. O movimento do Banco Central será notado no exterior, porque vai na contramão do resto do mundo. Nos Estados Unidos, os juros estão sendo derrubados agressivamente. Na Europa estão parados. No Brasil, é isso aí. Ontem, o dólar mergulhou diante do euro, do iene, da libra esterlina e, também, diante do real. Está ficando difícil acreditar no discurso do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, de que a política é do dólar forte. |
Entrevista:O Estado inteligente
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