A semana que passou mostrou que há uma relevante mudança de qualidade na crise financeira global: acabou o pânico.
O desarmamento geral dos espíritos tem a ver com um único grande evento: a salvação do Bear Stearns pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Seus contratos foram transferidos para o JP Morgan. Ficou decretado aí que nenhum banco pode quebrar, seja ele pequeno, médio ou grande. E isso mudou muita coisa.
O pânico anterior havia sido alimentado pela enorme insegurança. Ninguém sabia o tamanho do problema e a qualquer momento podia ser anunciada a falência de um banco que iniciaria a quebradeira.
É verdade que alguns bancões já tinham reconhecido perdas enormes. Pelos cálculos do The Wall Street Journal, apenas os cortes nos balanços feitos pelos bancos já somavam terça-feira a bagatela de US$ 140,2 bilhões. O problema é que ninguém tinha idéia sobre onde terminaria o abismo. O mercado, apavorado, esperava que, a qualquer momento, "o sangue corresse até à altura dos freios dos cavalos, pela extensão de mil e seiscentos estádios" - como está escrito no Apocalipse.
Foi esse clima que impôs no mercado a gigantesca crise de confiança e a trombose no crédito. As ações dos bancos estavam em queda livre nas bolsas e os aplicadores corriam a sacar suas cotas nos fundos de investimento. Os próprios bancos deixaram de emprestar dinheiro a outros bancos. Esse ambiente prevaleceu até o último dia 17, quando foi anunciado o resgate do Bear.
Foi o que varreu o medo. E permitiu não apenas a recuperação dos preços das ações dos bancos nas bolsas internacionais, mas, também, a nova atitude dos acionistas ante os reforços de capital do União de Bancos Suíços, do Deutsche Bank e do Lehman Brothers, banco de investimento que uma semana antes estava sob ataque.
Ainda haverá de ser muito questionada essa injeção de dinheiro dos contribuintes em instituição financeira que fez lambança. Os bancos americanos provavelmente ainda acusarão pilhas e pilhas de títulos micados. A queda dos preços dos imóveis nos Estados Unidos ainda seguirá por um bom tempo, o que aumentará a lista dos financiamentos hipotecários não honrados pelos mutuários. Não há sinais de que o derretimento do dólar tenha acabado. Há uma redução de marcha na produção dos Estados Unidos. Muitas avarias deverão ser acusadas nos balanços do primeiro trimestre das grandes empresas.
A diferença é que a percepção dessas calamidades já não causam o mesmo estrago de antes, porque o dinheiro do correntista do banco já não está ameaçado. Há quinze dias, o anúncio de uma recessão em curso, como o feito por Bernanke quinta-feira no Congresso americano, geraria um terremoto. E números bem menos ruins do que os anunciados sexta-feira sobre a situação do emprego nos Estados Unidos produziram turbulências que agora não se repetiram.
Enfim, a crise continua aí. Mas as autoridades já estão em condições de juntar os cacos, sem ter de administrar histerias coletivas. Será preciso surgir algo muito grave para o pânico voltar ao mercado.
O desarmamento geral dos espíritos tem a ver com um único grande evento: a salvação do Bear Stearns pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Seus contratos foram transferidos para o JP Morgan. Ficou decretado aí que nenhum banco pode quebrar, seja ele pequeno, médio ou grande. E isso mudou muita coisa.
O pânico anterior havia sido alimentado pela enorme insegurança. Ninguém sabia o tamanho do problema e a qualquer momento podia ser anunciada a falência de um banco que iniciaria a quebradeira.
É verdade que alguns bancões já tinham reconhecido perdas enormes. Pelos cálculos do The Wall Street Journal, apenas os cortes nos balanços feitos pelos bancos já somavam terça-feira a bagatela de US$ 140,2 bilhões. O problema é que ninguém tinha idéia sobre onde terminaria o abismo. O mercado, apavorado, esperava que, a qualquer momento, "o sangue corresse até à altura dos freios dos cavalos, pela extensão de mil e seiscentos estádios" - como está escrito no Apocalipse.
Foi esse clima que impôs no mercado a gigantesca crise de confiança e a trombose no crédito. As ações dos bancos estavam em queda livre nas bolsas e os aplicadores corriam a sacar suas cotas nos fundos de investimento. Os próprios bancos deixaram de emprestar dinheiro a outros bancos. Esse ambiente prevaleceu até o último dia 17, quando foi anunciado o resgate do Bear.
Foi o que varreu o medo. E permitiu não apenas a recuperação dos preços das ações dos bancos nas bolsas internacionais, mas, também, a nova atitude dos acionistas ante os reforços de capital do União de Bancos Suíços, do Deutsche Bank e do Lehman Brothers, banco de investimento que uma semana antes estava sob ataque.
Ainda haverá de ser muito questionada essa injeção de dinheiro dos contribuintes em instituição financeira que fez lambança. Os bancos americanos provavelmente ainda acusarão pilhas e pilhas de títulos micados. A queda dos preços dos imóveis nos Estados Unidos ainda seguirá por um bom tempo, o que aumentará a lista dos financiamentos hipotecários não honrados pelos mutuários. Não há sinais de que o derretimento do dólar tenha acabado. Há uma redução de marcha na produção dos Estados Unidos. Muitas avarias deverão ser acusadas nos balanços do primeiro trimestre das grandes empresas.
A diferença é que a percepção dessas calamidades já não causam o mesmo estrago de antes, porque o dinheiro do correntista do banco já não está ameaçado. Há quinze dias, o anúncio de uma recessão em curso, como o feito por Bernanke quinta-feira no Congresso americano, geraria um terremoto. E números bem menos ruins do que os anunciados sexta-feira sobre a situação do emprego nos Estados Unidos produziram turbulências que agora não se repetiram.
Enfim, a crise continua aí. Mas as autoridades já estão em condições de juntar os cacos, sem ter de administrar histerias coletivas. Será preciso surgir algo muito grave para o pânico voltar ao mercado.