Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 30, 2006

NELSON MOTTA-A etica do acaso



RIO DE JANEIRO - O senador Sibá Machado, petista do Acre, tem um projeto revolucionário: o fim do vestibular e o sorteio das vagas nas universidades. Como o ensino público é péssimo, o vestibular privilegia os alunos de classe média, que tem acesso a melhores colégios. É uma injustiça. O sorteio é mais democrático, porque nivela todos no ideal social de igualdade de oportunidades. A ética do acaso.
Além disso, o vestibular privilegia também os que, por conspiração da natureza, foram dotados de mais inteligência e criatividade, de mais ambição de crescer e vontade de aprender do que outros. O sorteio vai corrigir as injustiças do DNA, da seleção natural, do caráter individual e da sociedade e suas elites perversas, estendendo a mão do Estado aos burros, aos vagabundos, aos preguiçosos, aos que querem ganhar sem trabalhar, aos que sonham com uma boquinha no serviço público e uma boa aposentadoria. Ou -por que não?- uma vaga no Senado.
Expressando o espírito solidário do Brasil de hoje, a ética do acaso acaba com essas bobagens de mérito, aptidão, competência e talento, individualismos burgueses sem lugar em um país de todos.
A idéia é tão boa que deveria ser ampliada para todos os cargos públicos, Câmara e Senado inclusive. Talvez os sorteados fossem melhores do que os eleitos. Os partidos não aparelhariam mais o Estado, os sindicatos não indicariam mais companheiros para estatais, parlamentares e juízes não empregariam parentes.
A busca da igualdade continua, igualando os salários dos deputados e senadores aos dos ministro do Supremo Tribunal Federal. E a melhor prova dos resultados da ética do acaso é o próprio Sibá, suplente de Marina Silva, que foi da floresta para o Senado sem um voto.

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