Débora Thomé (Interina) |
O Globo |
29/12/2006 |
Alguma coisa há de muito errada em um país quando, num mesmo ano, suas duas maiores cidades, capitais dos estados que concentram 43,5% da produção nacional, sofrem ataques sucessivos feitos por grupos armados - articulados ou não. Desta vez, foi o Rio de Janeiro quem acordou diante de atos assassinos que atemorizaram a cidade. Este ano, São Paulo viveu a mesma situação algumas vezes. Mais de duzentas pessoas, muitos civis, morreram nestes dias de desgoverno. Uma dor sem tamanho para as famílias. Ruim para a economia; péssimo para o país. Ter visto o que o Rio já viu outras vezes não torna normal o que aconteceu ontem. Pessoas com medo de andar na ruas, lojas fechadas, túneis evitados. Os fatos chocaram; principalmente as 18 mortes. Dias violentos como este 28 de dezembro significam prejuízos enormes para o risco do país; não aquele medido pelo JPMorgan, mas, sim, o da imagem que o Brasil tem lá fora, e o Rio de Janeiro, aqui dentro. Empresas já deixaram várias áreas do município - ou mesmo a própria cidade - por causa do aumento da violência. Abrir e manter um negócio já envolve muitos riscos; ninguém quer estar sujeito a mais esse. "A violência vem se tornando cada vez mais um problema macroeconômico, que tem minado o clima para investimentos de muitas economias latino-americanas", diz um informativo do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), da UFMG. A violência, de fato, tem nos custado muito caro. Um estudo publicado no site do escritório da ONU para Drogas e Crimes chama a atenção para o que se gasta com a criminalidade: tanto os custos diretos quanto os indiretos. Entre os diretos: os gastos com combate à violência, justiça criminal, prisões, médicos e segurança privada. Nos indiretos, a perda de investimentos e também as perdas pelo próprio fato de estas pessoas envolvidas (criminosos e vítimas) deixarem de produzir. É muita coisa. O dado não é tão recente, mas uma conta feita pelo Crisp-UFMG, Iser e Ilanud indica que o custo da violência para a cidade do Rio de Janeiro é de 5% do seu PIB municipal. Para São Paulo, em 1999, custava 3%. O mesmo estudo mostra que, como as mortes por violência estão concentradas em homens (sobretudo nos jovens), é neles também que se encontra o maior custo decorrente da criminalidade. Se este jovem homem continuasse vivo, potencialmente, estaria produzindo. Assim, a vítima do sexo masculino custa ao país R$53.278. Cerca de 95% dos custos econômicos da violência no Rio estão relacionados a essas vítimas. Os estudiosos ainda não conseguem estabelecer uma relação forte de conseqüência entre pobreza e crime, porém, já se sabe que o oposto é verdadeiro: a criminalidade é um obstáculo ao crescimento. No Rio de Janeiro, uma cidade turística, isso pode ter um impacto ainda maior. Um terço dos 5,3 milhões de turistas que visitam o Brasil a lazer preferem o Rio. Anualmente, são, em média, 1,7 milhão de estrangeiros que escolhem principalmente esta época do ano para conhecer a cidade. O número de turistas no Brasil e no Rio poderia ser muito maior, é bem verdade. Certamente, a violência tem impacto na redução do volume de turistas. Este ano, houve um homicídio e um sem número de assaltos a turistas. Ontem mesmo, jornais de várias partes do mundo já traziam em suas páginas na internet o caos que se instaurou no Rio. Péssima vitrina. As perdas não param por aí. Os lojistas acreditam que houve uma redução de 25% no movimento do comércio nesta quinta-feira. Esta semana também costuma registrar boas vendas, pois muita gente tem deixado para depois do Natal as compras que faltaram, sem falar na preparação das ceias. A população, com medo, acaba preferindo ficar em casa. Variações na criminalidade têm impacto também nos aluguéis de imóveis de uma determinada região. O Crisp-UFMG descobriu que, em Belo Horizonte, por exemplo, a cada ponto de queda da taxa de homicídio por 100 mil habitantes, o aluguel sobe 0,61%. Mas os efeitos dramáticos da violência, diz o trabalho, são vistos na "erosão do capital social, transmissão da violência entre gerações, redução da qualidade de vida, comprometimento do processo democrático". Mesmo assim, o sociólogo Glaucio Soares, que tem acompanhado de perto o tema, não é pessimista; ele acha que "há muita luz no fim do túnel", com o Estatuto do Desarmamento e o esforço feito por alguns governos e prefeituras. Isso sem falar no exemplo da Colômbia, que sempre foi uma referência negativa e está tendo êxito no combate aos homicídios. O impacto econômico é, sim, muito forte. Porém, as vidas perdidas serão sempre o maior dos prejuízos. Tem até havido alguns pequenos avanços, como nos crimes violentos letais, que pararam de crescer; caindo de 24 para 23,8 por cem mil habitantes. Mas o Brasil continua perdendo um número intolerável de brasileiros para a violência. É um valor caro e do qual o país está abrindo mão. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, dezembro 29, 2006
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