Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, dezembro 26, 2006

Clóvis Rossi - De fatos e conspirações



Folha de S. Paulo
26/12/2006

O lulopetismo criou o hábito de investir com fúria contra os fatos, sempre que o embaraçam. Contra evidências, esgrime o mantra de "conspiração das elites/ mídia", com a contribuição intelectual de acadêmicos companheiros e da mídia idem.
Deu-se, no mais recente escândalo (o do dossiê contra tucanos), a exacerbação dessa prática. Inventou-se que uns pobres petistas "aloprados" (que são, na verdade, criminosos) foram enganados por um bando de tucanos espertos e atraídos a um hotel com uma pilha de dinheiro para comprar um dossiê, dinheiro apreendido por um delegado obviamente tucano. A mídia, na sua eterna conspiração, resolveu divulgar os fatos, o que choca lulopetistas.
Bom, agora vem Paulo Lacerda, chefe da Polícia Federal, insuspeito por ser funcionário público exemplar, e conta, em entrevista à Folha, a história tal como ela foi e tal como se divulgou.
Ponto um: o que antecede o dossiê é "um trabalho de investigação muito bem-sucedido sobre os sanguessugas". Em seguida, vêm "denúncias de que alguns envolvidos estariam utilizando práticas de extorsão contra pessoas, que era o dossiê".
Mais: "A partir do momento em que o caso se tornou público, não havia como deixar passar em branco: quase R$ 2 milhões, seria risco demais a PF dar corda naquele momento" (dar corda é o jargão para deixar as coisas acontecerem e só dar o bote depois).
"Ali não teve como, porque era uma situação que a sociedade precisava saber, sob pena de hoje sermos acusados de ter dado cobertura a uma ação ilícita", fecha o chefe da Polícia Federal.
Pois é, "a sociedade precisava saber", a ação era "ilícita", foi divulgada, mas fatos, na torpe mentalidade dessa gente, são sempre menos relevantes do que as alucinações conspiratórias.

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