1. Pelo menos na política européia os ciclos políticos duram uns 10 anos. Há raras exceções, como Helmut Kohl cujo ciclo durou 16 anos. Uns encerram seu ciclo por cima -como Thatcher ou Clinton- e outros, simplesmente encerram, e outros mais, terminam seu ciclo de poder com a imagem completamente afetada. Há casos curiosos, como o de Brizola que fora do poder permaneceu com grande prestígio popular, mas não com o voto popular, como se a população o admirasse, mas não para governar. FHC -analogamente- manteve seu prestígio intelectual, mas também sem voto. Vamos tratar dos que saem com a imagem terminalmente afetada.
2. Há uma razão maior para os riscos de desintegração de imagem. É a distonia entre a imagem percebida e a imagem real. O político que se aventura num programa de potencialização e popularização de sua imagem, descolada dos fatos, corre esse risco. Li num artigo que Niestche definia "mito" como "um fato para o qual se inventa uma ação que o gerou e se o atribui ao líder". Quando a propaganda política na TV, governos colam a si investimentos do setor privado que independeriam de governo, ou fatos que já vem de muito longe, e se atribuem a razão dos mesmos se está num caso definido por Niestche como -mito. Quando manipulam estatísticas, idem.
3. Uma análise comparada e abaixo da superfície entre Garotinho e Lula mostra muitas semelhanças. Até o comportamento das ditas elites em relação a eles se assemelha. Lembro os inícios de governo, por receio de desmandos, e depois, por saudarem as boas novas em relação aos governos, seja por interesses, o fato é que tanto Garotinho quanto Lula pisaram com garbo estes tapetes persas.
4. Ambos usaram e abusaram da publicidade paga. A papelaria deles nunca se viu igual. Garotinho com seus tablóides e revistas populares e Lula com as ricas edições de revistas com artigos assinados por tantos professores e ditos intelectuais muito bem remunerados por eles e por suas cumplicidades e silêncio, e outras populares.
5. Ambos usaram e abusaram do recurso ao assistencialismo que um chama de uma forma e outro de outra. Ambos introduziram programas de cooptação de jovens através de ajuda de custo com as justificativas mais incríveis, como segurança e esporte.
6. Garotinho poderia ter tido seu ciclo antecipado, mas foi salvo pela gulosa Benedita. Elegeu-se (assim diz a decisão do TSE), através de sua esposa (nunca foi tão precisa uma decisão por interpretação). Lula foi em frente, saltando por cima dos cadáveres insepultos dos corruptores de seu time íntimo. Garotinho ainda tenta saltar por cima de um deles: as maquininhas. Ambos são os campeões mundiais da contratação de falsas ONGs para financiar seus esquemas políticos -direta ou indiretamente. Ambos "abriram" seus fundos de pensão. Enfim, são politicamente gêmeos.
7. A única diferença é que dona Marisa não se aventurou no mundo do teatro (lembram-se da Índia?), do canto (em parceria com Elymar Santos)...
8. Aquela distonia alimentada pela publicidade tem um inimigo mortal e definitivo: o tempo. O tempo em governo aproxima a imagem maquiada da imagem real. Quase sempre até exagerando negativamente em relação à imagem real. É o que se chama em política de ciclo de exaustão. Essa aproximação é inevitável e ocorre sempre na segunda metade de um segundo governo.
9. Lembro-me do diretor de um dos dois mais importantes bancos estrangeiros no Brasil (em 1999), entusiasmado com a criação do Rio-Providência pelo Garotinho. Eu disse a ele:- "Não tem chance política de dar certo." Ele não entendeu. Em geral o fator político é minimizado pelos grandes empresários. Contratam palestras como para cumprir um dever de ofício. Fazem lobbies no Congresso em torno de seus interesses, convidam ministros para passear de iates, e fins de semana em fazendas cinematográficas... Mas não trabalham com uma assessoria de análise estratégica política. Querem saber das fofocas e dicas... Os mais -digamos- prudentes levam seu dinheiro para fora no que se chama de "hedge político".
10. O mensalão é a cara do governo Lula. As maquininhas são a cara do governo Garotinho. O apagão aéreo é a cara de Lula. A quebra do Estado é a cara de Garotinho.
11. Hoje, dia 26, Rosinha Garotinho vai encerrar seu governo implodindo um complexo de presídios. Nenhuma imagem mais própria para o ciclo dos Garotinhos. E pelos dois lados: o fato e seu uso.
12. Quanto a Lula: quem viver, verá!
Entrevista:O Estado inteligente
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