Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 19, 2008

Política dentro e fora do Brasil

Política de resultados

De olho em 2010, Aécio colhe saldos
positivos – no Brasil e fora dele


André Petry, de Nova York

Ruben Gamarra/Imprensa MG
Aécio (ao centro), na sede do Banco Mundial, em Washington: "Estou de bem com a vida"

"Estou de bem com a vida", diz o governador Aécio Neves, de Minas Gerais, enquanto toma um gole de cappuccino numa cafeteria em frente à Union Square, em Nova York. Acreditar em confissão de político pode ser o mesmo que fazer lista de presentes ao Papai Noel, mas não faltam razões para o bem-estar do governador. Na quarta-feira passada, Aécio saboreava em Nova York o saldo positivo de suas movimentações políticas mais recentes. Em Belo Horizonte, patrocinou a aliança entre PSDB e PT para a prefeitura da capital mineira, que está prestes a ser sacramentada. É um trunfo que poderá ser exibido ao país como exemplo de habilidade política e, eleitoralmente, é mais rentável para o governador do que para os petistas. Em Brasília, ele tem sido paparicado pelo PMDB, como ocorreu recentemente, num cortejo que uns interpretam como aceno para que mude de partido, mas outros, talvez mais espertos, entendem que é salamaleque destinado a vitaminar a ambição presidencial de Aécio dentro do PSDB mesmo.

Na semana passada, no lance mais recente, o governador foi recebido com rapapés de estrela pela cúpula do Banco Mundial, em Washington. Para uma platéia de técnicos e representantes de outros países, apresentou Minas Gerais como modelo de gestão. Pode ser exagero, mas o governador ganhou aplausos mais do que protocolares. São bons motivos para seu bem-estar, pois podem aumentar seu cacife no jogo político com vistas a 2010. Na reforma administrativa que começou no primeiro mandato e lhe valeu o convite para falar no Banco Mundial, Aécio saiu de um déficit de 2,4 bilhões de reais em 2003 para um saldo de 3,6 bilhões para investimento neste ano. Contando com estatais, o total de investimento pula para 9 bilhões. De lá para cá, Minas eliminou 3 000 cargos de confiança, aboliu penduricalhos que promovem o crescimento vegetativo da folha salarial, como anuênios e qüinqüênios, e implantou um sistema de avaliação de 150000 servidores parecido com o da iniciativa privada. A secretária de Planejamento e Gestão, Renata Vilhena, contabiliza: "Neste ano, serão distribuídos 130 milhões de reais aos funcionários que cumprirem suas metas".

Ricardo Duarte/RBS
Yeda Crusius, governadora gaúcha: empréstimo de 1 bilhão de dólares

Para um estado que há menos de dez anos amargava uma moratória, é um salto e tanto. "Minas fez o que era apropriado para sua realidade, mas tem lições a ensinar a outros estados e outros países", diz Deborah Wetzel, especialista em setor público que trabalha há duas décadas no Banco Mundial e tem passagem pela Europa e pela Rússia. No primeiro mandato, Aécio chamou a reforma de "choque de gestão". Agora, batizou sua continuidade de "estado para resultados". No novo sistema, em vez de se empilharem dados sobre quantas mães foram atendidas em exames pré-natais, exige-se determinada redução na taxa de mortalidade infantil. Por seu comportamento, Minas vai receber no mês que vem um empréstimo de 976 milhões de dólares do Banco Mundial – o maior já feito para governos estaduais ou o federal no Brasil – e não precisará desembolsar um tostão em contrapartida. Terá de cumprir metas. "Melhorar a máquina pública está virando receita para o sucesso político", diz o sul-africano John Briscoe, diretor para o Brasil no Banco Mundial.

Eis o ponto: sucesso político. Aécio lembra que, de 2003 para cá, arrochou as contas públicas, mas sua popularidade entre os mineiros nunca ficou abaixo de 70%, um índice notável. Talvez por saber que azeitar a máquina e apertar o cinto pode render voto, em sua passagem por Washington Aécio fez questão de jogar confete nos esforços fiscais de sua colega gaúcha, a tucana Yeda Crusius, que comanda um estado com as finanças em frangalhos. Se tudo der certo, Yeda Crusius deve receber já em junho a primeira parcela de um empréstimo total de 1 bilhão de dólares do Banco Mundial. Será o maior da história do banco para o Brasil, superando o de Minas, e também não terá contrapartida financeira. "O Rio Grande do Sul está fazendo agora o que Minas fez há quatro anos", diz Briscoe. Dando certo, a coisa pode virar a receita tucana para tirar estados do abismo financeiro, e – para deixar Aécio com outro motivo para ficar de bem com a vida – a patente será mineira. O programa "estado para resultados" terá dado origem à plataforma "política para resultados".

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