Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 12, 2008

Plástica digital


Os milagres – e os riscos – do Photoshop, programa de retoque
de fotos que faz todo mundo ter pele perfeita e corpo impecável


Bel Moherdaui

Paul Redmond/Wire/Getty Images

Juventude eterna
Jane Fonda, 67 anos: bem tratada, mas com rugas
inevitáveis, que somem completamente na capa
do livro, criando o efeito "boneca" de Photoshop


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Clique, clique, e lá se vão as olheiras. Clique, clique, e desaparecem aquelas dobrinhas de pele que toda mulher detesta. Clique, clique, a cintura se afina, o pescoço se adelgaça, os seios se arredondam. O Photoshop, programa de computador que retoca fotografias, é um verdadeiro milagre. Basta comparar as fotos acima: Madonna ao vivo, notavelmente em forma para quem está às vésperas dos 50, mas com todas as imperfeições da vida real, e Madonna alisada, afilada, rejuvenescida a ponto de se tornar irreconhecível, tal como aparece na revista Vanity Fair. As imagens de perfeição quase sobrenatural são tão poderosas que, em nome da prevenção de doenças como anorexia e outros distúrbios ligados à obsessão com o físico, o conselho de moda da Inglaterra está "sugerindo" aos responsáveis pelas principais revistas femininas do país que discutam até onde é aceitável o tratamento digital de imagem. A hipótese de que o programa miraculoso, desenvolvido há vinte anos, seja usado com moderação parece remota. Fotógrafos, editores de arte e tratadores de imagem garantem: todas as fotos de gente famosa, inclusive aquelas em ocasiões mais informais, têm retoque. "Nem uma lata de refrigerante, hoje, é fotografada sem depois passar pelo Photoshop", avisa o editor de arte paulistano Michel Spitale, que já trabalhou em várias revistas masculinas. "Até foto da Gisele Bündchen tem retoque. Ninguém escapa", concorda o fotógrafo querido da modelo, André Schiliró. "Claro que na foto da Gisele o retoque é mínimo, senão estraga. Mas às vezes é preciso acertar o tom de pele, por exemplo", explica Schiliró.

Excetuando-se, portanto, o caso de Gisele, especialistas ouvidos por VEJA relacionam o que nunca passa sem ajuste. Rugas (no rosto, no pescoço ou nas mãos) costumam ser amenizadas ou mesmo eliminadas, um efeito estapafúrdio em quem tem 67 anos (a idade da atriz Jane Fonda quando publicou o livro em que aparece na capa com uns trinta a menos). Também entram na lista olheiras, veias saltadas, espinhas e manchas de pele – a atriz Renée Zellweger pode ser conferida em três versões: com o rosto avermelhado pela rosácea, maquiada e photoshopada. Quando as fotos mostram tudinho, somem cicatrizes (de cesárea e de plásticas, principalmente), estrias, marcas de depilação e, mais comum do que se pensaria, a assimetria dos mamilos. Também é possível aumentar o bumbum, levantar, diminuir ou expandir os seios, apagar tatuagem, disfarçar a flacidez, tirar o culote e limar gordurinhas sobressalentes. O excesso de intervenções, no entanto, é indesejado pelos artistas do Photoshop. "Redesenhar uma mulher inteira é possível, sim. Mas ela vira outra pessoa. Se fizéssemos isso com uma celebridade, seria fácil perceber", lembra Sérgio Picciarelli, editor de fotografia da Playboy.

Entre as mulheres admiradas pelos especialistas do ramo, pelo pouco trabalho que dão, figuram Ivete Sangalo e Flávia Alessandra. Na ponta oposta, melhor não citar nomes. "Já vi caso de atriz que saiu uma deusa grega no anúncio e ao vivo era uma uva-passa", entrega Adriana Cury, presidente da agência de publicidade McCann Erickson. "O Photoshop é um recurso que a gente usa sempre que precisa que a imagem fique mais bonita. Não usá-lo é como se negar a tratar um doente tendo médico e remédio disponíveis", compara. Beldades seguras de si mesmas assumem que usam a medicação. Natália Guimarães, a linda miss Brasil 2007, confessa já ter pedido ajustes. "Tinha chorado e estava com olheiras e nariz inchado. Já pedi também para clarear a pele, colocar mais brilho, tirar os arrepiados do cabelo. Quanto mais bonita, melhor", argumenta Natália. Sabrina Sato, do alto das pernas espetaculares, considera-se bem moderada. "A coisa mais engraçada que já pedi para arrumarem foi o gogó, porque em uma foto parecia de travesti. Mas, em geral, deixo na mão da equipe. Até porque apareço de biquíni na televisão toda semana e todo mundo sabe como eu sou", brinca.

Doses imoderadas de Photoshop eliminam a expressão, criando um efeito "boneca" que mesmo os leigos logo percebem. "Retoque em foto é como cirurgia estética. É bem feito e na medida certa se ninguém repara que existiu", diz Claudio Carpi, fotógrafo italiano que vive entre o Rio de Janeiro e Paris e já clicou Nicole Kidman, Natalie Portman, Jodie Foster, Hilary Swank e, a mais difícil da sua lista, a francesa Isabelle Adjani – "Ela cortava os negativos das fotos de que não gostava". Negativos, claro, são coisa da pré-história. Antes do Photoshop, retoque era feito com lupa e pincel em um trabalho bem artesanal. "Ou então se usavam truques, como maquiar o corpo e até colar esparadrapo na pele", conta Spitale. Criado por um universitário americano em 1987, o Photoshop é hoje utilizado não só por profissionais da fotografia como por uma legião de amadores – cada vez mais numerosos, dada a multiplicação das câmeras digitais – que não resistem a ajeitar um olho vermelho, girar, cortar o tamanho de uma foto ou eliminar um personagem, principalmente um ex, indesejado. "Certa vez, abrimos nosso estúdio para que as pessoas trouxessem seus filhos para fazer foto de documento. Dias depois uma mãe ligou e perguntou se não dava para retocar a foto do filho porque ele não estava tão lindo quanto era", diverte-se o publicitário Washington Olivetto. A idéia de aprimorar o original não é nenhuma novidade – ou então o período do Renascimento italiano teria reunido a maior quantidade de beldades naturais da história da humanidade. Os problemas acontecem quando se começa a sofrer por não corresponder a padrões de beleza. Não custa lembrar que mulheres e homens que brilham no cinema, na música ou na passarela chegaram lá, inclusive, pelos dotes físicos excepcionais. E ainda têm uma mãozinha do Photoshop.

Deu a louca em Hollywood

Nicole Richie

Mesmo contando com o miraculoso Photoshop para aliviar imperfeições, as estrelas de Hollywood apelam para outros métodos, sobretudo nas semanas que antecedem um tapete vermelho, para alcançar a perfeição – o que, no seu meio, quer dizer ficar magras, muito magras. Entre os expedientes bizarros e quase invariavelmente prejudiciais à saúde a que recorrem estão:

• Remédios para distúrbio de déficit de atenção (DDA). Aceleram o metabolismo e tiram o sono. Em suas incursões a delegacias, Paris Hilton, Britney Spears e Nicole Richie portavam receitas de Adderall, medicamento que pode causar surtos psicóticos, depressão e problemas cardíacos.

• Suco de bruxa, ou alguns dias à base de uma fórmula que leva água, maple syrup (uma calda doce), sumo de limão e pimenta-malagueta. As mais radicais intercalam com chá laxante.

• Vinagre; segundo o Livro Negro das Dietas Secretas de Hollywood, lançado em janeiro, quando vai jantar fora a modelo Cindy Crawford beberica um pouco de vinagre para tirar o apetite.

• Pratos azuis na mesa – porque, segundo pesquisas, azul é a cor que menos estimula o apetite.

• Café para enganar a fome. Atualmente, um copo bem grande é o acessório mais comum entre as celebridades.

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