A técnica haptics permite entrar na tela do computador
para sentir a forma e o movimento dos objetos
Vanessa Vieira
Fotos Divulgação |
Na ponta dos dedos |
No mês passado, foi lançado na Coréia do Sul um telefone celular com um recurso diferente. Os botões para acionar seus comandos são touch screen, como os do iPhone. Ao pressioná-los, no entanto, a sensação é a de estar apertando teclas convencionais, daquelas que se movem. A vantagem para quem utiliza o telefone, segundo o fabricante, a Samsung, é ter certeza de que a tecla foi acionada, o que nem sempre acontece nas telas touch screen. O celular, batizado de Anycall Haptic, usa uma técnica que introduz uma nova gama de sensações ao se interagir com o mundo virtual. A técnica, conhecida como haptics, reproduz o sentido do tato por meio de comandos eletrônicos. Ela permite sentir as propriedades físicas e os movimentos dos objetos representados na tela. No caso do celular, um dispositivo vibratório sob a tela modifica a sensação que se tem ao tocá-la. Quando os aplicativos empregados no computador se encontram conectados ao corpo através de dispositivos como luvas, joysticks, mouses ou estruturas robóticas, as possibilidades da haptics se ampliam para muitos outros campos. A técnica permite que um jogador de videogame, numa cena de luta, sinta os golpes ou tiros que seu personagem recebe na tela no local exato do corpo onde eles foram desferidos. Para isso, basta que o jogador esteja equipado com um colete especial – por onde corre um sistema de compressores de ar – conectado ao computador por um cabo USB. O termo haptics vem do grego haptikós, que significa próprio para tocar, sensível ao tato.
Will Kirk |
Cirurgias mais precisas |
Em seu mais famoso livro, Admirável Mundo Novo, lançado em 1932, o escritor Aldous Huxley já imaginava a técnica haptics. Ele descrevia uma sala de cinema na qual os braços das poltronas tinham um dispositivo que permitia ao espectador sentir no corpo o que acontecia na tela. Quase oitenta anos depois, a previsão de Huxley se concretizou. "Até hoje a realidade virtual nos deu sons e imagens de alto realismo. Agora chegou a vez do tato", diz Mike Levin, vice-presidente da Immersion, uma companhia especializada em interfaces haptics. Os celulares e videogames são apenas a ponta mais vistosa da técnica haptics. Uma das versões da luva CyberTouch, quando conectada ao computador, proporciona a sensação de tocar objetos do mundo virtual graças a uma série de estimuladores que vibram ou pulsam em diferentes intensidades. Equipamentos como este já são usados por designers para criar objetos. Ao desenhar uma cadeira, por exemplo, é possível testar qual o material mais adequado para a estrutura e para o revestimento, ou verificar qual a espessura ideal da cadeira para que várias delas possam ser empilhadas formando o menor volume possível. Tudo isso no mundo virtual. Adaptado, esse tipo de interface poderá ser empregado para transmitir aos astronautas referências táteis das rochas e dos materiais manipulados por robôs espaciais, ou para explorar restos de navios submersos.
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Celular com toque amigo |
No terreno da medicina, a técnica haptics promete grandes avanços nas cirurgias realizadas a distância. Já há no mercado simuladores que permitem aos médicos realizar, de forma virtual, procedimentos como endoscopia e laparoscopia recebendo referências táteis em suas mãos através dos controles dos aparelhos. Na universidade americana Johns Hopkins, em Baltimore, um laboratório especializado em haptics desenvolve um sistema que permite aos médicos, nas cirurgias remotas, avaliar a pressão certa a ser usada no bisturi sobre os tecidos e nos pontos das suturas. Várias universidades americanas já utilizam instrumentos com a técnica haptics nas aulas de física. Movendo-se num ambiente virtual, os alunos podem sentir as propriedades dos objetos e as forças que agem sobre eles. O único empecilho para a disseminação da tecnologia haptics é o alto investimento que ela demanda. Por enquanto, custa muito caro desenvolver os aparelhos que levam o tato ao mundo virtual. Quando a técnica se popularizar, a interação entre as pessoas e seus computadores entrará numa nova era.
Games ultra-realistas |