Diretor da agência afirma que estatal teria descoberto maior reserva do país, com 33 bilhões de barris, 5 vezes mais que Tupi
Petrobras não confirma e diz que tamanho da reserva ainda está em avaliação; ações da empresa disparam em dia negativo na Bolsa
ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO
Segundo ele, o novo campo teria até cinco vezes mais petróleo do que o estimado para Tupi (de 5 bilhões a 8 bilhões de barris de óleo equivalente). Anunciado em novembro, Tupi é o maior campo já descoberto no país.
Lima disse que as informações -transmitidas aos participantes de um seminário e depois reafirmadas aos jornalistas no evento- eram "oficiosas". "Estamos sabendo por canais não-oficiais, mas oriundos da operadora", afirmou. A Petrobras, maior empresa do país, não confirmou as informações.
Em nota, a estatal informou que está seguindo o programa exploratório do bloco BM-S-9 e que "dados mais conclusivos sobre a potencialidade da descoberta [uma área de exploração chamada de Carioca] só serão conhecidos após a conclusão das demais fases do processo de avaliação". O plano de avaliação, em fase final de elaboração, será protocolado na ANP nos próximos dias.
As declarações do diretor-geral da agência reguladora tiveram efeito imediato na Bovespa. Os papéis da Petrobras dispararam. As ações ordinárias (com direito a voto) fecharam em alta de 7,67% -mesmo com a queda de 0,69% do Ibovespa.
Em nota, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) afirmou que "considera prejudicial a divulgação de informações sobre companhias abertas por pessoas que não façam parte de sua administração" e que analisará se tomará providências.
Em nota, no início da noite da ontem, a ANP informou que as declarações de Lima foram de "caráter oficioso" e que as informações sobre o potencial do campo Carioca já haviam sido publicadas na edição de fevereiro da revista "World Oil", numa coluna assinada pelo jornalista Arthur Berman. A "World Oil" é uma revista especializada sediada em Houston.
Especialistas do setor estranharam a maneira como o diretor da ANP divulgou os dados. "Esse não deveria ser o caminho. É a Petrobras, que tem papel em Bolsa, que deveria fazer", disse Giuseppe Bacoccoli, pesquisador da Coppe/UFRJ. "Nesse tipo de situação, algumas pessoas podem ganhar dinheiro, e outras, perder", afirmou Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura.
O novo campo, conhecido pelos técnicos como Carioca ou Pão-de-Açúcar, faz parte do bloco BM-S-9 e fica próximo dos campos de Tupi e de Júpiter -onde a estatal descobriu uma grande reserva de gás natural. Todos fazem parte da camada pré-sal, uma faixa de 800 quilômetros que vai do litoral de Santa Catarina ao do Espírito Santo com enorme potencial de petróleo e gás. Segundo o diretor-geral da ANP, o Carioca seria a maior descoberta de petróleo dos últimos 30 anos em todo o mundo -e o terceiro maior campo do planeta.
Operado pela Petrobras, que tem 45% do bloco, o BM-S-9 também pertence a duas companhias estrangeiras: a britânica BG, com 30%, e a hispano-argentina Repsol YPF, que tem os outros 25%. O bloco é composto por duas áreas exploratórias. Na maior delas foi perfurado um primeiro poço, que resultou numa descoberta anunciada em setembro do ano passado. Na época, a estatal informou que "os reservatórios encontrados têm boas características de produtividade e volumes economicamente viáveis, nas condições geográficas da área (2.140 metros de profundidade e a 273 km da costa)".
No último dia 22, a Petrobras começou a perfuração de um segundo poço, mas ainda não atingiu a camada pré-sal. De acordo com o pesquisador da Coppe/UFRJ, se confirmada, a descoberta redefiniria mais uma vez, em menos de seis meses, o mapa do petróleo brasileiro: "A estimativa inicial era que existisse uma reserva de cerca de 70 bilhões de barris em toda a camada pré-sal. Mas, se só esse novo campo tiver mesmo 33 bilhões de barris, as previsões terão que ser refeitas, para cima".