Seja quem for o presidente eleito pelos paraguaios nas eleições de hoje, uma coisa já é certa: o Brasil deverá enfrentar problemas e reação aos negócios brasileiros no país. Com um PIB que equivale a menos de 1% do PIB brasileiro, o Brasil foi escolhido, especialmente nesta eleição, como o bode expiatório que dá votos. O ponto central da campanha dos dois candidatos que lideram as pesquisas foi como receber mais por Itaipu.
Estas são eleições decisivas para as relações entre os dois países. São sete candidatos, mas, no páreo, estão uma mulher, um ex-bispo e um ex-preso. O ex-general Lino Oviedo, que esteve na prisão por tentativa de golpe, e já morou no Brasil, fez uma campanha mais favorável ao país. Tem pouca chance. Na frente das pesquisas, está quem manteve o discurso mais radical, o ex-bispo Fernando Lugo.
Em segundo lugar, Blanca Ovelar.
O Paraguai tem hoje cerca de 6 milhões de habitantes e 2,8 milhões de eleitores. O voto é obrigatório, mas como não há punição para quem não participa, na prática, ele é mesmo facultativo.
Neste domingo, além de escolher o presidente numa eleição em um único turno, os paraguaios vão eleger também senadores, deputados, parlamentares do Mercosul, governadores e representantes das juntas governamentais.
Com um processo deste tamanho, a previsão é de que só na quarta-feira o resultado seja oficializado.
A candidata da situação, Blanca Ovelar, foi ministra da Educação e é do Partido Colorado, no poder há 60 anos. Ela não era, a princípio, a preferida do partido, mas, nas eleições internas, venceu as contestações. A ex-ministra tem ido razoavelmente bem nas sondagens, garantindo, pelo menos, o segundo lugar. Numa delas, encosta em Fernando Lugo. Para avançar nas pesquisas, teve que mudar seu discurso, juntando-se às críticas ao que Lugo chama de “expropriação da riqueza” do país que seria feita pelo Brasil através da hidrelétrica de Itaipu. Os dois defendem a revisão do tratado de 1975 que estabeleceu as bases para a construção da usina que fornece ao Brasil 30% da nossa energia hidrelétrica.
O líder nas pesquisas, o ex-bispo Fernando Lugo, quase não pôde se candidatar pela demora do seu afastamento da Igreja. Apesar disso, segundo relata o Monitor Eleitoral do OPSA, do Iuperj, ele formou uma ampla coligação que reúne desde “partidos da extrema esquerda até o tradicional Partido Liberal Radical Autêntico”.
Lugo tem excelente entrada nas áreas rurais, onde está a sua base eleitoral.
Também ganhou votos na classe média, com o discurso atacando o Brasil.
Uma provável eleição dele pode representar algo que o Paraguai não conhece: a alternância de poder. A ditadura de Alfredo Stroessner acabou, mas o Partido Colorado permaneceu no poder. Lugo representa também mais problemas para o Brasil.
Nos últimos dias, o exbispo tentou moderar um pouco o discurso, porém, ao longo da campanha, fez declarações incandescentes de ataque ao Brasil. As informações que circulam em Assunção são de que, no seu financiamento de campanha, estão as onipresentes verbas de Hugo Chávez.
Apoiado na renegociação dos tratados de Itaipu e de Yaciretá (com a Argentina), ele promete em números algo como “criação de empregos para 100 mil famílias desocupadas, em trabalhos comunitários e em obras públicas”, “construção de 40 mil casas por ano”, “distribuição de 30 mil lotes de terra para camponeses e indígenas”.
Como ele pretende pagar estas contas? Recebendo mais pela energia de Itaipu.
Em seu mandato, o presidente Nicanor Duarte já tentou fazer mudanças no contrato de Itaipu, não aceitas pelo Brasil. Essa é uma história longa, mas que se resume no seguinte: Itaipu produz 14 mil MW de energia, dos quais cada país tem direito à metade. O Paraguai só precisa de uma pequena parte; assim, vende o resto para o Brasil. A usina foi construída com endividamento, os juros subiram muito no exterior, a dívida virou uma bola-de-neve. A empresa pagou uma grande parte, mas ainda há dívida até o ano de 2023. A maior parte da receita da usina é para pagar a dívida; por isso, o Paraguai recebe um valor por megawatt que considera menor do que merece. Hoje o país recebe, líquido, US$ 350 milhões. Lugo acha que deveria ser, pelo menos, US$ 1,8 bilhão. De qualquer forma, o que já recebe cobre em torno de 30% dos gastos correntes do governo.
Mas a complexa relação Brasil-Paraguai vai além de Itaipu. No país, segundo o Itamaraty, vivem cerca de 450 mil brasileiros. A área de maior desenvolvimento é justamente a de fronteira, e a economia está baseada nos ganhos com Itaipu, na soja, que domina 80% da agricultura e é plantada em grande escala por brasi guaios, e na reexportação para o Brasil. Assim, embora eles acusem o país de imperialismo, que digam que estão para nós como o México está para os Estados Unidos, não podem evitar uma relação harmoniosa para o próprio desenvolvimento da sua economia.
O Paraguai vem crescendo nos últimos anos. Segundo o FMI, foram 4,3% em 2006, e 6,4% em 2007. A projeção para 2008 é 4%. A inflação fechou 2007 em 8,1%.
O país tem um alto índice de ilegalidade e informalidade nos negócios e também um alto índice de pobreza.
A relação com o Paraguai neste início do século XXI será desafiadora. Que os paraguaios façam sua escolha livremente. Para Hugo Chávez, o plantador de conflitos, os desentendimentos entre Brasil e Paraguai virão a calhar para seu projeto de ampliar influência. O Itamaraty deve buscar, na sua longa tradição de convivência pacífica, a receita para superar mais este desafio.
Entrevista:O Estado inteligente
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