Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 12, 2008

Lenha na fogueira-Vitor Hugo Soares


blog Noblat 12/4

O presidente da República fez esta semana uma manobra digna de bambas nos arriscados  "pegas" de automóveis em cidades como Brasília e Salvador. Dirigindo em velocidade, ele pisou no breque e deu meia volta na pista quando já começavam a ganhar pressão os treinos de palanque da ministra  Dilma Rousseff, um dos nomes do peito à sua sucessão. Lula pediu silêncio à ministra-chefe da Casa Civil e "mãe do PAC", em relação ao dossiê vazado do Planalto sobre gastos dos cartões corporativos do ex-presidente Fernando Henrique, da ex-primeira dama Ruth e ex-ministros tucanos.

Com esse "cavalo de pau" estratégico, Lula tenta evitar que se amplie o desgaste da imagem de um dos quadros mais importantes do seu governo e do PT. Principalmente do flagrante insucesso da ministra - em palavras e gestos - na entrevista coletiva em que deveria oferecer respostas sobre o caso do "banco de dados" dos cartões, mas que praticamente se resumiu a uma tentativa desastrada de desqualificar matéria do jornal Folha de S. Paulo sobre o assunto, que somou interrogações graves ainda à espera de explicações convincentes e plausíveis.

Mas o recolhimento proposto a Dilma, ao lado de outras manobras  como a entrevista do vice-presidente Zé Alencar propondo "em nome do povo" a permanência do presidente no poder além dos limites constitucionais de prazo do seu segundo mandato (2010), passa outra incômoda sensação: a de que, no fundo, o que se pretende mesmo é ocultar outro problema, de mais curto prazo, mas com o mesmo poder explosivo.

Segundo zumbidos entre paredes de gabinetes importantes próximos do palácio cheio de infiltrações e "gambiarras" - prestes a ser desocupado para obras de restauração -, é crescente uma preocupação extra nesta história intrincada. A de reforçar a barreira de proteção e evitar que olhares curiosos da imprensa e da oposição se voltem de novo - mais atentamente desta vez - para a personagem identificada na origem do furdunço do dossiê dos cartões: Erenice Alves Guerra, secretária-executiva da Casa Civil, braço direito de Dilma.

Quem acompanhou, de olhos bem abertos, a movimentação de Erenice à sombra da ministra em episódios políticos e crises mais recentes - a convulsão nos aeroportos  seguida da "fritura" impiedosa e do desembarque do Ministro da Defesa, Waldir Pires, do governo, por exemplo - sabe: a executiva instalada no Palácio do Planalto desde que Dilma Rousseff tomou posse do território antes ocupado pelo ex-ministro Jose Dirceu, faz jus ao sobrenome bélico.

Erenice Guerra vem de longe na administração pública ao lado da atual ministra-chefe da Casa Civil. Ela enfeixa nas mãos poder de sobra desde o tempo do setor elétrico, ampliado ultimamente por sua atuação em uma das áreas mais delicadas na estrutura e na estratégia de atuação do governo federal. E Erenice "não é mole" - a expressão é de gente que conhece de perto seu jeito e sua atuação.

Isso pode significar, garantem observadores mais antigos e atentos dos jogos de guerra palacianos no atual governo, desde a apontar o dedo ou gritar ameaçadora na cara de ministro, até conduzir a produção de "dossiê preventivo", para minar ou deixar fora de combate, reais ou imaginários adversários tidos como potencialmente mais difíceis, perigosos ou sem mais serventia para os insondáveis desígnios do poder. 

Os sussurros escutados nesses últimos dias em Brasília, mas que começam a se propagar por outras áreas mais distantes do País, como a Bahia, indicam: se a secretária executiva da Casa Civil, braço direito da mais poderosa ministra do governo - até aqui preservada em redoma de silêncio - fosse levada a falar, poderia entornar de vez o caldo e os planos dos que almejam preservar a ministra Dilma Roussef como alternativa petista de peso e viabilidade à sucessão do presidente Lula.

Que Erenice fale e o quanto antes. Isto é tudo que oposicionistas - principalmente os do DEM - mais desejam abertamente. Muitos petistas rezam também para que isso aconteça: dissimulada, mas ardentemente, enquanto nos bastidores as facções de tudo quanto é lado - da Bahia ao Rio Grande do Sul, de São Paulo a Pernambuco -  se batem e atiçam lenha na fogueira para desgastar e tornar o nome da ministra Dilma carta fora do baralho da sucessão logo em seus primeiros, precipitados e infelizes movimentos de rua e de palanque.

Brasília e o resto do País fervem com os lances mais recentes na guerra reavivada dos cartões corporativos. A chegada às bancas - e aos sites políticos - das grandes revistas semanais, acelera os batimentos na tomada de pulso em círculos do de pau" do presidente Lula na pista molhada escorregadia do Planalto, mais e maiores emoções parecem se insinuar no horizonte.

Ou não, como diria o baiano famoso da MPB.

 

Vitor Hugo Soares é jornalista.

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