blog Noblat 12/4
Mais uma semana chega ao fim sem que o escândalo do dossiê sobre o governo FHC tenha saído de cena. O escândalo não está apenas no dossiê, mas na conduta governista diante dele.
Entre a primeira reação, a de negá-lo, até a última, a de não apenas admiti-lo, mas de considerá-lo "justo e necessário", circularam diversas versões, uma negando ou modificando a outra. Todas proferidas por gente do primeiro escalão. Ministros.
Inicialmente, garantiu-se que o dossiê era uma ficção da revista Veja, empenhada em desgastar o governo. A versão, porém, não se sustentou. Diversas pessoas o haviam visto.
Diante de sua materialidade, o ministro da Justiça, Tarso Genro, admitiu então a existência de um "levantamento de dados", feito pela Casa Civil da Presidência, a pedido do Tribunal de Contas da União. Não contava, porém, com um detalhe: que o TCU o desmentisse. O Tribunal disse à imprensa que jamais solicitara coisa alguma. O governo não se constrangeu com esse desmentido, o que é no mínimo espantoso.
Eis, então, que a ministra Dilma Roussef, chefe da Casa Civil, entra em cena para sustentar que o que havia não era dossiê algum, mas uma base de dados, que havia relacionado informações rotineiras para o Suprim (sistema oficial de controle de despesas com suprimentos de fundos do governo). Também essa versão naufragou.
O formato do dossiê não era o do Suprim. Não havendo mais o que dizer, adotou-se a velha tática segundo a qual a melhor defesa é o ataque. Descobriu-se que o senador tucano Álvaro Dias era um dos informantes da imprensa, algo absolutamente normal nas relações do Legislativo com a mídia. Quis-se então demonizá-lo, como se o delito consistisse em dar ciência ao público da existência de uma anomalia (o dossiê) – e não a anomalia em si.
Eis que a Folha de S. Paulo tem acesso ao documento original, o arquivo da Casa Civil, que informava dia e hora em que o dossiê começara a ser elaborado, e o nome da responsável pelo trabalho, a secretária-executiva e braço direito da ministra, Erenice Alves Guerra. Cai por terra a versão derradeira. O que fazer, então? Volta à cena, então, o ministro da Justiça, Tarso Genro, para sustentar que a elaboração de dossiês é legítima – "e necessária". O contrário do que era dito no início. Nada menos.
O delito estaria apenas no vazamento. Ou seja, fazer dossiês com números manipulados e parciais é legítimo. Idem mencionar à mídia sua existência, para assustar a oposição. O erro está em seu vazamento. Ora, o dossiê foi feito exatamente para ser vazado.
Vazá-lo era parte essencial do plano, que consistia em reunir informações avulsas de despesas do presidente da República anterior e de sua esposa, para intimidar a oposição e fazê-la recuar diante da determinação de investigar as contas do atual presidente.
Esse vaivém de conduta – uma hora nega a existência do dossiê, outra a atribui à própria oposição e, por fim, diante de sua inequívoca materialidade, passa a considerá-lo "correto e necessário" – é, em si, imoral. Mais que o próprio dossiê.