Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 12, 2008

Justiça não vê conspiração na morte de Diana

Por que é difícil de acreditar

Tese conspiratória da morte de Diana resiste,
apesar de a Justiça culpar o motorista bêbado


Duda Teixeira


AFP
Stephen Jaffe/Reuters
Bombeiros cortam ferragens do Mercedes de Diana, em 1997: um em cada três ingleses acredita em assassinato

VEJA TAMBÉM
Exclusivo on-line
Em dia: A morte da princesa Diana

A princesa Diana morreu quando o Mercedes S280 em que estava se espatifou a mais de 180 quilômetros por hora contra um pilar de um túnel em Paris. O motorista perdeu o controle do carro quando tentava escapar da horda de fotógrafos que sempre acompanhava a princesa. Ele tinha ingerido generosas doses de uísque e antidepressivos. O exame do médico-legista mostrou que seu sangue continha uma quantidade quase quatro vezes maior de álcool do que a permitida aos condutores pela lei francesa. Morreram Diana, o namorado, Dodi al Fayed, e o motorista. Nos dez anos desde a fatalidade, essa versão dos acontecimentos foi sustentada por um relatório da polícia francesa, por um inquérito da Corte Real Suprema da Inglaterra e, na última semana, foi reiterada por uma investigação judicial londrina que ouviu 240 testemunhas. A corte responsabilizou a bebedeira do motorista e o assédio dos fotógrafos pelo acidente. Não adianta. Um em cada três ingleses acredita que a história é outra, ainda mais sombria: o príncipe Philip, marido da rainha Elizabeth, não queria que Diana se casasse com um muçulmano (Dodi) e ordenou ao serviço de inteligência inglês que a matasse. Nessa tese conspiratória, espiões e assassinos de aluguel perseguiam o carro no dia fatídico e um dos fotógrafos usou uma luz estroboscópica para cegar o motorista. Foi, portanto, triplo assassinato.

Essa versão delirante deve sua força em primeiro lugar ao pai de Dodi, o egípcio Mohamed al Fayed. Desde o acidente, ele lançou uma campanha contra os membros da família real, aos quais chamou de nazistas e dráculas. Excêntrico, enriqueceu fazendo negócios com Papa Doc Duvalier, o ditador do Haiti na década de 60. Com um empréstimo do sultão de Brunei, comprou a mais famosa loja de departamentos inglesa, a Harrods. Fayed já afirmou que Diana estava grávida, que Dodi comprara um anel de noivado para ela e que seu pai era um rico comerciante – o laudo da necropsia desmente a gravidez, ninguém jamais viu o tal anel e o pai de Fayed trabalhava, na verdade, como bedel de escola.

O que prolonga o inquérito sobre a morte de Diana é a obsessão de Fayed. Paradoxalmente, esse esforço para revirar uma história tantas vezes encerrada pela Justiça encontra eco na opinião pública. Por que é tão difícil acreditar que a princesa do povo morreu num acidente causado por um motorista bêbado que dirigia em excesso de velocidade? Lidar com a perda de um ente querido cria uma resistência natural no ser humano. Esse sentimento pode se intensificar no caso de pessoas jovens e de celebridades, que incorporam muitos dos anseios da população. Diana tinha apenas 36 anos quando morreu. Seu futuro ainda estava por ser escrito. Era uma meiga professorinha que alcançara o sonho de toda jovem inglesa ao casar-se com o príncipe herdeiro. "Na cabeça das pessoas, os grandes ídolos não morrem de causas banais, como uma doença ou um mero acidente de carro", diz a psicóloga Teresa Creusa, especializada em psicologia social na PUC do Rio de Janeiro. Em alguns casos, a reação à frustração é a recusa em aceitar que o herói ou ídolo se foi definitivamente. É o que explica a crença de que o cantor Elvis Presley não morreu e, sim, permanece incógnito nos Estados Unidos há trinta anos. Em Portugal, o movimento sebastianista se recusava a acreditar que o rei Sebastião tinha sido morto na batalha de Alcácer-Quibir, em 1578.

A comoção causada pela morte de Diana levou os ingleses a procurar outra saída, a de forjar uma história repleta de nomes importantes que pudesse estar à altura do sentimento nutrido pela vítima. Fenômeno parecido ocorreu nos Estados Unidos após a morte de John Kennedy, em 1963. Muitos americanos ainda acreditam que o jovial presidente foi morto por mais de um atirador, em um plano que contou com a participação da máfia, do FBI e da CIA. A caprichosa conspiração virou até tema de filme do diretor Oliver Stone. Para os que crêem nessas cons-pirações, a ver-da-de é sem graça demais.

Arquivo do blog