Entrevista:O Estado inteligente

domingo, abril 20, 2008

Grande tendência é desmassificar, diz Toffler

Ethevaldo Siqueira

"Estamos vivendo neste início do século 21 o momento de reversão do processo de massificação que caracterizou a segunda onda, a da revolução industrial. Tudo naquela fase visava à produção em massa. Os sociólogos criaram a expressão Sociedade de Massa. Os meios de transporte passaram a ser conhecidos como meios de transporte de massa. Os meios de comunicação, como comunicação de massa. E a educação virou um simulacro das fábricas, das linhas de produção industrial, com trabalhos repetitivos, para preparar os garotos para uma vida inteira. Em muitos casos, essa ainda é a educação que temos em todo o mundo."

Essa é a visão de Alvin Toffler, em resposta a uma pergunta que lhe fiz, acerca do desafio da educação e do processo de desmassificação nesta fase do desenvolvimento humano. Autor de livros de sucesso mundial como O Choque do Futuro, A Terceira Onda, Mudança de Paradigmas e Riqueza Revolucionária, o famoso visionário e futurólogo foi um dos palestrantes mais aplaudidos do NAB Show 2008, em companhia de sua esposa, Heidi Toffler.

Falando aos jornalistas e participando de um longo debate com ao auditório na quarta-feira passada, em Las Vegas, Alvin Toffler recordou alguns de seus conceitos básicos, como os das três ondas (Sociedade Agrícola, Sociedade Industrial e Sociedade do Conhecimento). Um dos pontos fundamentais de sua revisão é o da necessidade de desmassificação.

"Pessoalmente, não tenho dúvida: a Sociedade Industrial está no fim. Estamos vivendo intensamente a Terceira Onda, que transforma continuamente a economia e a sociedade, não apenas nos Estados Unidos, mas em todo o mundo. Estamos vivendo um intenso processo de desmassificação."

Mas o que significa desmassificar? O mundo de hoje nos mostra muito mais estilos de vida, muito mais estruturas de famílias, muito mais esportes, muito mais diversidade de entretenimento, de trabalhos, de profissões e de indústrias que trabalham para produções de nicho. Isso tudo se reflete até nos meios de comunicação, nas revistas, rádios, jornais e televisão - que passam a se dirigir, cada dia mais, a segmentos, a grupos de indivíduos e não à massa de toda a sociedade.

"A comunicação deixou de ser homogênea, dirigida a toda a população", relembra Alvin Toffler. "Essa tendência não se reflete apenas na mídia, mas em toda a infra-estrutura social. Chamo a isso a ascensão do ?prossumer?, neologismo que cunhei para definir o produtor e consumidor ao mesmo tempo. E note que há uma fronteira difusa entre produção e consumo em muitas atividades."

Alvin Toffler relembra o caso da fotografia, em que dependíamos da aquisição de filmes, de revelação numa loja distante, e, muitos dias depois, as cópias e ampliações encomendadas. Que mudança, com as fotos digitais, em que o cidadão faz quase tudo sozinho e obtém o resultado imediato, sem gastar quase nada, e com a possibilidade de enviar dezenas ou centenas de cópias pela internet. Ou ainda os novos aparelhos que nos permitem monitorar pressão e batimentos cardíacos, em lugar de ter de fazer visitas freqüentes ao médico ou ao hospital. Fazemos um pouco do trabalho do médico. Eis aí a mudança dos ?prossumers?.

O crescimento do volume de informação produzida a cada ano no mundo é algo que impressiona, segundo os dados citados por Alvin Toffler. Em 2006, o mundo produziu 161 exabytes de informação, aí incluídos voz, dados, programas de rádio, imagens, textos, gráficos, filmes, vídeo, mensagens da internet (exceto spams).

Mas o que significam 161 exabytes? Significam o equivalente a 3 milhões de vezes o conteúdo de todos os livros já escritos na história do mundo. Se postos um sobre o outro, esses livros corresponderiam a 12 pilhas de livros cobrindo a distância da Terra ao Sol, ou uma média per capita de 24 gigabytes (GB) para cada um dos 6,58 bilhões habitantes do planeta. Mais impressionante é a velocidade do crescimento desse volume de informação. Assim, em 2010, serão 988 exabytes, ou quase um zettabyte, equivalente a 75 pilhas de livros cobrindo a distância da Terra ao Sol, ou uma fatia de 150 GB para cada habitante da Terra.

Alvin Toffler dá outros números impressionantes sobre anúncios classificados, mensagens publicitárias de todos os tipos, notícias, relatórios e conversações telefônicas via celular em todo o mundo: "Imaginem o impacto global desse volume diário de informações que circula entre os 3,4 bilhões de celulares existentes hoje no mundo."

Alvin Toffler tem uma das taxas de acerto mais elevadas em suas previsões sobre o futuro. Seu primeiro livro de sucesso - O Choque do Futuro - foi publicado em 1971. A Terceira Onda surgiu em 1980. A maior parte de suas previsões e análises, feitas em ambos os livros, ainda têm grande atualidade.

Como foi possível acertar tanto? Toffler diz que sua análise não se baseia em simples tendências, que são critérios muito superficiais para uma boa previsão do futuro da humanidade. "Viajamos - eu e Heidi - por muitos países, e temos tido contatos com as mais variadas culturas. Nessas viagens, conhecemos gente muito inteligente e procuramos aprender com elas."

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