Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, abril 16, 2008

Dora Kramer - Plebiscito estilizado



O Estado de S. Paulo
16/4/2008

Reza o senso comum que o presidente Luiz Inácio da Silva será o grande cabo eleitoral das disputas municipais de outubro.

A realidade, porém, indica cenário inverso: os candidatos a prefeito é que atuarão como garotos-propaganda - para não dizer cabos eleitorais - do presidente Lula.

Isso ficou claro na reunião de prefeitos do PT em Brasília nesta segunda-feira. Ali a orientação foi a de “nacionalizar” ao máximo o debate, para capitalizar os resultados dos programas federais na área social, alardear os benefícios presumidos do PAC e fazer de Lula a figura central dos palanques País afora.

Houve farta distribuição de kits-eleição - uma pasta com todos os argumentos necessários à defesa do governo - , rápidas lições ministradas por técnicos de ministérios sobre os caminhos mais curtos para chegar às verbas federais e, no embalo, a apresentação do tema do terceiro mandato por um dos porta-vozes da idéia, o prefeito de Recife, João Paulo.

Diga-se, em favor dos prefeitos e candidatos petistas, que a tese reuniu mais detratores que defensores. Pelo menos em público.

João Coser, prefeito de Vitória, repudia alterações no calendário eleitoral. Mas é totalmente favorável à vinculação dos candidatos municipais às políticas federais. “Isso faz com que os candidatos petistas saiam na frente, pois têm realizações a mostrar.”

É justamente este o terror da oposição, que desde a semana passada orienta seus candidatos a fazer o oposto: tentar fugir na nacionalização, “puxar” o debate para os temas locais e, com isso, ver se conseguem, se não tirar Lula da cena principal, ao menos dividir com ele algum espaço.

O tom da reunião dos prefeitos em Brasília confirmou os piores temores dos oposicionistas situados no DEM e no PSDB.

Ficou evidente que a idéia do governo é fazer dos candidatos a prefeito coadjuvantes de um turno nacional intermediário entre 2006 e 2010, no qual o presidente Lula buscará chamar o eleitor a fazer um julgamento de seu governo.

Com os discursos unificados, todos os candidatos orientados a bater os bumbos na mesma direção, recursos federais patrocinando a festa e o presidente Lula comandando o espetáculo, realmente soa um tanto ambicioso (irrealista mesmo) o projeto da oposição de deixar a pauta nacional de lado e conversar com o eleitor exclusivamente sobre as respectivas cidades.

Não que haja desinteresse pela temática da província. Ao contrário. O problema vai ser a oposição conseguir se fazer ouvir e mais: arrumar assunto para competir com o PAC.

Afinal de contas, o PAC fala de obras e obras sabem bem ao paladar dos municípios. Não por acaso, Lula elegeu esse tipo de projeto como sua principal bandeira.

Com ela debaixo do braço, desde o início do ano tem cumprido agenda de prefeito. Visita cidades, notadamente as pequenas, e trata desde já de estabelecer um diálogo direto com o eleitor.

Erro de pessoa

O ex-deputado Haroldo Lima, hoje diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo, certamente não se precipitou sobre descobertas da Petrobrás por má-fé.

Como político, agiu conforme a lógica de uma atividade que utiliza a versão sem preocupação rigorosa com fato consumado.

Isso não o absolve do erro crasso. Ao contrário, amplia a culpa do dano aos responsáveis por sua nomeação.

Evidencia a inadequação das indicações políticas para cargos que exigem formação, conhecimento e treino sobre os códigos e mecânica do setor. Quem não tem intimidade com o que faz nem dispõe da visão completa sobre como se faz, em algum momento faz bobagem.

Preventivo

O ministro da Justiça, Tarso Genro, não passou a abraçar a tese de que fazer dossiês é uma prática corriqueira e aceitável, por conversão voluntária.

Trata-se de uma orientação de assessoria jurídica bem direcionada: como o inquérito da Polícia Federal não terá como ignorar a existência do dossiê, a saída é esvaziar preventivamente a natureza venal do ato.

Até a semana passada, o governo não admitia o uso da palavra dossiê. Ontem, numa emissora de rádio, o ministro respondeu à pergunta sobre “o dossiê feito na Casa Civil”, sem contestar os termos usados pelo entrevistador.

Ou seja, além da mercadoria já assume também o local de produção.

Celebridade

Petistas que avaliavam como desastrosa a entrevista da ministra da Casa Civil para negar a fabricação do dossiê, agora andam dizendo que não ficarão surpresos se uma próxima pesquisa de opinião sobre candidatos a presidente apresentar sensível melhoria nos porcentuais de Dilma Rousseff.

Obviamente, não se trata de faro afinado por geração espontânea. Devem ter tido acesso a números que indicam o aumento do grau de conhecimento da população a partir da intensa divulgação do episódio do dossiê.

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