O Estado de S. Paulo |
9/4/2008 |
O governo não chamou a Polícia Federal para entrar no caso do dossiê porque quis, mas porque não tinha outro jeito. Precisava tomar alguma iniciativa depois que a tentativa de culpar a oposição fracassou e que a entrevista da ministra Dilma Rousseff a exibiu desqualificada para o manejo de situações politicamente delicadas. Sem ter para onde ir, o Palácio do Planalto foi bater à porta da PF que no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio da Silva produziu bons dividendos políticos sob o comando de Márcio Thomaz Bastos, cuja condição de exímio criminalista livrou o governo de vários apertos. Thomaz Bastos deixou o Ministério da Justiça, mas, se levou adiante seu plano de freqüentar Brasília quando necessário, não abandonou o posto de conselheiro palaciano para assuntos de natureza legal. Está claro que a decisão de recorrer à PF não partiu nem do ministro da Justiça, Tarso Genro, nem da titular da Casa Civil. O primeiro até a semana passada considerava a hipótese “uma perversão” capaz de “transformar o País em um Estado policial”. E Dilma Rousseff, mesmo depois de a Folha de S. Paulo mostrar o fac-símile do dossiê tal como saiu de um dos computadores da Casa Civil, insistia em manter a investigação sob seu controle direto, no Instituto Nacional de Tecnologia da Informação. No fim de semana alguma cabeça racional fez ver às excelências que socar a ponta da faca só renderia mais ferimentos. Não haveria mais hipótese de convencer as pessoas sobre a credibilidade do resultado da sindicância da Casa Civil. Insistir na versão do espião tucano invasor de computadores petistas em busca de dossiê contra os companheiros de partido para amarrá-lo a um bumerangue e com isso complicar o governo era persistir na inverossimilhança total. Inclusive porque não haveria como responder à seguinte questão: já que estava com a mão na massa, por que o agente tucano não aproveitou para surrupiar informações sobre os gastos do presidente Lula a fim de entregá-los à imprensa ou a alguém da oposição na CPI dos Cartões? Na impossibilidade de criar uma versão verossímil sobre a autoria, optou-se pela única saída possível: pedir à PF que descubra quem entregou o documento à imprensa e defender a licitude da manipulação de dados do Estado para fazer política partidária. Já fez isso uma vez. Em 2006 a PF investigou, não esclareceu o essencial e o País acreditou que o governo não tinha nada a ver com os petistas flagrados comprando dossiê para complicar a oposição. Se deu certo antes, pode dar de novo. Legado É herança do MST e da tolerância do Estado para com a agressão ao direito de propriedade, a consagração da invasão como instrumento de luta, mais recentemente adotado também pelo movimento estudantil. Como o poder público não impõe restrições a esse modo de reivindicação em territórios onde tem ingerência, no campo preservado pela autonomia universitária é que a estudantada se sente mesmo autorizada a invadir - ocorreu na USP ano passado e ocorre agora na UnB - para fazer valer suas vontades. No caso da Universidade de Brasília, os garotos pedem a saída do reitor Timothy Mulholland por causa dos gastos astronômicos com a decoração do apartamento funcional que ele ocupava. A destinação daquele dinheiro é objeto de investigação do Ministério Público. Se acreditam, por isso, que o reitor não pode ficar no cargo, os estudantes teriam várias maneiras de encaminhar o debate que não o recurso à violência de uma invasão. Quando o caso estava quente na imprensa e no Congresso, eles poderiam ter engrossado a movimentação, organizado adesões para exercer pressão de forma civilizada, aí no sentido realmente cívico. Teriam lucrado com o apoio da opinião pública. Agora, são vistos como mimados bagunceiros. Tampouco fica bem o senador Cristovam Buarque, antes um defensor do reitor, agora apelar a Mulholland que se licencie para permitir a desocupação da reitoria. Avaliza, com isso, o método da ocupação. Além de extemporâneo, o ato dos estudantes é um lamentável sinal de despolitização da juventude. Recorrer ao atalho da selvageria como forma de engajamento é coisa de quem não sabe nada sobre o combate democrático - que inclui, obviamente, senso de oportunidade e noção de limite. Bolsa-ditadura O então deputado federal Paulo Delgado foi o primeiro político de esquerda a questionar o pagamento de indenizações a anistiados, antes de os critérios se mostrarem permeáveis a abusos. Delgado criticava a idéia de se transformar a participação na luta política numa forma de ganhar dinheiro e, para exemplificar, criou uma frase síntese: “Se o Nelson Mandela fosse cobrar pelos 30 anos que passou na cadeia, o governo teria de entregar a África do Sul toda a ele”. |
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
quarta-feira, abril 09, 2008
Dora Kramer - O bote salva-vidas
Arquivo do blog
-
▼
2008
(5781)
-
▼
abril
(535)
- FH: Terceiro mandato desmoralizaria Lula e abriria...
- Preços congelados-Reunião do governo sobre gasolin...
- Villas-Bôas Corrêa A sacudidela na oposição
- Everardo Maciel -O pragmatismo como instumento de ...
- AUGUSTO NUNES- O cinqüentão maluquinho
- Clipping Folha de S. Paulo
- Vamos acordar?- Antonio Delfim Netto
- A outra morte anunciada - Alexandre Schwartsman
- Clóvis Rossi - De palavrões à derrota
- Clipping Valor Econômico
- Clipping O Estado de S. Paulo
- A compostura já perdeu a eleição paulistana - José...
- Celso Ming - Petrobrás, efeito Argentina
- Dora Kramer - No altar do próprio umbigo
- Clipping O Globo
- Merval Pereira - O princípio e o fim
- Míriam Leitão - O mundo e a fome
- Luiz Garcia - A duração do horror
- Invasão bilionária
- Míriam Leitão - Efeitos do petróleo
- Merval Pereira - Sinais
- Dora Kramer - A pauta do "povo"
- Clipping 29/04/2008
- Clipping de 28/04/2008
- Clipping do dia 27/04/2008
- Clipping do dia 26/04/2008
- Mariano Grondona
- Joaquín Morales Solá
- Miriam Leitão O velho e o novo
- Merval Pereira Protecionismo
- FERREIRA GULLAR
- DANUZA LEÃO
- CLÓVIS ROSSI
- Discutir a relação
- ''O mestre do inusitado e da sugestão''
- João Ubaldo Ribeiro Itaparica e a questão amazônica
- Daniel Piza
- Alberto Tamer Brasil agrícola incomoda o mundo
- Ethevaldo Siqueira
- Mailson da Nóbrega A difícil marcha para o capital...
- Celso Ming O pior já passou?
- Suely Caldas Ricos e pobres na crise de alimentos
- Dora Kramer Não basta julgar
- As ONGs do bem e do mal
- Raposa Serra do Sol e a soberania nacional
- Relatório mostra que Exército tem de pedir autoriz...
- Empresário denuncia lobby de advogado-
- A pobre e superprotegida Amazônia-Ruy Fabiano (Nob...
- Adriana Vandoni OS RISCOS REAIS SÃO OUTROS
- ELIANE CANTANHÊDE Bolsa Vizinhos
- Miriam Leitão Ocaso da fronteira
- Merval Pereira Visões do poder
- HELIO JAGUARIBE
- Celso Ming Mais uma escassez
- Dora Kramer De empadas e azeitonas
- VEJA Carta ao leitor
- VEJA Entrevista: Edmund Phelps
- Lya Luft
- RADAR
- J. R. Guzzo
- André Petry
- Diogo Mainardi
- Roberto Pompeu de Toledo
- O álcool brasileiro não tem culpa na alta dos alim...
- Índios O conflito em Roraima
- Ciro Gomes e a conspiração da vez
- Eleições americanas Nuvens negras no horizonte d...
- Paraguai O que esperar do novo presidente
- Caso Isabella: defesa acuada
- A prisão do advogado Ricardo Tosto
- Europa libera celulares a bordo
- As células-tronco e o tratamento de males do coração
- O acúmulo de informações no mundo digital
- O terremoto no sudeste do país
- Sociedade A poderosa Ana Paula Junqueira
- Tecnologia Lançado o primeiro microprojetor de ...
- Especial A importância de uma dieta equilibrada
- Ginástica: sem esforço, não dá
- Bons de ter em casa
- Homem de Ferro, com Robert Downey Jr.
- O Sonho de Cassandra, de Woody Allen
- Pós-Guerra, de Tony Judt
- O anjo da História
- Clipping 25/04/2008
- Nós, os imperialistas
- Mais inchaço no gasto público
- Celso Ming - O arroz ameaçado
- Dora Kramer - Homem trabalhando
- Clóvis Rossi - De pé contra a morte
- Eliane Cantanhede - Pós-terremoto
- Merval Pereira - O PT hegemônico
- Míriam Leitão - Tempos incertos
- Operação da PF prende o advogado Ricardo Tosto. Ac...
- A MENTIRA PROPAGADA POR UMA ONG
- FHC entra em lista de 100 maiores intelectuais do ...
- A defesa do bom etanol
- Merval Pereira - Dilema americano
- Míriam Leitão - Hora da mesa
- Eliane Cantanhede - Balança, mas não cai
- Dora Kramer - Com o pé no tubo
-
▼
abril
(535)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA