Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 05, 2008

Dilma À beira de um ataque de nervos

Ministra cancela agenda, convoca coletiva e chega a falar que vazamento é crime federal

Karla Correia

Brasília

Pressionada pela divulgação de novas denúncias apontando a Casa Civil como origem do dossiê sobre os gastos da gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff cancelou agenda externa ontem e, pela primeira vez desde que foi colocada no centro da crise do dossiê, convocou entrevista para dar sua versão sobre os fatos. Uma Dilma claramente nervosa classificou como crime federal o vazamento de dados sigilosos do Palácio do Planalto. Ventilou a possibilidade de invasão de computadores da Casa Civil para explicar como as informações, acessadas por apenas cinco terminais do Planalto, foram supostamente parar nas mãos de parlamentares e, em seguida, da imprensa. E anunciou pedido de auditoria nos banco de dados contendo informações sobre gastos da Presidência pelo Instituto de Tecnologia da Informação (ITI), orgão responsável por certificados digitais no país. Ligado à Casa Civil.

A ministra afirmou que apenas parte das informações divulgadas ontem em reportagem do jornal Folha de S. Paulo batem com o conteúdo do banco de dados da Casa Civil. Dilma questionou sobretudo o conteúdo da coluna contendo observações sobre os gastos, que dá detalhes às despesas registradas no dossiê. Vários registros de locação de veículos, por exemplos, são atribuídos à ex-primeira dama Ruth Cardoso na coluna, que também descreve itens como "vinagre e azeite", "balas recheadas com licor" ou "creme hidratante" nas compras registradas no documento. Segundo Dilma, esse conteúdo teria sido incluído durante a confecção do dossiê.

"Algo periférico"

– Até agora, supusemos que se tratava de algo periférico – disse a ministra, reconhecendo o agravamento da crise com a divulgação dos dados. A perspectiva de uma investigação por parte da Polícia Federal, algo rejeitado até ontem pelo governo, foi citada pela ministra, além da auditoria pelo ITI. Mais cedo, o ministro da Justiça, Tarso Genro, já havia aventado a hipótese, mas sempre na condicional. Somente se alguma autoridade solicitar.

– Na hipótese, que vamos considerar, de esse fac-símile ser sério, foi cometida uma ação criminosa aqui na Casa Civil – reforçou a ministra, que sugeriu a invasão externa de terminais do Planalto. Segundo Dilma, assessores do ITI teriam informado que 90% dos casos de vazamento de informações ocorrem por ação de funcionário com acesso aos dados. A ministra não revelou quantos seriam esses assessores. Mas destacou a participação de senadores da oposição na divulgação das informações.

– O que se sabe é que um senador da oposição recebeu. Foi insinuado que havia o conhecimento de um deputado da situação. Esse, até agora, não apareceu.

Espião "com crachá"

Além de negar que a Casa Civil tenha fabricado um dossiê com dados do governo de Fernando Henrique Cardoso para pressionar a ala oposicionista da CPI dos cartões corporativos, os argumentos apresentados por Dilma Rousseff tentam desqualificar as informações contidas no documento divulgado pela imprensa.

De acordo com a ministra, a maioria dos dados mencionados no dossiê seriam relacionadas a despesas de ex-ministros, que não estariam sujeitas a sigilo sendo, dessa forma, de caráter público.

– Para quê fazer um dossiê com informações de domínio público – ponderou a ministra. Dilma também questionou as "digitais" contidas no dossiê. O documento traria registros que comprovariam sem dificuldade sua origem na Casa Civil.

– Parece aquela história do agente secreto com crachá. Ele é tão obvio que usava crachá. É como se tivesse uma assinatura. Nós não fizemos dossiê. Fizemos banco de dados.

Para Genro, colega não é investigada

Guilherme Botelho

O ministro da Justiça Tarso Genro saiu ontem em defesa de sua colega Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil no episódio do vazamento de um suposto dossiê com informações dos gastos sigilosos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, da ex-primeira-dama Ruth Cardoso e de ex-ministros tucanos com as contas do tipo B. Para o ministro, está havendo uma inversão de valores no caso porque Dilma não precisa ser investigada.

– Há uma sindicância feita pela Casa Civil. A ministra Dilma não é investigada, ela é investigante. Está havendo uma investigação de um fato, que vai se verificar se é delitoso ou não: o vazamento de informações reservadas, presumidamente do computador da Casa Civil – observou Genro, que almoçou ontem no Rio com dirigentes do PT e com o pré-candidato do partido à prefeitura do Rio, Alessandro Molon a quem veio prestar apoio.

Genro admitiu a possibilidade de a Polícia Federal entrar no caso, se houver solicitação nesse sentido.

– Se alguma autoridade, em algum momento, pedir para investigar e fundamentar esse pedido, obviamente a PF vai investigar, seja a pedido do procurador, da ministra, seja a pedido da própria CPI.

O ministro, no entanto, procurou deixar claro que há uma grande confusão de informações acerca do papel da PF no caso.

– Dossiê não é fato determinado, dossiê é conceito. A Polícia Federal não investiga conceitos, investiga fatos determinados. Isso que se chama de dossiê a Casa Civil está demonstrando que é um relatório técnico, para a CPI, para o Tribunal de Contas . Os novos documentos que surgiram, provavelmente também foram retirados ilegalmente da Casa Civil. E quem fez isso, certamente cometeu um delito.

Genro negou que tenha feito juízo político sobre a posição do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que admitiu ter conhecimento do suposto dossiê antes de sua publicação.

– Quando mencionei que seria importante que ele dissesse de onde é que vem, não quero dizer que ele tem obrigação de dizer. Ele é parlamentar, ele diz se quiser.

À tarde, ministro participou do lançamento da Caravana da Anistia, na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

[ 05/04/2008 ]

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