Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 05, 2008

Artistas barrados na imigração americana

Fronteira fechada

Escritor inglês é impedido de entrar nos
Estados Unidos por "torpeza moral"

Chris Moore / Getty Images

Horsley: mistura de fato e ficção


Dias atrás, o escritor inglês Sebastian Horsley desembarcou no aeroporto de Newark, nas imediações de Nova York, com uma agenda cheia. Ele viajou para os Estados Unidos para a festa de lançamento da edição americana de seu livro de memórias, Dandy in the Underworld (Dândi no Submundo). Mas acabou impedido de entrar. Horsley foi detido pela alfândega americana, teve sua roupa e sua cartola revistadas e, ao fim de oito horas de interrogatório, foi expulso do país. O conteúdo de seu livro pesou na decisão. Nele, Horsley dá a entender que, ao longo da vida, gastou mais de 200.000 dólares com o consumo de crack, cocaína e heroína. E teria empenhado soma semelhante na farra com prostitutas. De maneira inusitada, o departamento de imigração americano barrou o autor por sua "torpeza moral".

Nos últimos anos, os países ricos enrijeceram seus controles de fronteira (que o digam os brasileiros recentemente impedidos de entrar na Espanha e na Irlanda). Há razões para isso, como a ameaça do terrorismo e a invasão de imigrantes ilegais. O que assusta é que paranóias e preconceitos peguem carona nessas preocupações legítimas. Se artistas são impedidos de ir e vir com base em condenações morais, é sinal de que as coisas de fato vão mal. Um mundo em que a arte é barrada na alfândega é um mundo pior.

Fred Duval / Wireimage / Getty Images

Amy Winehouse: vetada por uso de drogas

Em 2002, o cineasta iraniano Abbas Kiarostami, a despeito de ostentar em seu currículo a Palma de Ouro em Cannes, teve seu visto negado para participar de um festival em Nova York. Em fevereiro último, a cantora inglesa Amy Winehouse foi proibida de comparecer à cerimônia do Grammy, em razão de seus problemas com drogas. O caso de Horsley é ainda mais fora de lugar, porque nele se confundem realidade e ficção. Conforme a própria crítica americana notou, é preciso ler suas memórias com uma boa pitada de ceticismo. Horsley é um dândi extravagante e por certo exagera suas aventuras. Será que esse zelo moral ainda vai impedir os americanos de ver um show de uma banda com histórico de excessos tão extenso quanto os Rolling Stones?

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