FOLHA DE SÃO PAULO -03/01/11
BRASÍLIA - Nas cerimônias da posse de Dilma Rousseff, no sábado, muitos observaram a abordagem menos emocional dos discursos da nova ocupante do Palácio do Planalto em comparação ao seu antecessor. Seria assim com qualquer político na fase pós-Lula.
O agora ex-presidente comportou-se como uma estrela pop durante a maior parte de seus mandatos. Sua origem humilde, a pouca educação formal e o fato de ser o primeiro operário a ter ocupado o Planalto o investiam de uma certa licença para transgredir protocolos. Petistas e áulicos em geral passaram a enxergar como normais as incivilidades de Lula. Críticas, mesmo as mais leves, eram interpretadas como preconceito.
Esse campo de força em torno do petista impediu maiores repercussões quando num evento recente ele sugeriu que um repórter fosse se tratar ("quem sabe fazer uma psicanálise"). Esse foi apenas um exemplo das muitas grosserias indesculpáveis de Lula. Para matizar a impropriedade dessas atitudes basta trocar as personagens. Imagine o leitor qual seria o impacto se Barack Obama nos EUA sugerisse em uma entrevista que um jornalista procurasse um médico. Teria de passar pelo constrangimento de se desculpar em público.
Desde a sua eleição e até a posse, no sábado, Dilma seguiu de forma estrita o ritual traçado. Não produziu ações fora do estabelecido pela liturgia do cargo. Parece pretender conferir à função mais "gravitas", no sentido latim do termo -mais dignidade, serenidade e nobreza.
É positiva essa mudança de paradigma. A função de presidente da República requer do seu ocupante não só a capacidade de se comunicar com as massas como se o Planalto fosse um programa de auditório eterno. Um pouco de temperança fará bem ao país e à política.
Entrevista:O Estado inteligente
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