governista, o ministro da Previdência, Garibaldi Alves, admitiu na
semana passada - em plena vigência da trégua combinada entre PT e PMDB
até o início de fevereiro - que a relação entre os dois partidos não
tem sido "fácil".
Até aí, apenas corroborou a evidência dos fatos.
Em seguida, porém, fez um prognóstico tão distante da realidade e da
capacidade de avaliação acumulada em décadas de experiência política,
que soou como ironia. "Não acredito que os conflitos se agravem, vem
aí o novo ano legislativo e a tendência é amenizar."
A referência ao "novo ano legislativo" faz algum sentido, mas tem
prazo de validade. A chegada dos novatos de fato pode reduzir a tensão
e amenizar as pressões da bancada "velha" cheia de vícios e de
contenciosos acumulados.
Mas não modificará a natureza do partido. Assim como o PT não mudará
sua visão das coisas: a de que o PMDB bem ou mal tem muito a perder e,
portanto, sempre tenderá a recuar. Por essa avaliação, o parceiro deve
ser contido por insaciável. "Se dermos a eles 90% do governo, ainda
são capazes de reclamar", diz um ministro.
É verdade, mas há um detalhe essencial: o PMDB não é um partido
disciplinado nem disposto a pagar qualquer preço eternamente sem
reagir. Michel Temer, mesmo sendo sido indicado vice-presidente da
República em uníssono, precisa administrar permanentemente a tropa
para não perder sustentação interna.
Recuou agora porque a batalha da comunicação estava perdida, mas
registrou o gesto do governo como uma tentativa de afirmação de
autoridade exclusivamente em cima do partido, como se nas outras
legendas, PT inclusive, não houvesse questionamentos de conduta e
fisiologismo desenfreado.
O revide, ponderam dirigentes, não pode ser dado de maneira
barulhenta. "Isso é papel da oposição." O dos peemedebistas será, mais
adiante, escolher um assunto de apelo popular, mas não do interesse do
governo de firmar posição no Congresso.
O governo já deixou as reformas de lado, mas sempre haverá uma agenda,
uma investigação, uma convocação a abrir campo para a atuação do PMDB
no Congresso, onde é forte.
E é aí onde se darão as batalhas e se expressará a tensão,
contrariando o prognóstico otimista (ou irônico?) feito por Garibaldi
Alves de que dias melhores virão. Não há risco.
Bandeirantes. Alguns tucanos simpatizantes de José Serra reclamam, mas
o propriamente dito não está nem um pouco insatisfeito com a montagem
do governo Geraldo Alckmin. Serra e o governador de São Paulo estão
afinados, inclusive para se ajudar mutuamente.
Eleitoral e partidariamente falando. Serra não decidiu ainda o que
fará da vida. De imediato, pois em médio prazo será candidato ao
governo de São Paulo ou a presidente outra vez.
O caminho para chegar lá pode passar ou não pela presidência do PSDB.
Depende do que conferir mais liberdade para fazer o debate de posição.
Novo modelo. Fala-se, até com ênfase, no governo Dilma Rousseff em uma
mudança nas relações com os movimentos sociais. Não se especificam
ainda quais, mas diante da curiosidade de um interlocutor, um ministro
muito próximo da presidente rebateu enigmático depois de ter dado a
pista: "E você acha que está bom, que não precisa mudar?"
Mais não foi dito, numa demonstração de que as mudanças não são para
ser anunciadas e sim executadas.
A reação agressiva das centrais sindicais por não terem tido da
presidente tratamento de portas abertas ao qual estavam acostumadas
com o antecessor parece indicar que já sentiram o aroma de
distanciamento no ar.
Correção. Os ex-governadores de Minas Itamar Franco e do Paraná Jaime
Lerner informam que não recebem aposentadorias dos Estados. Os nomes
constavam dos dados passados à OAB.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO