Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, abril 16, 2008

Villas-Bôas Corrêa

Farsa ou cambalacho


Jornal do Brasil
16/4/2008

A humilhante degradação ética a que baixou a vida pública nos três poderes, em níveis diversos de envolvimento, justifica a suspeita de um acerto entre os interessados, na rebelião dos mansos do PT para "impor" ao contrafeito presidente Lula o terceiro mandato, como fato consumado que desce pela goela e chega ao estômago para a prazerosa deglutição.

É difícil acreditar que o PT barulhento, obediente e cabisbaixo, que invadiu o governo e ocupou os melhores cargos nos ministérios, autarquias e afins com a sua tropa de choque dos milhares que se consideram sócios da reeleição tenha, tomado a iniciativa de desafiar o presidente com a intentona dos mansos para forçar o Congresso a aprovar a emenda constitucional que aumenta de quatro para cinco anos o mandato presidencial, proíbe a reeleição e escancara a porteira para permitir que o atual mandatário do bis, dispute o mandato da consagração do total de onze anos do exercício da Presidência da República.

Para a mascarada de um irresistível movimento de base, que levante a opinião pública para a marcha puxada pelos milhões de beneficiados pelo Bolsa Família e os milhões que serão atendidos pelas obras do Programa de Aceleração do Crescimento – o PAC – de que cuida a ministra Dilma Rousseff com o desvelo de mãe amantíssima e candidata sob o tiroteio dos petistas

A turma botou as mangas de fora com irreprimível açodamento no encontro, em Brasília, que reuniu cerca de 300 pré-candidatos e prefeitos petistas, para o lançamento oficioso da manobra que mereceu a promoção à tese.

O terceiro mandato que o presidente Lula afirma que não aceitaria em nenhuma hipótese e que romperia com o PT se a legenda que carrega na cacunda insistir na desobediência, espalha-se como tiririca em terreno baldio. E não é possível fingir que não vai além de uma jogada do cordão que cada vez aumenta mais. Nos requebros à frente da escola no primeiro ensaio público, o prefeito de Recife, João Paulo, avisou que levará até o fim da linha a sua pregação pelo terceiro mandato, mesmo que tiver de brigar com Lula. E foi delirantemente aplaudido.

Para escorar a sua rebeldia, desdenhou dos eventuais pretendentes petistas à cadeira de Lula, seu legítimo dono. E citou em primeiro lugar, a ministra-candidata Dilma Rousseff e que, pelo visto, não está com alta cotação na bolsa petista. Os prefeitos que desfilaram na tribuna bateram no tambor do terceiro mandato, com todos os exageros da bajulação. O prefeito de Pitangui (Minas Gerais), jura que Lula realiza um projeto de desenvolvimento como ele nunca viu em 53 anos de butucas atentas.

Ora, se o PT entra na contradança para desafiar o presidente Lula, numa fanfarrice de valentia que não se agüenta em pé sem a escora do primeiro time palaciano, o atalho da contradição leva a duas veredas opostas: ou se trata de um esperneio de excitados pelo risco de perder as suas sinecuras ou de um lance para testar a reação popular.

Pois a evidência que ofusca a vista com a luminosidade da constelação de estrelas em noite de céu transparente é que Lula tem fornecido à suspicácia da oposição todos os motivos para acreditar na trama oficial do terceiro mandato. Nem é preciso queimar neurônios diante do óbvio: Lula é um presidente em plena campanha eleitoral. E o PAC, um pretexto que fornece munição para a cascata dos improvisos das semanas de visita as obras e buracos no país castigado pela epidemia da dengue e que faz fila nos hospitais do sucateado Sistema Único de Saúde (SUS) à espera da vaga na loteria do destino.

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