Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, abril 07, 2008

RUY CASTRO Vozes no ciberespaço

RIO DE JANEIRO - Orson Welles dizia que, certa vez, estivera a um aperto de mão de Napoleão. Queria dizer que, aos seis anos, em 1921, apertou a mão de um homem muito, muito velho que, também em criança, apertara a mão de Napoleão, que morreu em 1821. Improvável, mas possível.
Mais modesto do que Orson, contento-me com o fato de que, a qualquer hora, estou a um telefonema de Carmen Miranda, que morreu em 1955. Para isso, basta telefonar para meu amigo Russo, ex-vocalista e pandeiro do Bando da Lua e que, com a morte recente de Lulu e Harry, é o único sobrevivente entre os antigos músicos de Carmen.
Aos 82 anos, Russo (ele prefere ser chamado de Zeca) está firme, feliz e, há mais de 50, morando no México. Acho um privilégio falar com um homem que cantou durante anos com Carmen, viajou com ela, viu-a rir e chorar, ouviu-a dizer nome feio etc. E que, como todos, nunca superou seu amor por ela.
Outro dia, Russo me mandou um site com vozes ilustres do "seu tempo". Era só clicar. Cliquei e ouvi a dicção estudada de Getúlio, o impagável sotaque de Jânio Quadros, a fala mansa de JK. Uma emoção foi escutar de novo os locutores: Luiz Jatobá, Heron Domingues, Ramos Calhelha. E mais: Ary Barroso comandando seu programa de calouros, Cecília Meireles dizendo um poema e, "quando os ponteiros se encontravam" (ao meio-dia, com sol a pino), Chico Alves cantando seu prefixo, "Boa Noite, Amor".
Outra atração do site é o famoso "primeiro registro da voz humana", pelo americano Thomas Edison, em 1877. Só que, há pouco, descobriu-se que, em 1860, o francês Scott de Martinville já tinha conseguido gravar vozes. Edison sabia de Martinville, mas envernizou a cara-de-pau, patenteou o invento como se fosse seu e ficou com as glórias. É, Zeca, o mundo é dos espertos.

Arquivo do blog