Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, abril 11, 2008

Romances de espionagem - Nelson Motta



Folha de S. Paulo
11/4/2008

Adoro romances de espionagem, e, ouvindo o general Jorge Felix na TV, tentei imaginar uma história em que a segurança de um presidente da América Latina é ameaçada quando um hacker invade os arquivos dos gastos secretos com cartões corporativos ou suborna funcionários da Visa/Mastercard para obtê-los.
É claro que nenhum esquema de segurança repete, a cada viagem, a cada cidade, as mesmas estratégias de vigilância e prevenção de ameaças à segurança do presidente e sua família. Tudo depende da situação e do momento. Então, como as despesas de viagens feitas meses, e até anos, antes poderiam orientar possíveis atentados à integridade do presidente? Hummm...
Talvez se fossem usados para comprar veículos, armamentos e equipamentos. Mas quem acreditaria que as equipes de segurança presidencial fossem para a rua sem o melhor de seus equipamentos, armamentos e veículos? O que eles precisariam comprar de emergência? Um binóculo novo? Um radinho? Um iPhone? Um GPS?
Qualquer conspirador verossímil buscaria outras fontes de informação sobre os homens, armamentos, comunicações, localizações e equipamentos do esquema de segurança para um eventual plano de ataque. Nos cartões, seria perda de tempo: de que valeria saber o que a comitiva comeu e bebeu, os hotéis onde dormiram, os remédios que compraram?
Até se algum louco ousasse planejar o seqüestro de alguém da família do presidente, de que serviriam, para seus planos malignos, despesas passadas dos cartões de seus protetores?
Como esses dados poderiam orientar um seqüestro, uma baderna, um atentado? Nem o mais imaginativo romancista conseguiria convencer o leitor. Não daria nunca um romance de espionagem.

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