Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 19, 2008

Petróleo A polêmica dos poços da Petrobras

Menos papo e mais produção

O governo faz barulho com a descoberta de novas
reservas, mas a exploração da Petrobras emperra


Julia Duailibi

Fábio Motta/AE
Plataforma na Bacia de Campos: produção estagnada e insuficiente para atender ao consumo em alta

Em abril de 2006, o governo torrou 40 milhões de reais em uma campanha publicitária para anunciar que o Brasil tinha passado a produzir mais petróleo do que consome. Mas, apesar da festa toda, a auto-suficiência não ocorreu até agora. A produção da Petrobras emperrou, o consumo aumentou e o déficit na balança comercial de óleos e derivados voltou a crescer. O rombo em 2008 deve atingir 8 bilhões de dólares (veja o quadro). Sobrou pirotecnia também no ano passado, com a descoberta do megacampo de Tupi. À época o governo afirmou que as reservas brasileiras, hoje em 14 bilhões de barris, poderiam subir para 22 bilhões de barris. As primeiras investidas apontam, de fato, para volumes expressivos de gás e petróleo na região. Mas é extremamente cedo para dizer se ou quando essas reservas poderão ser exploradas. "Há muito chute nessas estimativas. Essas descobertas estão se tornando grandes eventos políticos", disse Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura.

Na semana passada, dados referentes à Petrobras foram novamente usados para alimentar pirotecnias políticas. Durante uma palestra no Rio de Janeiro na manhã da segunda-feira 14, Haroldo Lima, diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), declarou, como se estivesse em uma conversa entre amigos, que a Petrobras havia descoberto uma megajazida petrolífera na Bacia de Santos. Segundo ele, prospecções iniciais indicariam que o campo, chamado de Carioca, guardaria reservas de 33 bilhões de barris de petróleo. Se confirmada, seria a terceira maior reserva petrolífera do planeta. Fatos relevantes que envolvem empresas de capital aberto e milhares de acionistas, como é o caso da Petrobras, precisam ser divulgados com rigor e transparência – e nunca com a bolsa em funcionamento, justamente para não favorecer poucos em detrimento da maioria dos investidores. A declaração de Lima, ao contrário, foi feita num horário extremamente inadequado, quando o pregão da bolsa de valores estava aberto, desencadeando imediatamente especulações com as ações da Petrobras, que tiveram uma forte alta de mais de 5%. Lula criticou a precipitação do companheiro Lima, que acabou convocado para depor no Congresso. Diante da especulação que o anúncio provocou, o diretor da ANP saiu-se com a seguinte pérola: "Isso não é um problema meu. É um problema da bolsa de valores. Eu nem sei onde fica essa tal bolsa de valores".

Dida Sampaio/AE
O comunista Haroldo Lima, diretor da Agência Nacional do Petróleo: "Nem sei onde fica essa tal bolsa de valores"

Lima não só falou na hora errada: também falou o que não é verdade. Segundo esclareceu a Petrobras mais tarde, os estudos sobre o potencial da jazida ainda nem foram concluídos. Por enquanto, a empresa tem apenas indícios de que há reservas "expressivas" na camada de pré-sal dessa região, uma área de 800 quilômetros de extensão entre o litoral de Santa Catarina e Espírito Santo. Portanto, ainda não se sabe o real tamanho do campo nem se sua exploração é viável economicamente. O veio petrolífero está a cerca de 7 000 metros abaixo da linha d’água – o equivalente à altura do Aconcágua, ponto mais alto da América do Sul. Analistas estimam, é verdade, que as descobertas na camada de pré-sal, a nova fronteira exploratória do país, poderiam chegar a até 70 bilhões de barris. Com elas, o Brasil estaria entre os dez países com as maiores reservas do planeta. Mas a prospecção será um monstruoso desafio tecnológico e financeiro.

Entre outras lições, a lambança da semana passada exibe o risco de colocar políticos em órgãos que deveriam ter um caráter eminentemente técnico. Filiado ao PCdoB baiano, Lima foi apenas uma das nomeações polêmicas feitas pelo presidente Lula para acomodar políticos da base aliada que haviam ficado sem cargo – Lima perdera a eleição para o Senado em 2002. Ao ganhar de presente a direção da ANP, o político pouco conhecia do setor de petróleo, de questões regulatórias ou de quaisquer outros temas minimamente relacionados ao funcionamento de mercados. Seu foco era outro. Defendia o estatismo, foi contra a lei que acabou com o monopólio da Petrobras e, até pouco tempo atrás, dizia que Mikhail Gorbachev, o líder da abertura soviética, era um "traidor do socialismo". É com esse repertório ideológico que Lima passou a exercer as incumbências complexas de seu novo cargo. O resultado não poderia ser outro.

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