Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 05, 2008

Painel RENATA LO PRETE

- painel@uol.com.br

Eterno clandestino

Dilma Rousseff começou sua entrevista coletiva em tom duro, apontando para um suposto "agente secreto de crachá" que seria responsável pelo vazamento do dossiê com informações sobre gastos de FHC, sua família e membros do governo passado. Lá pelo meio, disse que havia "90%" de chances de os dados terem vazado por alguém da Casa Civil, mas não descartou a hipótese de o sistema ter sido "invadido".
Chamada a esclarecer quantos são os servidores com acesso ao "banco de dados", a ministra tergiversou. Disse que, "antes", muitos tinham acesso, pois "suprimento de fundos era algo trivial". Depois, o número diminuiu. No Planalto, ninguém mais aposta que um dia o "clandestino" deixará a clandestinidade.



Javanês. A tensão evidente de Dilma, bem como as passagens em que a ministra se enrolou nas próprias palavras, trouxeram à memória de um telespectador veterano a célebre coletiva em que Zélia Cardoso de Mello tentou inutilmente explicar o Plano Collor, nos idos de 1990.

Fala, PGR. Diante do impasse criado pela Casa Civil, que nega a confecção do dossiê e diz que, se entrar em cena, a PF investigará apenas o vazamento, a oposição deve bater à porta do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, que recebeu há mais de uma semana representação sobre o caso e ainda não se manifestou.

As pastas. Dilma disse na entrevista que a única das pastas do dossiê com dados sigilosos seria a que se refere a Ruth Cardoso. Mas aquela destinada à chef Roberta Sudbrack também diz respeito a gastos da família presidencial.

Bate-pronto. Não houve "treinamento de mídia" para a entrevista. Dilma esteve pela manhã com Franklin Martins (Comunicação), mas falou rigorosamente o que quis. Tanto que abriu com o desabafo de que o caso do dossiê teria por objetivo atingi-la.

Cronômetro. A assessoria do Palácio do Planalto planejou destinar 15 minutos para as perguntas. Como Dilma falou 20 minutos no preâmbulo, esticaram o prazo por cinco minutos, ao fim dos quais o microfone foi recolhido.

Por um fio. Aliados do Planalto esperam derrota na votação, semana que vem, do projeto que altera o rito das medidas provisórias. O motivo é a forte dissidência na base governista, capitaneada pelo presidente da Câmara, Arlindo Chingalia (PT-SP), e seu escudeiro Cândido Vaccarezza (PT-SP). A única esperança é obter apoio do PSDB.

Sibéria. Chinaglia, que chegou a receber cumprimentos de oposicionistas por sua atuação no caso das MPs, ouviu recentemente de Marcos Lima, assessor do Planalto encarregado de liberar emendas: "Se continuar assim, quando você deixar a presidência vai acabar no Anexo 3". O local reúne os mais acanhados gabinetes da Câmara.

Continuidade. Durante almoço na quinta-feira com a bancada federal do PR, o governador Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou que as administrações de Fernando Henrique e de Lula passarão para a história como "uma só".

A dois. A negociação para uma aliança entre PT e PMDB na eleição paulistana já incluiu uma conversa entre a própria Marta Suplicy e o ex-governador Orestes Quércia.

Pires. A governadora Ana Júlia (PT-PA) pediu ao Planalto R$ 66 milhões para investimentos de infra-estrutura em Belém, que em janeiro será sede do Fórum Social Mundial. Dos cofres do Estado já saíram R$ 195 milhões para melhorias na capital.

Em bloco. A AGU suspendeu ou aplicou multa a 24 advogados de seus quadros, de Roraima e Rondônia. Eles são acusados de exercício ilegal de advocacia privada.

Tiroteio

Foi uma explicação confusa, com tropeços no vernáculo e um nervosismo só disfarçado pela arrogância que Deus lhe deu.

Do senador ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB-AM), sobre a entrevista coletiva de Dilma Rousseff para falar sobre o dossiê dos gastos de FHC.

Contraponto

Fanatismo é isso aí No final de 2007, um grupo de parlamentares capixabas se reuniu para assistir à final do Mundial Interclubes entre Barcelona e Boca Juniors. O encontro se deu no Triângulo das Bermudas, bar de Vitória conhecido por atrair torcidas. Ali, o senador Gerson Camata (PMDB) dividia mesa com o vereador Antonio Pelaes (PMDB).
-Depois dizem que nós, brasileiros, é que gostamos de futebol. Quem gosta é japonês!-, comentou Pelaes.
Camata não entendeu bem, e Pelaes então explicou:
-São quase duas da manhã! Olha só o estádio lotado!-, concluiu o vereador, apenas se esquecendo de levar em conta a diferença de fuso horário entre os dois países.

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