clicar
O Correio Braziliense deste domingo traz mais detalhes de uma informação que foi publicado no Estadão no dia 29 de março: na gênese do dossiê está o núcleo duro duríssimo do governo — vale dizer: Lula sempre soube de tudo. Textos de Daniel Pereira e Gustavo Krieger, de que seguem trechos, trazem mais detalhes da história. Comento depois:
Um dossiê palaciano
A blindagem do governo à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, tem razões que vão muito além da própria Dilma. A montagem de um dossiê, ou “banco de dados” como prefere o governo, com gastos da Presidência da República na gestão do tucano Fernando Henrique Cardoso é uma operação maior que a Casa Civil. Foi decidida pela coordenação política do governo, com conhecimento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os dados sobre despesas da gestão FHC foram pensados como a principal munição governista na guerra em torno dos cartões corporativos. Uma espécie de bomba atômica. A idéia nunca foi apresentá-los publicamente, mas usá-los para intimidar a oposição e impedir que PSDB e DEM investigassem as contas do Palácio do Planalto no governo do PT.
(...)
A coordenação — da qual fazem parte Dilma e os ministros de Comunicação Social, Franklin Martins, e de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, entre outros — avaliou que a guerra dos cartões era uma “crise de mídia”. A conclusão foi que a oposição usaria as denúncias e a ameaça de criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para desgastar o governo. Os ministros avaliaram que o governo tinha errado em crises anteriores por se deixar acuar e que desta vez deveria reagir. Em férias no litoral paulista, Lula não participou do encontro, mas acompanhou a distância e foi informado de tudo.
Tática e os funcionários
A reação do governo na crise dos cartões teve duas frentes. Na pública, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), antecipou-se e colheu assinaturas para abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Agiu para deixar a oposição sem discurso. Ao mesmo tempo, nos bastidores, iniciava-se a coleta de informações sobre o governo FHC. A operação começou logo depois do carnaval. O trabalho foi coordenado pela secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, braço direito da ministra Dilma. Contou com a participação, entre outros, de Maria de La Soledad Bajo Castrillo (chefe de gabinete de Erenice), Norberto Temóteo Queiroz (secretário de Administração da Casa Civil), Gilton Saback Maltez (diretor de Orçamento e Finanças da Casa Civil) e José Aparecido Nunes Pires (secretário de Controle Interno da Presidência).
(...)
A determinação era reunir munição para a guerra fria que se desenhava com a oposição sobre as despesas com cartões corporativos. E usar tal arsenal para impedir a instalação da CPI ou, na pior das hipóteses, fechar um acordo para esfriar as investigações ou mantê-las sob controle. Na avaliação dos governistas, o imbróglio criado não é pertinente, porque seria cercado de hipocrisia, uma vez que nos dois governos os gastos estariam dentro da normalidade, ressalvadas irregularidades pontuais. “É muita inocência achar que vão encontrar gastos da dona Marisa com botox ou compra de uma Ferrari por um filho do Lula”, diz um ministro.
A estratégia governista desandou porque o suposto dossiê vazou. O material era para consumo interno, para negociação de bastidor.
Assinante lê mais aqui
Voltei
Como se vê, depois de tantas negativas, idas e vindas, confirma-se o que VEJA publicou na primeira reportagem, há três semanas: era mesmo um dossiê para intimidar a oposição. E a tramóia foi uma decisão de governo, não fruto de qualquer açodamento. Já publiquei aqui faz tempo e reafirmo: quem, originalmente, teve a idéia genial de fazer a “guerra na mídia” para intimidar as oposições foi Franklin Martins. Este mago da comunicação & marketing passa a seus pares a impressão de que pode antever cada passo do jornalismo. De fato, ele pauta muita gente. Mas é menos sábio do que imagina. E Lula e Dilma estão percebendo isso a duras penas.
Mesmo fora do governo, quando ainda comentarista político, Franklin já lamentava a comunicação deficiente do governo. Achava que o Planalto ficava a reboque de questões levantadas pela oposição, sem contra-atacar. Ele trabalha em Brasília há bastante tempo. Sabe que há muita gente atrás de documentos. Se vocês se lembram, antes de ficar evidente que havia a tramóia do dossiê, informações sobre gastos supostamente exóticos do governo FHC já pingavam nas redações. Origem: parlamentares da base que tinham tido acesso ao dossiê. Principal agente nesse processo: Romero Jucá (PMDB-RR), o líder do governo no Senado.
Abaixo, vocês verão que a PF pode não se conformar em apenas apurar quem “vazou” o dossiê. Aliás, que se note: isso que o governo chama de “vazamento” foi só a denúncia de um crime político. Vazamento é o que praticavam alguns parlamentares da base aliada, que já haviam começado a usar informações do documento preparado na Casa da Mãe Dilmona. Todo jornalista político de Brasília sabe disso. E essa é uma das razões por que as desculpas oficiais não colam.
Um dossiê palaciano
A blindagem do governo à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, tem razões que vão muito além da própria Dilma. A montagem de um dossiê, ou “banco de dados” como prefere o governo, com gastos da Presidência da República na gestão do tucano Fernando Henrique Cardoso é uma operação maior que a Casa Civil. Foi decidida pela coordenação política do governo, com conhecimento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os dados sobre despesas da gestão FHC foram pensados como a principal munição governista na guerra em torno dos cartões corporativos. Uma espécie de bomba atômica. A idéia nunca foi apresentá-los publicamente, mas usá-los para intimidar a oposição e impedir que PSDB e DEM investigassem as contas do Palácio do Planalto no governo do PT.
(...)
A coordenação — da qual fazem parte Dilma e os ministros de Comunicação Social, Franklin Martins, e de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, entre outros — avaliou que a guerra dos cartões era uma “crise de mídia”. A conclusão foi que a oposição usaria as denúncias e a ameaça de criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para desgastar o governo. Os ministros avaliaram que o governo tinha errado em crises anteriores por se deixar acuar e que desta vez deveria reagir. Em férias no litoral paulista, Lula não participou do encontro, mas acompanhou a distância e foi informado de tudo.
Tática e os funcionários
A reação do governo na crise dos cartões teve duas frentes. Na pública, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), antecipou-se e colheu assinaturas para abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Agiu para deixar a oposição sem discurso. Ao mesmo tempo, nos bastidores, iniciava-se a coleta de informações sobre o governo FHC. A operação começou logo depois do carnaval. O trabalho foi coordenado pela secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, braço direito da ministra Dilma. Contou com a participação, entre outros, de Maria de La Soledad Bajo Castrillo (chefe de gabinete de Erenice), Norberto Temóteo Queiroz (secretário de Administração da Casa Civil), Gilton Saback Maltez (diretor de Orçamento e Finanças da Casa Civil) e José Aparecido Nunes Pires (secretário de Controle Interno da Presidência).
(...)
A determinação era reunir munição para a guerra fria que se desenhava com a oposição sobre as despesas com cartões corporativos. E usar tal arsenal para impedir a instalação da CPI ou, na pior das hipóteses, fechar um acordo para esfriar as investigações ou mantê-las sob controle. Na avaliação dos governistas, o imbróglio criado não é pertinente, porque seria cercado de hipocrisia, uma vez que nos dois governos os gastos estariam dentro da normalidade, ressalvadas irregularidades pontuais. “É muita inocência achar que vão encontrar gastos da dona Marisa com botox ou compra de uma Ferrari por um filho do Lula”, diz um ministro.
A estratégia governista desandou porque o suposto dossiê vazou. O material era para consumo interno, para negociação de bastidor.
Assinante lê mais aqui
Voltei
Como se vê, depois de tantas negativas, idas e vindas, confirma-se o que VEJA publicou na primeira reportagem, há três semanas: era mesmo um dossiê para intimidar a oposição. E a tramóia foi uma decisão de governo, não fruto de qualquer açodamento. Já publiquei aqui faz tempo e reafirmo: quem, originalmente, teve a idéia genial de fazer a “guerra na mídia” para intimidar as oposições foi Franklin Martins. Este mago da comunicação & marketing passa a seus pares a impressão de que pode antever cada passo do jornalismo. De fato, ele pauta muita gente. Mas é menos sábio do que imagina. E Lula e Dilma estão percebendo isso a duras penas.
Mesmo fora do governo, quando ainda comentarista político, Franklin já lamentava a comunicação deficiente do governo. Achava que o Planalto ficava a reboque de questões levantadas pela oposição, sem contra-atacar. Ele trabalha em Brasília há bastante tempo. Sabe que há muita gente atrás de documentos. Se vocês se lembram, antes de ficar evidente que havia a tramóia do dossiê, informações sobre gastos supostamente exóticos do governo FHC já pingavam nas redações. Origem: parlamentares da base que tinham tido acesso ao dossiê. Principal agente nesse processo: Romero Jucá (PMDB-RR), o líder do governo no Senado.
Abaixo, vocês verão que a PF pode não se conformar em apenas apurar quem “vazou” o dossiê. Aliás, que se note: isso que o governo chama de “vazamento” foi só a denúncia de um crime político. Vazamento é o que praticavam alguns parlamentares da base aliada, que já haviam começado a usar informações do documento preparado na Casa da Mãe Dilmona. Todo jornalista político de Brasília sabe disso. E essa é uma das razões por que as desculpas oficiais não colam.