Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 12, 2008

MILLÔR

Observações ociosas sobre
o discurso. Pelo Lula

Um discurso é um pronunciamento político, sobretudo quando afirma o contrário. De qualquer coisa, naturalmente. O discurso pode ser de qualquer tamanho, preferivelmente sem tamanho e, transmitido pelos meios de comunicação atuais (que me permitem falar todas as línguas em português), podendo atingir o mais distante cidadão comum (as zelites não me entendem), sobretudo onde ele não está.

HOMO FABER, SAPIENS, LUDENS

O que vale mais no ser humano é sua capacidade de invenção. Sobretudo quando ultrapassa o imaginável. E atinge o ini. Vendo essas viagens interespaciais, eu jamais penso que vá se encontrar qualquer coisa mesmo longinquamente semelhante ao que existe na terra. Procuro imaginar só o inconcebível. Algo que não seja nem ar, nem terra, nem fogo, nem água. E algum sentido extraordinário, que não seja visão, audição, gosto, tato. Um ser que não seja pessoa, nem carne, nem sangue, que não respire nem ande. E que, no entanto, como única semelhança conosco, de alguma forma – seja. Mas como é que posso explicar o fogo a quem nunca viu o fogo? E, se mostro o fogo a um limitado ser humano, claro que não saberá imaginar outra coisa que não seja o fogo. É preciso que eu o molhe, lhe jogue muita água em cima, pra apreender a água. Entenderá então, água é uma espécie de antifogo. Depois terei que lhe mostrar a terra e lhe ensinar a respirar o ar, e lhe dar noção de gosto e fazê‑lo ouvir o som. Mas, no sentido mais amplo, nenhum progresso – ele achará que tudo é ar, som, água, fogo, visão. Pois não é.

Aqui estou eu diante de uma invenção inteiramente humana – sento numa mesa de pôquer e faço um Royal-Straight‑Flush (em português: róial strit flésh). Veja bem, repare – o perfume é uma decorrência natural do olfato e da flor, o assado vem direto da carne e do fogo, a roupa, da pele e do frio. Mas as cartas de jogar e, conseqüentemente, o Royal – nada na natureza conduz a isso. E, no entanto, eu já vi adultério e briga e roubo e sangue, em mesas em que um homem chorou uma última carta e viu surgir o ás final, vermelhinho vermelhinho, de que ele necessitava pra fechar o seu Róial. O coração bate violentamente. Aqueles retângulos de cartão pintado alteram momentaneamente o próprio fluxo da vida. Quase impossível manter o pôquer-face.

Um Royal‑Straight‑Flush é uma das coisas tiradas pelo homem da pura imaginação. De suas entranhas metafísicas.

E o que mais completamente substitui a paixão carnal e o amor de mãe.

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