Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 19, 2008

Exército O general que fala grosso

Selva é com ele

Comandante da Amazônia ataca a política
de fazer reservas indígenas gigantescas


Victor De Martino

Fabio Rossi/Ag. O Globo
Augusto Heleno, no Clube Militar: a política indigenista é "lamentável"

O general-de-exército Augusto Heleno Pereira é um dos poucos comandantes brasileiros com experiência em combate. Foi o primeiro chefe da missão de paz da ONU no Haiti. Já ocupou alguns dos postos mais altos da burocracia do Exército. Hoje, é o comandante militar da Amazônia. Na semana passada, o general Heleno usou todo o seu prestígio para atacar a política indigenista do governo Lula. Durante uma palestra no Clube Militar, no Rio de Janeiro, declarou que a demarcação de reservas indígenas na fronteira do país ameaça a soberania nacional. E foi além. O comandante da Amazônia chamou a atual política indigenista de "lamentável" e "caótica", por impedir não-índios de entrar em reservas e por abandonar as comunidades indígenas à miséria depois da demarcação. As críticas, claro, repercutiram mal, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva exigiu que o militar fosse disciplinado. Há poucas chances de que isso ocorra e nenhuma de que surta efeito.

O general Heleno fala com liberdade porque está no topo da carreira, não depende mais de promoções e pode vestir o pijama quando quiser. Em momentos como esse, é comum que os militares soltem a língua. Em 1995, o general Murillo Tavares da Silva malhou um projeto de indenização das vítimas do regime militar. Dois anos antes, seu colega Benedito Leonel invocou a "cólera das legiões" para exigir reajuste nos soldos. Eles, como Heleno, falaram respaldados por seus companheiros de caserna. As Forças Armadas estão justificadamente insatisfeitas com a política da União de entregar territórios vastos e contínuos aos índios, como no caso da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima. Prova disso é que, dois dias depois do discurso de Heleno, outro general, Luiz Schroeder Lessa, publicou um artigo no qual classifica a criação de reservas na fronteira da Amazônia como "um dos maiores atentados à soberania brasileira com o apoio ostensivo do presidente Lula e a omissão criminosa de seu governo". Do ponto de vista militar, a avaliação é correta.

Os militares sabem que a Amazônia é uma região de difícil vigilância. De população rarefeita e fronteiras secas na selva fechada, ela se torna extremamente porosa e vulnerável. A doutrina militar defende desde sempre a ocupação e a civilização da Amazônia como a melhor forma de protegê-la. A ameaça de invasão da região por traficantes e terroristas estrangeiros, como os das Farc, é real. Só quem pode contê-la é o Exército. Por isso, é de bom senso sempre ouvir o que os generais têm a dizer sobre a Amazônia.

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