Por exemplo: se aceitar, Aécio não vai sozinho. Entra junto com prefeitos e parlamentares que não desfalcariam apenas as fileiras do PSDB. Esvaziariam também outras legendas sob a área de influência do governador dentro e fora do Estado.
O assunto é tratado num grau de minúcia tal que já se discute no PMDB se o melhor seria Aécio "levar" os políticos ou se daria uma demonstração de força política mais substanciosa se fosse "levado" por um grupo multipartidário de dissidentes.
Outro ponto posto à mesa é a necessidade de Aécio Neves renunciar ao mandato de governador em setembro de 2009, por causa do prazo de filiação e da interpretação do Tribunal Superior Eleitoral de que o mandato pertence ao partido e não ao eleito.
Antes dessa decisão do TSE, bastaria a transferência partidária um ano antes da eleição. Agora, como a nova regra diz que o titular do mandato não é Aécio e sim o PSDB, ele precisaria deixar o cargo um ano e quatro meses antes do prazo. Na prática, até menos, pois ele teria mesmo de se desincompatibilizar.
Do ponto de vista administrativo, isso não seria problema: o governo ficaria nas mãos da dupla Antonio Anastasia, o vice, e Andréa Neves, a irmã.
Complicação haveria na transferência de parlamentares que não têm a mesma condição de abrir mão dos respectivos mandatos. É uma questão em exame. Não resolvida, como uma série de outras nessa relação abordada em público apenas na base de evasivas.
Justamente porque ambas as partes desconversam quando o interlocutor manifesta um interesse, digamos, mais formal pelo tema, surpreende o fato de existirem tantos pontos de entendimento já em discussão entre Aécio Neves e o PMDB.
Isso significa que o contrato está pronto, no aguardo apenas do melhor momento para ser sacramentado e anunciado?
Não. Sob a ótica do PMDB, no momento o governador de Minas está apenas se movimentando para exibir ao PSDB sua capacidade de atrair aliados, e tentar convencer os correligionários de que tem perfeitas condições de disputar com o governador de São Paulo, José Serra, a legenda de candidato do partido à Presidência da República em 2010.
Enquanto aguarda que Aécio passe à fase dos "sinais externos", indicando que a saída do PSDB é algo além de uma hipótese, a cúpula pemedebista vai deixando o terreno preparado para o que der e vier.
Tratando, por exemplo, de construir um ambiente com Aécio que dê a ele um mínimo de segurança sobre a candidatura, dado o histórico do PMDB de, na última hora, deixar de lado os seus em troca de ofertas melhores.
A preliminar essencial é perceber quais são realmente os planos do presidente Luiz Inácio da Silva (o principal partido aliado a Lula não acredita na "pegada" eleitoral de Dilma Rousseff) e se ao partido interessa embarcar na mesma canoa.
Um pemedebista bem pragmático (uma redundância, pois) diz o seguinte: "A questão será: iremos juntos ou diremos bye, bye, Lula? A aliança permanece ou termina em junho de 2010, junto com a convenção para escolher o candidato?".
O PMDB vê com ceticismo, embora não descarte, a possibilidade de Lula vir a apoiar Aécio numa coligação, mas a uma certeza já chegou: não há hipótese de o PT concordar com um plano desse.
Na verdade, essa é a única coisa certa. Tudo o mais, quando se trata de PMDB e Presidência da República, é uma obra aberta em magnífica avenida de amplas negociações.
Conta corrente
Por ordem de preferência, em São Paulo o PMDB tende a apoiar a ministra Marta Suplicy em primeiro lugar, o prefeito Gilberto Kassab em seguida e o ex-governador Geraldo Alckmin entra como última opção na disputa pela prefeitura.
O problema com Alckmin não é pessoal, é de carência de máquina. Marta tem a federal; Kassab conta oficialmente com a municipal e no paralelo com a estadual.
Pandora
No começo, era quase uma formalidade disciplinar e, objetivamente, a repreensão do presidente Lula ao comandante da Amazônia, general Heleno Augusto, por causa das críticas à política indígena, não teria potencial para mais.
Mas a reação dos presidentes de clubes militares politiza e desvia o episódio do rumo inicial. Dá a nítida impressão de que aguardavam um pretexto para externar suas insatisfações com o governo. Falam de índios, mas parecem querer mesmo é falar mal do presidente.
Exercício livre a qualquer cidadão. Menos aos militares, cuja intromissão na política não é experiência que o Brasil suporte repetir. O ponto final no tom de embate de fardados em direção ao Planalto é o desfecho ideal.