Entrevista:O Estado inteligente

domingo, abril 20, 2008

Dora Kramer Cartas na mesa

O convite ainda não foi aceito nem recusado, mas os termos da proposta do PMDB ao governador de Minas Gerais, Aécio Neves, para que ele saia do PSDB, já são discutidos no detalhe.

Por exemplo: se aceitar, Aécio não vai sozinho. Entra junto com prefeitos e parlamentares que não desfalcariam apenas as fileiras do PSDB. Esvaziariam também outras legendas sob a área de influência do governador dentro e fora do Estado.

O assunto é tratado num grau de minúcia tal que já se discute no PMDB se o melhor seria Aécio "levar" os políticos ou se daria uma demonstração de força política mais substanciosa se fosse "levado" por um grupo multipartidário de dissidentes.

Outro ponto posto à mesa é a necessidade de Aécio Neves renunciar ao mandato de governador em setembro de 2009, por causa do prazo de filiação e da interpretação do Tribunal Superior Eleitoral de que o mandato pertence ao partido e não ao eleito.

Antes dessa decisão do TSE, bastaria a transferência partidária um ano antes da eleição. Agora, como a nova regra diz que o titular do mandato não é Aécio e sim o PSDB, ele precisaria deixar o cargo um ano e quatro meses antes do prazo. Na prática, até menos, pois ele teria mesmo de se desincompatibilizar.

Do ponto de vista administrativo, isso não seria problema: o governo ficaria nas mãos da dupla Antonio Anastasia, o vice, e Andréa Neves, a irmã.

Complicação haveria na transferência de parlamentares que não têm a mesma condição de abrir mão dos respectivos mandatos. É uma questão em exame. Não resolvida, como uma série de outras nessa relação abordada em público apenas na base de evasivas.

Justamente porque ambas as partes desconversam quando o interlocutor manifesta um interesse, digamos, mais formal pelo tema, surpreende o fato de existirem tantos pontos de entendimento já em discussão entre Aécio Neves e o PMDB.

Isso significa que o contrato está pronto, no aguardo apenas do melhor momento para ser sacramentado e anunciado?

Não. Sob a ótica do PMDB, no momento o governador de Minas está apenas se movimentando para exibir ao PSDB sua capacidade de atrair aliados, e tentar convencer os correligionários de que tem perfeitas condições de disputar com o governador de São Paulo, José Serra, a legenda de candidato do partido à Presidência da República em 2010.

Enquanto aguarda que Aécio passe à fase dos "sinais externos", indicando que a saída do PSDB é algo além de uma hipótese, a cúpula pemedebista vai deixando o terreno preparado para o que der e vier.

Tratando, por exemplo, de construir um ambiente com Aécio que dê a ele um mínimo de segurança sobre a candidatura, dado o histórico do PMDB de, na última hora, deixar de lado os seus em troca de ofertas melhores.

A preliminar essencial é perceber quais são realmente os planos do presidente Luiz Inácio da Silva (o principal partido aliado a Lula não acredita na "pegada" eleitoral de Dilma Rousseff) e se ao partido interessa embarcar na mesma canoa.

Um pemedebista bem pragmático (uma redundância, pois) diz o seguinte: "A questão será: iremos juntos ou diremos bye, bye, Lula? A aliança permanece ou termina em junho de 2010, junto com a convenção para escolher o candidato?".

O PMDB vê com ceticismo, embora não descarte, a possibilidade de Lula vir a apoiar Aécio numa coligação, mas a uma certeza já chegou: não há hipótese de o PT concordar com um plano desse.

Na verdade, essa é a única coisa certa. Tudo o mais, quando se trata de PMDB e Presidência da República, é uma obra aberta em magnífica avenida de amplas negociações.

Conta corrente

Por ordem de preferência, em São Paulo o PMDB tende a apoiar a ministra Marta Suplicy em primeiro lugar, o prefeito Gilberto Kassab em seguida e o ex-governador Geraldo Alckmin entra como última opção na disputa pela prefeitura.

O problema com Alckmin não é pessoal, é de carência de máquina. Marta tem a federal; Kassab conta oficialmente com a municipal e no paralelo com a estadual.

Pandora

No começo, era quase uma formalidade disciplinar e, objetivamente, a repreensão do presidente Lula ao comandante da Amazônia, general Heleno Augusto, por causa das críticas à política indígena, não teria potencial para mais.

Mas a reação dos presidentes de clubes militares politiza e desvia o episódio do rumo inicial. Dá a nítida impressão de que aguardavam um pretexto para externar suas insatisfações com o governo. Falam de índios, mas parecem querer mesmo é falar mal do presidente.

Exercício livre a qualquer cidadão. Menos aos militares, cuja intromissão na política não é experiência que o Brasil suporte repetir. O ponto final no tom de embate de fardados em direção ao Planalto é o desfecho ideal.

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