Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, abril 10, 2008

Depor armas



EDITORIAL
O Globo
10/4/2008

Diante da recusa das Farc a aceder a qualquer princípio humanitário, a missão médica enviada pela França à Colômbia na esperança da libertação da ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt - debilitada e com a vida em risco - voltou de mãos vazias. Esse fato só confirma o caráter criminoso e cruel da narcoguerrilha, criada em 1964 com o objetivo de tomar o poder pela luta armada, na Colômbia, mas que, com o passar do tempo, se tornou uma organização criminosa, financiada por tráfico de drogas, seqüestros e extorsão.

As recentes libertações de alguns reféns, depois de uma mediação interessada de Hugo Chávez, e as cartas que eles trouxeram do cativeiro expuseram as condições subumanas em que as Farc mantêm essas pessoas, que superam o número de 700. São com esses escudos humanos que as Farc conservam as tropas colombianas a uma distância segura. Uma operação para libertar os reféns resultaria num banho de sangue.

O governo brasileiro tem sido tímido diante da crise colombiana. Mais de uma vez, o presidente Lula disse que só adotaria alguma providência a pedido do presidente colombiano, Alvaro Uribe. Apenas na terça-feira, depois de uma solicitação de um filho de Ingrid, Brasília emitiu uma nota pela libertação de todos os seqüestrados, em troca de anistia para os guerrilheiros presos na Colômbia. Os conhecidos vínculos ideológicos de petistas com as Farc não podem servir de pretexto para tolher a atuação do Estado brasileiro, já que não há justificativa sensata para alguém apoiar aquela organização.

Um dos impasses da situação colombiana é a recusa do presidente Uribe a desmilitarizar áreas do país para um diálogo com a narcoguerrilha, experiência que não deu resultado no governo anterior, de Andrés Pastrana. Recentemente, a força sofreu derrotas militares e perdeu líderes importantes. A situação dramática de Ingrid ajuda a degradar ainda mais a imagem das Farc. Nesse contexto, não tem sentido a posição defendida por Chávez de que a milícia seja reconhecida como uma força política insurgente. Se as Farc querem dialogar, que libertem os reféns, deponham as armas e entreguem à Justiça os culpados por crimes.

O que não se deve perder de vista é que o governo democrático da Colômbia luta contra uma insurgência interna que perdeu legitimidade, se é que já a teve. E é acossado, ao norte (Venezuela) e ao sul (Equador), por projetos políticos aventureiros e desestabilizadores. Precisa, portanto, de apoio das forças democráticas do continente.

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