Entrevista:O Estado inteligente

domingo, abril 06, 2008

CLÓVIS ROSSI Emoções, eu vivi

ROMA- A primeira eleição italiana que me tocou cobrir foi a de 1975. A carga política, ideológica e emocional era tremenda. Afinal, pela primeira vez, um partido comunista tinha reais chances de chegar ao poder, pela via eleitoral, em um país europeu.
Havia, no entanto, uma lei de ferro, não-escrita, que proibia PCs de governarem em países, como a Itália, membros da aliança militar anticomunista, a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
Enrico Berlinguer, então secretário-geral do Partido Comunista Italiano, até que inventou um certo "eurocomunismo" para tentar driblar o veto. Era uma terceira via entre comunismo e capitalismo. O livre mercado sobreviveria e, acima de tudo, sobreviveria a democracia dita burguesa.
Não adiantou. O PCI foi de novo derrotado.
Entre parênteses: no Brasil também houve veto não-declarado a uma vitória de Lula. Até que ele se rendeu incondicionalmente em 2002. Fecha parênteses.
Domingo que vem tem eleição de novo, mas completamente desidratada de ideologias e emoções. Tanto que o candidato mais forte da esquerda, o ex-comunista e ex-prefeito de Roma, Walter Veltroni, é um incondicional admirador de Barack Obama. Nos velhos tempos, comunista não podia admirar nenhum norte-americano, menos ainda se "presidenciável".
Fausto Bertinotti, que continua comunista (da "Refundação Comunista"), mas não obstante presidia a Câmara dos Deputados dissolvida para a convocação da eleição, dá bem a medida da desidratação ideológica ao chamar Veltroni de "Veltrusconi", uma mistura do sobrenome do esquerdista com o de seu principal rival, o direitista Silvio Berlusconi.
A desidratação da política trabalha a favor da manutenção do status quo. Há quem goste. Eu prefiro o contraditório forte, que leva a emoções fortes.

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