O Estado de S. Paulo |
11/4/2008 |
Ontem, o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Khan, e o presidente Lula trataram do tema que vem provocando forte reação de chefes de Estado e de políticos: a disparada global dos preços dos alimentos. Em Washington, onde se realiza a Assembléia de Primavera do FMI, Strauss-Khan observou que, em pouco mais de um ano, a alta dos alimentos já é de 46%, fator de preocupação porque impede o acesso das camadas mais pobres ao próprio sustento e porque acelera a inflação no mundo. Em pronunciamento feito em Roterdã, Holanda, o presidente Lula chamou a atenção para o fato de que a estocada dos preços não está sendo provocada pelos biocombustíveis, mas pelo novo acesso dos pobres da Ásia aos alimentos de melhor qualidade. Em apenas dez anos, na China e na Índia, 400 milhões de pessoas passaram a ter essas condições. A chegada das novas camadas sociais aos mercados de trabalho e de consumo não só explica a aceleração dos preços dos alimentos, mas também das outras commodities, inclusive petróleo. Ontem, o objetivo principal do presidente foi defender o etanol brasileiro do ataque de dirigentes políticos europeus. Já não são apenas Fidel Castro e Hugo Chávez que o denunciam como produto que tira o pão da boca dos pobres. Há uma semana, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, acusou os governos dos Estados Unidos e do Brasil de subsidiarem sua produção e, assim, contribuir para a alta dos alimentos. Não se deu ao trabalho de comparar o balanço energético do produto americano e do produto brasileiro. A mesma acusação é feita na Europa por políticos e entidades ambientalistas. Para eles, os Estados Unidos usam quantidades crescentes de milho para produzir etanol e o Brasil planta cana onde antes se colhiam grãos ou havia florestas tropicais. Em artigo publicado no The New York Times de terça-feira, o economista Paul Krugman também condenou o produto brasileiro que, para ele, é um destruidor de florestas. Esses ataques têm conseqüências práticas. Os governos da Alemanha e da Inglaterra estão desistindo de misturar álcool à gasolina. No Japão, o projeto está parado sob o argumento de que não há produto disponível no mercado internacional em volume suficiente para garantir as necessidades futuras. É difícil nesses trancos separar protecionismo de desinformação. Diariamente, grandes jornais do mundo publicam artigos que buscam demonstrar que a produção e o uso de etanol como combustível lançam tanto ou até mais carbono na atmosfera do que os combustíveis fósseis, algo que pode valer para o de milho e não para o brasileiro, de cana-de-açúcar. Mas a resistência ao etanol, que pega carona nos protestos contra a inflação dos alimentos, pode provocar estragos irreversíveis no setor de açúcar e álcool no Brasil, cujo projeto é transformá-lo em commodity internacional. O etanol brasileiro está sob foco e qualquer pretexto, como as queimadas para a colheita manual ou as denúncias de uso de mão-de-obra sub-remunerada, pode complicar sua aceitação no exterior. A contra-ofensiva diplomática do Brasil parece insuficiente para neutralizar esse jogo duro. Confira Esticão - O Jornal da Tarde de ontem chamou a atenção para o fato de que, mesmo num ambiente de estabilidade, os bancos vêm puxando os juros dos cheques especiais. Os dados do Banco Central publicados em março mostram que, em janeiro, eles estavam nos 138,1% ao ano e passaram a 146,0% no final de fevereiro. os segmentos de crédito destinados a empresas, a alta também é expressiva. No mesmo período, no desconto de duplicatas, os juros saltaram de 32,3% ao ano para 38,2%. E, na conta garantida, de 58,8% para 63,8% ao ano. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, abril 11, 2008
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