Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, abril 18, 2008

Arthur Virgílio está errado

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Leiam as duas noticias que seguem. Comento ao fim de tudo:

Da Agência Senado
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (PSDB-AM), criticou a atitude do comandante militar da Amazônia, general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, que criticou publicamente a política indigenista do governo federal. Anteontem, o general chamou a política de "caótica" e "lamentável".
Para Vírgílio, o militar se equivocou ao manifestar a opinião em público. "Não estou defendendo o governo Lula. [...] Considero que um general da ativa deveria se abster de opinar sobre questões políticas. Quero militares bem armados, bem equipados e bem pagos, mas não os quero determinando os rumos da política nacional", disse o senador.
O senador Geraldo Mesquita Júnior (PMDB-AC) sugeriu ainda que o general Heleno fosse convidado a comparecer ao Senado, "mesmo que em sessão fechada", para prestar esclarecimentos sobre os problemas de segurança na fronteira que o militar apontou.
O general do Exército Gilberto de Figueiredo, presidente do Clube Militar, engrossou hoje o coro dos descontentes com a política indigenista do governo federal. Ele saiu em defesa do general Heleno, que foi cobrado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva por criticar a política indigenista.
Para o general Figueiredo, as críticas não ferem nenhuma hierarquia ou disciplina. 'A observação do general Heleno foi fruto da angústia de alguém que observa no próprio local a situação aflitiva de algumas comunidades. [...] A política indigenista, todos sabem, está longe de ser consensual, inclusive dentro do governo Lula'.
O militar acredita que o presidente adotou um tratamento diferenciado ao cobrar explicações do general Heleno, já que os ministros não são questionados quando contestam a política econômica do governo. 'É estranho o presidente da República pedir explicações sobre o caso. Não me consta que tenha adotado o mesmo procedimento quando ministros do seu partido contestam publicamente a política econômica do governo', diz Figueiredo em nota.
O general Figueiredo elogiou a política econômica e condenou ações eleitorais do governo. 'Aliás, [a política econômica é] uma das poucas coisas que está funcionando coerentemente nessa época em que atitudes voltadas para produzir impacto em palanque são mais importantes do que a ética e a moralidade na condução das gestões políticas.'
Apesar das críticas, o presidente da Funai, Márcio Meira, reiterou nesta sexta-feira que o governo federal não vai modificar a política indigenista no país.

Líder do tucano
Agora leiam o que informa a Folha On Line:
Aliado do Palácio do Planalto, o presidente nacional do PDT, deputado Vieira da Cunha (RS), defendeu nesta sexta-feira o comandante Militar da Amazônia, general Augusto Heleno, que criticou a política indigenista do governo federal.
Para o deputado, o general fez um alerta indicando ser necessário revisar a política implementada pelo Executivo.
Ele condenou uma eventual punição ao oficial. "Não vi nenhuma insubordinação, foi um comentário sincero e respeitoso. Foi um alerta pois estamos tratando de uma região sensível, que é a Amazônia", disse Vieira da Cunha.
"Não penso que seja caso de punição. Foram comentários feitos no contexto de uma palestra. É um assunto complexo e difícil e talvez sirva para que o governo revise sua política [indigenista]", afirmou o pedetista.

Voltei
Eis aí mais um flagrante da geléia geral brasileira. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM) é, sem dúvida, um homem cheio de energia, bom de briga, que não costuma se ausentar dos debates. Como fala bastante, também erra, não é mesmo? Entendo que, por dois dias seguidos, ele fez uma pequena confusão e se comportou como líder do governo — sem querer.

Primeiro, ele o fez quando saiu em defesa do Banco Central, enquanto os petistas atacavam a política monetária. Reitero: não estou entrando no mérito da decisão de elevar os juros. Apenas acho que o corriqueiro, nesses casos, funciona melhor: governistas defendem o governo. Fosse outro o ambiente, um em que o Planalto não vivesse da demonização do passado, esse comportamento de oposição sueca seria até desejável. Mas Lula, com os que lhe fazem oposição, está mais para um viking...

Na questão do general, não custa notar de novo, os petistas ficaram praticamente calados. As reações contrárias partiram de pessoas que ocupam cargos no Executivo. Sugiro a Virgílio que leia de novo a fala de Heleno. Ele não se posicionou sobre questões políticas. Falou ao Clube Militar — e tem o direito de fazê-lo (ou se feche o dito-cujo) — como quem conhece aquela região e vê desacertos na política indigenista.

A fala de Virgílio só demonstra que o PSDB, a respeito da questão do índio, pensa que... NÃO PENSA NADA!!! Só evidencia que o partido não tem uma resposta para o embate de Raposa Serra do sol. E isso tem sido um problema permanente. Os tucanos se restringem à gestão dos governadores e a uma às vezes estridente atuação parlamentar. Os executivos estaduais não querem confusão com o governo federal — ou acabam pagando o pato, e o Parlamento, infelizmente, não chega a mobilizar muita gente. O general sendo apoiado por alguém da base aliada e criticado por um dos mais visíveis líderes da oposição dá conta, de fato, do quão particular é a política no Brasil — particularíssima!

Há dias, o comandante das tropas americanas no Iraque falou no Senado. Na prática, criticou as teses dos democratas Hillary Clinton e Barack Obama e endossou a visão do republicano John McCain, todos presentes. Ninguém disse que o militar estava fazendo política — até porque não estava. Expressava a visão de um general que conhece o terreno no qual está a trabalho.

Se o Comandante Militar da Amazônia fala ao Clube Militar e está impedido de dizer o que vê e o que pensa sobe aquilo que vê, vai lá fazer o quê? Ele não propôs nada — nenhuma “forma de luta”. Disse o que considera erro de atuação do governo na área. Afinal, ele é quem é: responde pela segurança militar da região.

O líder tucano errou. Quando fala, ele o faz também pelo partido. Deveria ter deixado o papel para Romero Jucá (PMDB), líder do governo no Senado — que, ademais, conhece Roraima muito bem.

Aliás, fica uma pergunta: os tucanos andam se falando antes de seu líder no Senado emitir suas sentenças? A prática pode ser salutar.

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