Qualquer dos pré-candidatos democratas que porventura chegue à Casa Branca será uma espécie de pioneiro no cargo; Hillary Clinton, a mulher, ou Barack Obama, o afro-descendente. A definição entre estes dois não ocorrerá antes de agosto, a não ser que Hillary saia da corrida. O candidato republicano John McCain, já definido, é um freedom fighter, isto é, alguém que participa ou participou de rebelião armada ou resistência contra qualquer governo opressor. Enfim, o vencedor, democrata ou republicano, será o primeiro representante de um desses segmentos a obter aprovação da maioria para conduzir os destinos da nação mais poderosa do planeta. Este aspecto, contudo, terá mais ou menos relevância na medida em que se conheçam as verdadeiras proposições de cada um. Jamais teremos respostas convincentes, enquanto o debate democrata se fixar no sexo ou na cor da pele dos concorrentes. Por exemplo, o pastor Jeremiah Wright compara o pupilo Obama a Jesus Cristo que, segundo ele, foi outro “negrinho” que cresceu numa cultura controlada por brancos.
Não se pode perder de vista que a economia mundial — não tapemos o sol com a peneira — depende substancialmente dos 14 trilhões de dólares do PIB norte-americano. O tão propalado “descolamento” não passa de histeria populista de Hugo Chávez e alucinação oligofrênica de Lula da Silva. Existe, sim, uma ordem internacional conduzida principalmente pelas políticas de Washington, e nenhum país pode se gabar do utópico privilégio de ser imune à interdependência inerente aos mercados produzidos pela globalização.
As plataformas de Hillary e McCain não suscitam dúvidas; podemos ser contra ou a favor, mas não lhes podemos contestar a transparência. McCain é, digamos, um conservador moderado, e Hillary dá sinais de que se posiciona à direita de Obama; o governo dela seria semelhante à administração do marido, salvo, é claro, a provável ausência de estimulações eróticas no Gabinete Oval. Contudo, com Obama na liderança da corrida democrática, o eleitor tenta desvendar quais realmente seriam os rumos por ele definido.
Alguns observadores andam a pregar que Obama tende a ser o próximo John F. Kennedy. Não é bem assim. No máximo, talvez ele seja o próximo George McGovern. Aliás, a retórica de Obama mostra um aspecto interessante em relação a outras candidaturas democratas, derrotadas em eleições pretéritas. Walter Mondale prometeu aumentar os impostos e perdeu. George McGovern prometeu reduzir o orçamento das forças armadas e perdeu. Michael Dukakis prometeu uma agenda doméstica liberal e perdeu. Apesar disso, Obama é acusado pelos opositores de fazer exatamente estas mesmas promessas, e alguns analistas crêem em sua vitória. Qual seria o motivo? Seus correligionários garantem que não foram bem estas as propostas de Obama, e os adversários acusam a mídia de não o tratar como um candidato à presidência e de apresentá-lo à opinião pública com o apelo digno de um concorrente em um concurso de beleza.
O florido discurso de Obama parece mudar sempre que convém à sua ambição política. Por outro lado, ele mostra consistência ao se escorar na premissa de que a oposição seja uma fomentadora de guerras desnecessárias. Ele assegura que vai dialogar com Mahmoud Ahmadinejad e Kim Jong II, mas admite a possibilidade de invadir o Paquistão, um país configurado com armamento nuclear. Se lhe quiséssemos reduzir a agenda a uma palavra, diríamos: impostos. A panacéia de Obama para todos os males baseia-se numa complexa reforma tributária que este articulista admite, humildemente, ainda não conseguiu desvendar. Seu bordão favorito é “tirar dinheiro dos ricos”. Apesar do rótulo de liberal, prega abertamente a intromissão do Estado na economia, numa acepção um tanto ou quanto incongruente com liberalismo econômico.
Tais inconsistências e duplicidades, além do bate-boca com Hillary, podem nocautear Obama e transferir muitos votos democratas para John McCain nas eleições gerais de novembro.