Entrevista:O Estado inteligente

domingo, abril 06, 2008

3º MANDATO DE LULA VOLTA À PAUTA


por Paulo Moura
Em declaração publicada logo após a divulgação da última pesquisa Datafolha, que revelou índice de 55% de aprovação do governo Lula, o presidente desse instituto, Mauro Paulino, afirmou: “O ator principal, que é o Lula, ainda não entrou no jogo. A partir do momento em que ele defender um nome do PT, esse tabuleiro tende a mudar.” Talvez Mauro Paulino tenha andando ocupado com a operacionalização da sua pesquisa e, distraído, pode não ter percebido que desde fevereiro passado o presidente Lula só fazia andar de braços dados com a ministra Dilma, para cima e para abaixo, inaugurando obras Brasil à fora e tentando ver se conseguia fazer a “mãe do PAC” ser adotada pelos eleitores brasileiros.

Não colou. Dilma nunca pediu votos na vida e parece não levar jeito para a coisa.

Mais para “coordenadora” do que para “mãe do PAC”, como seu autodefiniu Dilma Roussef, chutando para fora do estádio a bola que Lula largou picando em frente a sua área, a ministra conseguiu se meter em uma trapalhada digna dos primeiros dias do primeiro mandato de Lula.

Convenhamos que, para alguém que estaria nos planos de Lula para, eventualmente, sentar-se no trono presidencial com as bênçãos do “pai do PAC”, deixar-se flagrar com uma assessora direta envolvida no vazamento do dossiê com os gastos do ex-primeiro casal com cartões corporativos do governo é de um amadorismo e tanto.

O desastre foi triplo.

Em primeiro lugar, fracassou a primeira e precoce tentativa de Lula fabricar uma petista eleitoralmente viável e suficientemente submissa para guardar o lugar para ele próprio voltar em 2014.

Em segundo lugar, Lula botou a ministra na linha de tiro da oposição, numa situação que a própria Dilma agravou com seu envolvimento com o segundo dossiê parido nas entranhas do Planalto contra os tucanos.

E, em terceiro lugar, revelou os petistas desesperados e atrapalhados com a inexistência de outra alternativa eleitoral para 2010, que não passe por mudar a Constituição para tentar emplacar Lula outra vez.

A única explicação plausível para Lula precipitar a eleição de 2010 é a necessidade de tempo para fazer acontecer o que só Mauro Paulino não viu Lula fazendo: turbinar os índices de Dilma nas pesquisas.

A situação de Dilma ficou tão complicada que não restou a Lula senão pedir a seu vice, José Alencar, para fazer uma declaração para as manchetes, pautando outra vez o terceiro mandato contínuo de Lula.

Essa cartada, aliás, nunca deixou nem deixará de estar em curso, enquanto a tramitação do projeto de compadre de Lula, deputado Devanir Ribeiro (PT/SP), continuar avançando. O debate sobre o fim da reeleição com aprovação de um mandato de 5 anos para o próximo presidente é parte da estratégia de pavimentação do mandato, já que torna mais palatável aos postulantes ao trono presidencial, a possibilidade de terem que engolir Lula por mais 5 anos (apenas?).

Isso quer dizer que Lula desistiu de Dilma?

Não.

Lula não desistiu de fabricar uma alternativa para o caso de o “3º mandato já!” não emplacar. Se Dilma sobrevier ao tiroteio em curso, poderá voltar à vitrine mais adiante. Patrus Ananias, o “mineiro-come-quieto” que fabricou o “Bolsa-Família”, também é carta na manga do colete de Lula. Tarso Genro também adoraria estar na manga do colete de Lula, embora não tenha aval da Avenida Paulista. Pretendentes não faltam nas hostes petistas.

O que falta a todos os postulantes do PT, com exceção de Lula, enquanto a economia for bem, são votos.

Daí porque a "emenda Devanir" seguirá tramitando a espera do plebiscito em que os 55% dos brasileiros que reelegeram e aprovam o governo Lula, segundo o Datafolha, aprovem a reeleição do petista e o reelejam, se o vento continuar soprando nessa direção.

Sim, porque se o Senado não aprovou a CPMF (mais dinheiro), muito menos aprovará mais poder para Lula. Essa via, de alto risco, está fora de cogitação na estratégia de José Dirceu para o 3º mandato de Lula.

Mas, a situação de Lula é tão tranqüila, que qualquer jogada que tente não o prejudica. São infrutíferas as acusações de golpe contra a democracia que oposição esgrime na tentativa de barrar o 3º mandato de Lula. Idem para acusações sobre os dossiês aloprados. Idem para a eventual revelação do destino que o primeiro casal dá ao nosso dinheiro.

Enquanto os brasileiros estiverem sentindo alguns trocados no bolso, a oposição seguirá jogando palavras ao vento. O povo é hipócrita e “esperto” (no sentido que os cariocas empregam esse do termo). De barriga cheia, os brasileiros não ouvem o que a oposição diz; não vêem o que os petistas e seus aliados fazem no poder e não falam mal de Lula, que lhes enche o prato e ou lhes possibilita tirar férias em Miami, enquanto o dólar despencando cada vez mais, a cada dia que passa; com a paradoxal ajuda de Bush, o mais novo filho adotivo de Lula.

O único risco que Lula corre de não emplacar o 3º mandato é o de dar ouvidos a Guido Mantega, que adora crescimento econômico com inflação, bem ao gosto dos economistas de esquerda dos anos 1950. E ao gosto dos assessores econômicos do casal Kirchner, que está transformando a Argentina no Brasil de Sarney, em pleno século XXI.

Henrique Meirelles, ex-deputado federal por Goiás, eleito com 180 mil votos em 2002 pelo partido de FHC e José Serra, é o principal cabo eleitoral de Lula.

Pensando bem, se, por alguma dessas trapalhadas que os auxiliares de Lula aprontam, o projeto do 3º mandato não vingar, Lula deveria testar Henrique Meirelles para seu sucessor. Mais votos do que Dilma Roussef fez em toda a sua vida, pelo menos, ele já tem. A que preço fez esses votos; não sei. Mas fez.


Originalmente publicado no www.professorpaulomoura.com.br

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