Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, janeiro 20, 2015

Covardia moral - Rodrigo Constantino

Covardia moral - Jornal O Globo

Covardia moral

Um inimigo fanático disposto a morrer para matar intimida qualquer pessoa normal. Quem ama a vida, aprecia o conforto material e a liberdade tem receio de enfrentá-lo. Gerações criadas na prosperidade, em boa parte construída por seus pais, sentem ainda mais dificuldade de aceitar sacrifícios para derrotar um tipo desses. Mas não há alternativa.

Todos conhecem a síndrome de Estocolmo, quando o refém se encanta pelo algoz. Não digo que os intelectuais ocidentais cheguem a tanto (em alguns casos mais patológicos, sim), mas muitos sofrem hoje da síndrome de Oslo: um povo sitiado, como o judeu, que cedeu em quase tudo e fez inúmeras concessões, na esperança de ficar bem com o inimigo. Recebeu mísseis na cabeça em troca.

O caso do terrorismo islâmico não é trivial, e qualquer resposta simples estará errada. Mas, sem dúvida, os ocidentais precisam parar de culpar o próprio Ocidente pela maluquice dos outros. E mais importante: precisam parar com essa mania de que cabe a eles, de alguma forma, mostrar um sorriso mais amigável ou oferecer uma flor para que, com tal gesto belo, sejam deixados em paz. Que doce e perigosa ilusão!

O primeiro passo para vencer uma guerra é reconhecer a ameaça. Aqueles que buscam fugas ou apelam para discursos românticos devem sua segurança e sua liberdade aos que são realistas e enfrentam com coragem os inimigos. O Ocidente não conquistou facilmente seus principais valores: a democracia, a tolerância e as liberdades individuais. Derrotar a barbárie custou muitas vidas e derramou muito sangue. E a vitória nunca é definitiva, como o comunismo, o fascismo e o nazismo demonstraram.

É inegável que hoje a grande ameaça vem do islamofascismo, essa mistura nefasta do Islã com o fascismo. Com medo de reconhecer o óbvio, nossos intelectuais mentem, repetem que o Islã é uma religião da paz, ignorando que o próprio Maomé foi um líder militar, e falam que uma minúscula minoria aplaude o terrorismo. Não é bem assim. Claro que existem os muçulmanos moderados, e eles merecem nosso apoio na luta contra o fanatismo em nome de Alá. Mas existe uma parcela grande demais que, no mínimo, mostra-se negligente com os métodos abjetos dos terroristas em sua "guerra santa".

Não estão reagindo ao governo Bush, às Cruzadas de séculos atrás ou às agruras econômicas "causadas" pelo colonialismo europeu. Isso é balela. Não aceitam nosso estilo de vida, nossas liberdades, nossa democracia, o materialismo capitalista. Não por acaso, seduzem almas que outrora se encantariam com o comunismo ou o fascismo. Alienação somada ao niilismo dá nisso.

Se os ocidentais querem achar sua parcela de responsabilidade nisso tudo, que mirem nos próprios intelectuais que há décadas cospem na cultura ocidental, a mais avançada e tolerante de todas. Que culpem os multiculturalistas que disseminaram uma mentira, a de que existem apenas "culturas diferentes" e que todas devem ser igualmente respeitadas, e com isso ajudaram a criar guetos dentro do Ocidente permissivos a atos bárbaros que ferem as leis locais e os direitos humanos universais.

Quando um muçulmano vai viver em Londres ou Paris, é ele quem deve se adaptar aos costumes locais. A assimilação é parte fundamental do fluxo migratório. Os Estados Unidos foram criados à base de imigrantes, convivendo pacificamente em prol de valores comuns como a liberdade. Mas os relativistas culturais fizeram com que as leis se tornassem inválidas para os muçulmanos, pois não devemos "ofendê-los" com os nossos valores. Quem somos nós, afinal, para sustentar que tais valores são melhores? Ignoravam apenas um fato: eram eles que iam para a Europa buscar refúgio ou oportunidades, não o contrário.

Com esse tipo de postura acovardada, ajudaram a criar um ambiente favorável aos fanáticos, que encontravam facilidade em atrair jovens alienados para sua ideologia assassina. Deixaram que montassem várias instituições de fachada para disseminar o ódio ao Ocidente bem no seio do Ocidente, e qualquer crítica era vista como "islamofobia". Ainda hoje não são poucos os que culpam os chargistas franceses pelo atentado terrorista que ceifou suas vidas.

A liberdade de expressão é um dos pilares ocidentais. Aceitá-la inclui tolerar sátiras ofensivas. Se a covardia moral continuar fazendo com que os ocidentais recuem para não despertar a fúria dos que já desejam nos destruir, então teremos perdido a guerra. E esse tipo de covardia vai apenas fomentar o crescimento da extrema-direita xenófoba como reação daqueles cansados com a pusilanimidade da esquerda "tolerante".

Rodrigo Constantino é economista e presidente do Instituto Liberal



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