Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, maio 09, 2012

Sem pai nem mãe - Dora Kramer -

O Estado de S.Paulo
Tantas campanhas ditas politicamente corretas e factualmente incorretas são difundidas pela internet e 


repercutem fora dela que não custava nada essa massa em estado de rebeldia à deriva abraçar um bom 


combate.
Há várias causas à disposição de soldados efetivamente interessados no aperfeiçoamento da nossa ainda 


imperfeita democracia. Um exemplo? O fim do voto secreto no Congresso, ao menos para os casos de 


cassação de mandatos comprovadamente incompatíveis com o decoro parlamentar.
O assunto de quando em vez volta à discussão no Parlamento. Sempre que há algum escândalo 


envolvendo deputados e/ou senadores ou quando assistimos a alguma absolvição escandalosa.
A última, em 2011, favoreceu a deputada Jaqueline Roriz, flagrada em vídeo recebendo dinheiro de 


origem desconhecida pelas mãos de um conhecido frequentador - Durval Barbosa, o delator e 


participante do esquema que resultou na queda do então governador do DF, José Roberto Arruda - de 


terrenos onde a política se mistura à corrupção.
Em 2006, em meio a renúncias e absolvições de parlamentares envolvidos no escândalo do mensalão, a 


Câmara aprovou o fim do voto secreto. Foram 383 votos a favor, nenhum contra e quatro abstenções, 


em primeiro turno.
Na época houve muita animação e apoio à decisão. Mas o tempo passou, o clima de indignação 


arrefeceu e a coisa por ali ficou faltando completar o processo de votação na Câmara e remeter a 


proposta ao Senado.
Agora com o caso do senador Demóstenes Torres volta-se a debater o assunto, embora timidamente. É 


que a situação dele é tão grave, há tanta intolerância em relação ao disfarce de defensor da ética, são 


tantos os inimigos que o senador colecionou por causa desse papel e é tão inconsistente (senão 


inexistente) sua sustentação política, que o corporativismo dificilmente prosperará ao abrigo do voto 


secreto quando o processo for ao exame do plenário no Senado.
Portanto, ainda não será dessa vez que uma crise resultará em avanço e o voto secreto no Parlamento 


continuará servindo de salvaguarda a representantes da sociedade que não desejam dar satisfações aos 


seus representados.
Note-se, então, que esse assunto se inscreve entre aqueles passíveis de intervenção popular. Energia 


solta no ar há de sobra. Pena que em boa medida desajeitada e por isso desperdiçada.
Falta compreensão para distinguir o que realmente é importante para a melhoria do processo político 


daquilo que tanto serve para aplacar consciências de inocentes úteis quanto presta serviço ao (não raro 


remunerado) ofício da má-fé.
Roncos da reação. Há duas questões não respondidas pelas tropas de ataque à Veja: as denúncias 


divulgadas pela revista eram verdadeiras ou falsas? Ajudaram ou prejudicaram na elucidação de casos 


de corrupção?
Considerando a veracidade e o benefício (abertura de inquéritos, processos e demissões) resultante das 


reportagens e reveladores do compromisso com os fatos, resta a evidência de inequívoco desconforto 


com a vigência da liberdade de imprensa no País e o indisfarçável desejo de alguma forma de 


revogação da regra.
Certamente não se veem assim, mas esses grupos atuam à semelhança de setores conhecidos durante a 


ditadura como "bolsões radicais" contrários à retomada do Estado de Direito.
Revisão. Leitor pondera e tem razão: se Carlos Augusto Ramos é tratado na imprensa como chefe de 


um esquema criminoso, acusado em processo na Justiça de Goiás por diversos delitos entre os quais 


lavagem de dinheiro, não faz sentido nos referirmos a ele como mero "contraventor".
Ademais... É como já avisou doutor Márcio Thomaz Bastos: o homem silenciará na CPMI a fim de não 


se incriminar mais do que já está.

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