Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, abril 08, 2008

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Um amigo me ligou ontem à noite para conversar isso e aquilo. E, claro, falamos sobre essa gente que anda por aí. Num dado momento, ele comentou. “De tédio, você e o Diogo não morrem”. Anuí num primeiro momento: “É, sim, é verdade. Eles nunca nos deixam sem motivos para escrever; há novidade todo dia”. E acabei ouvindo o som das minhas próprias palavras e me espantando. É nada!

O governo Lula tem 0% de novidade e 100% de reiteração. Esses caras são aborrecidamente iguais a si mesmos, e corremos o risco de nos tornar aborrecidamente iguais a nós mesmos. O Apedeuta é uma chatice. Diogo já escreveu a respeito algumas vezes na VEJA. Leiam lá em Lula É Minha Anta. O que nos salva da preguiça é que é sempre possível antecipar os lances, o que não deixa de ter alguma graça. “Amanhã farão tal coisa”. Batata! “Ah, tentarão tal saída”. Na mosca! Mas há momentos em que a brincadeira de gato e rato também cansa, embora seja necessária. Querem ver como são as coisas? A VEJA trouxe a reportagem informando a existência do dossiê no dia 21 de março. O que eu escrevia um pouco antes (segue em azul)?

NESTE BLOG NO DIA 12 DE FEVEREIRO
As condições em que se vai instalar a CPI Mista dos Cartões Corporativos não poderiam ser piores para o país – e, em particular, para as oposições. Foi, para dizer pouco, um desastre. (...) Por que o governo FHC está sendo investigado? Será a primeira CPI da história instalada para saber se existem motivos para instalar uma CPI.

NESTE BLOG, NO DIA 20 DE MARÇO
Não gosto da atuação deste senhor [Jorge Hage]. Acho o seu discurso quase sempre temerário. Lastimo sua vocação para fazer ameaças. Lá está ele, de novo, a deixar claro que a sua pasta está atuando para fornecer documentos à CPI referentes ao governo FHC. É um troço escandaloso! Ainda nem se tem “o” caso ou “os” casos daquele governo, mas ele já sugere que há algo bem pior do que a tapioca. Sim, isto, que é grave, vai passar em branco: a máquina oficial foi mobilizada com um propósito claramente político. E vai usar a CPI como mero instrumento. Já falei isso faz tempo e reitero: as oposições deveriam abandonar essa comissão. CPI, no governo Lula, virou lavanderia de reputações de larápios e máquina para manchar a biografia dos adversários do Planalto. Acreditem no Tio Rei: denunciem a farsa e caiam fora enquanto é tempo.

Perceberam? Bastava olhar o andamento das coisas e fazer uma aposta. Estava na cara que a máquina oficial tinha sido mobilizada para produzir acusações contra o antecessor do Apedeuta. No governo Lula, nessa área, aposte no pior e fique sentado, esperando. Ele sempre se cumpre. Sim, corremos o risco de morrer de tédio. Porque o banditismo político é tedioso: as mesmas fórmulas, os mesmos truques, as mesmas desculpas. Os mesmos bandidos.

Deveríamos estar debatendo, agora, a qualidade da escola pública, do Sistema Único de Saúde, as reais portas de saída do Bolsa Família, a reforma política, a reforma tributária — e a redução da carga... Em vez disso, cá estamos com questões inacreditáveis:
1 – Um governo tem ou não direito de fazer dossiê?;
2 – A PF deve investigar só o vazamento ou também a feitura do dito-cujo?;
3 – Um senador da República tem ou não direito de denunciar a falcatrua?;
4 – Por que os jornalistas não revelam a sua fonte?

Entenderam o ponto? Estamos sendo obrigados, pelas circunstâncias, a escrever sobre sobre o que já deveria ser matéria de consenso. Não custa lembrar que, durante alguns dias, setores da imprensa se empenharam numa tarefa investigativa: saber quais eram as fontes da VEJA. Tratou-se de um momento inédito de degradação da profissão. Assim, existe, sem dúvida, uma relação tensa entre a necessidade de escrever e, admito, o famoso saco cheio — cheio de Lula e sua renque.

E então...
Diogo é colunista da VEJA, a conferir, há quase dez anos. E veio da literatura para o jornalismo. Eu já escrevia muito antes de este senhor chegar à Presidência. Em Contra O Consenso, não há artigo tratando de política partidária — abordo questões ideológicas, sim, mas passo longe do petismo. Olavo de Carvalho se ocupa da esquerdopatia há mais de duas décadas — sem contar que ele é mais útil ao pensamento tratando de Aristóteles e temas superiores afins. Mas há o gosto, e há a necessidade. O PT nos impõe a nossa cruz feita de vulgaridade: falar do PT.

Acreditem: não vemos a hora de tratar de outras coisas. Vocês acham que prefiro analisar um discurso do Babalorixá de Banânia a escrever um artigo sobre Fernando Pessoa? É melhor apontar a falta de sentido de uma fala de Tarso Genro ou se debruçar sobre uma encíclica papal? Acusar as contradições de Dilma Rousseff numa entrevista coletiva ou pensar a interação entre ciência e moral?

Lula, acreditem, só nos desvia dos temas importantes. Porque somos obrigados a dizer o óbvio. O óbvio é sempre a primeira vítima dos intolerantes.

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