Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, abril 09, 2008

Clóvis Rossi - Conspiração tola



Folha de S. Paulo
9/4/2008

Não dá para entender a decisão do governo de investigar, com a Polícia Federal, apenas o vazamento do tal dossiê. Vejamos: trata-se de dois eventos em seqüência perfeita. Um evento é a elaboração do dossiê, por iniciativa da mais próxima auxiliar da ministra Dilma Rousseff. O evento seguinte é a divulgação do dossiê, ao que tudo indica por iniciativa do senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
O segundo ato não existiria, como é óbvio, sem o primeiro. Logo, não há como deixar de investigar um e outro, com perdão ao leitor por ser obrigado a escrever tão tremenda obviedade. A culpa não é a minha, mas de um governo que teima em esconder-se do óbvio, sempre que algum operador seu (ou vários) comete um crime (lembre-se que foi a Casa Civil quem rotulou o caso de crime).
A única coisa que se pode conseguir limitando a investigação ao vazamento é abrir espaço para desconfianças sobre todos, inclusive e principalmente a ministra Dilma.
Repito, à custa de receber mais mails indignados: continuo não acreditando que Dilma tenha mandado elaborar o dossiê.
Não parece uma pessoa com tanto déficit de caráter que assuma uma atitude dessas e, depois, telefone para uma das vítimas, Ruth Cardoso, para dizer que não o fez. Até Fernando Henrique Cardoso, a outra vítima, fez raciocínio parecido.
A culpa de Dilma, se há, é a mesma de Lula: não criar no Palácio do Planalto um ambiente tão hígido que iniba completamente os diferentes aloprados, usuais habitantes de palácios e mais realistas que os próprios reis, de praticar atos que seus próprios chefes depois rotulam de criminosos.
Ao negar-se a investigar quem é o aloprado da vez, o governo acaba desviando o foco para a ministra.
Vai ver que desta vez há de fato uma conspiração em marcha, contra a ministra e eventual candidata. Conspiração palaciana. E tola.

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