O Estado de S. Paulo - 23/11/2011 |
Duas leis sancionadas pela presidente Dilma Rousseff na última sexta-feira representam, juntas, indiscutíveis avanços na direção de um atributo indispensável ao bom exercício da democracia: a transparência.
A criação da Comissão da Verdade e a Lei de Acesso à Informação são as boas novas em meio a tantas más (e velhas) na política e suas circunstâncias.
A primeira fecha um ciclo, ao pretender investigar e revelar ao País o que ainda não se sabe sobre as agressões aos direitos humanos cometidas durante o regime militar.
A segunda assegura ao público pagante (de impostos) acesso às informações dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário nos âmbitos federal, estadual e municipal. Na teoria, o que não estiver sob sigilo, bastará ser requerido para tornar-se sabido.
Na prática, o desafio dessas duas iniciativas é saírem do papel da melhor e mais próxima maneira daquela pretendida pelos que se propuseram à empreitada. Não é tarefa de fácil execução.
Digamos que diante do que há pela frente a aprovação no Congresso e a sanção presidencial tenham sido as etapas mais fáceis. Houve acordo, civilidade e ótimas intenções.
Transformá-las em realidade serão outros quinhentos.
A Lei de Acesso à Informação tem seis meses para entrar em vigor, prazo certamente previsto para que o poder público tenha tempo de se estruturar para atender às demandas de pessoas, entidades, empresas, instituições, como previsto na legislação: com o mínimo de burocracia e o máximo de eficiência.
É um serviço hoje inexistente, cuja montagem não é coisa simples, mas com empenho se faz. O obstáculo mais complicado de ser ultrapassado será o da mentalidade prevalente no Estado de que não é um ente a serviço da população, mas justamente o oposto: seus eventuais ocupantes é que costumam se servir da delegação pública.
Hoje, o que se vê em todas as instâncias de poder é a resistência ao fornecimento de dados. Agora isso passa a ser uma obrigação legal, mas não está claro por intermédio de qual instrumento será possível fazer valer o direito.
Recursos à Justiça, à Controladoria-Geral da União, ao Ministério Público? Foge ao espírito do acesso franqueado.
Os órgãos públicos podem publicar seus dados na internet, mas não necessariamente todos os que interessam a quem procura.
É o tipo da lei que dependerá de um processo de mudança profundo - nas ações e nos pensamentos dos mundos público e privado - para "pegar" ou virar letra morta.
Muito se falou quando da discussão do projeto da lei na questão do sigilo eterno, resolvida com a limitação a 50 anos para a liberação de documentos tidos como secretos.
Mas o principal ponto é a abertura de informações relativas ao cotidiano dos governos. Mudar isso, num ambiente em que o Estado se comporta como dono daquilo que de fato pertence ao cidadão, será algo equivalente a uma revolução.
Quanto à Comissão da Verdade, a arte primeira será da presidente Dilma Rousseff para formar um grupo de confiabilidade, bom senso e experiência suficientes para que o trabalho não se perca em partidarismos nem revanchismos.
Essa exigência está consagrada na proposta, que excluiu punições e impõe observância à Lei da Anistia, de resto consolidada por manifestação do Supremo Tribunal Federal.
Mas, como na Lei de Acesso à Informação, embora guardadas as proporções aqui também a prática é que ditará o sucesso ou o fracasso de uma iniciativa salutar.
Óbvio? Nem tanto quando o que está em jogo não é o simples cumprimento de um texto legal. É a compreensão de todo o processo de construção da retomada da democracia a partir de um pacto cujas cláusulas atenderam às especificidades do País e que, sem ingerências estranhas a elas, precisa ser concluído com a exposição da verdade. Nada além da verdade.
Ícone. Reconheçamos: José Sarney é incansável.
Essa agora de contratar uma consultoria para melhorar a própria imagem e pagar com dinheiro do Senado é, como se dizia no tempo em que Sarney era deputado "bossa nova" da UDN, de cabo de esquadra.
|
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
quarta-feira, novembro 23, 2011
Outros quinhentos Dora Kramer
Arquivo do blog
-
▼
2011
(2527)
-
▼
novembro
(124)
- Quanto maior, pior - EDITORIAL O GLOBO
- A saúde dos jornais - CARLOS ALBERTO DI FRANCO
- Ninguém sabe, ninguém viu - EDITORIAL O ESTADÃO
- De volta a 1937 - RUBENS RICUPERO
- Carros inseguros - EDITORIAL FOLHA DE SP
- Ar mais respirável - GEORGE VIDOR
- A crise segue... lá fora - PAULO GUEDES
- Mazelas - próprias e adquiridas por contágio - MAR...
- No mais cruel dos dias, VEJA revela outra sujeira ...
- De herege a profeta Merval Pereira
- HOSPITAL DE GRIFE? LOUIS VUITTON -ELIO GASPARI
- Além da dose - EDITORIAL FOLHA DE SP
- FUNDAMENTALISMO ATEU - IVES GANDRA DA SILVA MARTINS
- Sonho adiado - MERVAL PEREIRA
- República - de volta para o futuro - JOSÉ SERRA
- A Batalha da França - DEMÉTRIO MAGNOLI
- Alerta Brasil, tudo piorou... - ALBERTO TAMER
- Na zona do euro, avanço ou ruína - MARTIN WOLF
- A tortuosa sobrevida de um ministro EDITORIAL O Globo
- O PAC continua devagar - EDITORIAL O ESTADÃO
- Sol com peneira - DORA KRAMER
- Visão interna - MIRIAM LEITÃO
- Outubro, fundo do poço? - VINICIUS TORRES FREIRE
- Domingo na Rocinha - CONTARDO CALLIGARIS
- A prova dos 9 e dos 4,5% - VINICIUS TORRES FREIRE
- Amarração com a China - CELSO MING
- As consequências - MERVAL PEREIRA
- Erros e lições - MIRIAM LEITÃO
- Outros quinhentos Dora Kramer
- A seleção dos piores Rolf Kuntz
- A USP e a corrosão do caráter- Roberto Romano
- Afinal, quem tem medo da mentira? José Nêumanne
- Mentira & politicagem -:Roberto DaMatta
- Sob nova direção - Celso Ming
- República das Bananas Rodrigo Constantino
- Qual é essa de “eu teamo”? - João Ubaldo Ribeiro
- Governos concentram, não distribuem renda-SUELY CA...
- Um corpo que cai Dora Kramer
- Desacelerou Celso Ming
- Por que Dilma faz sucesso? João Mellão Neto
- A insustentável leveza de Lupi Guilherme Fiúza
- Apagão de mão de obra Claudio de Moura Castro
- Olá, passado; cuidado, futuro - Maílson da Nóbrega
- Trapaça do tempo Roberto Pompeu de Toledo
- Arthur Virgílio -Falar sério
- [INDICE DE ARTIGOS ETC] 14/11/2011
- La conspiración que encubre los problemas Por Joaq...
- Cristina oscila entre dar la mano y retener el puñ...
- Meu reino por uma causa-Sandro Vaia
- É a política DORA KRAMER
- Couro duro MERVAL PEREIRA
- A agonia de Berlusconi CELSO MING
- Livros, leitores e antileitores ROBERTO DaMATTA
- Avanço à vista ANTONIO DELFIM NETTO
- Lupi, o republicano ROLF KUNTZ
- Peru MARTHA MEDEIROS
- Morrer como bebês PAULO SANT’ANA
- De mal e benfeitores ZUENIR VENTURA
- A revolução dos "bichos grilos" mimados da USP JOS...
- Soberania atropelada CELSO MING
- Está quente MIRIAM LEITÃO
- Prazo apertado RUBENS BARBOSA
- O respeitável público MERVAL PEREIRA
- Visões distintas DORA KRAMER
- Terceirização - quem é o responsável? JOSÉ PASTORE
- Libertação animal HÉLIO SCHWARTSMAN
- Novo Banco Central Europeu ANTONIO DELFIM NETO
- Um pouco de tumulto, por favor VINICIUS TORRES FREIRE
- PAULO GUEDES - A faxina continua
- EVERARDO MACIEL - As batalhas pela simplificação t...
- RENATO JANINE RIBEIRO - De cargo em cargo
- SIMON SCHWARTZMAN - O teto de vidro da educação br...
- RICARDO NOBLAT- Mau cheiro
- LUIZ FELIPE PONDÉ - Geração Capitão Planeta
- RUBEM AZEVEDO LIMA - Lula e seu câncer
- MELCHIADES FILHO- Rock Brasília
- DENIS LERRER ROSENFIELD - Há algo novo em curso
- GUSTAVO IOSCHPE - Só mais dinheiro não resolve
- EDITORIAL ZERO HORA - Manobra pró-mensaleiros
- VINICIUS MOTA - Os bebês da USP
- ENTREVISTA - REVISTA VEJA ENTREVISTA Roger Noriega
- A rebelião dos mimados - REVISTA VEJA
- Dilma, a gerente omissa-estadao- Rolf Kuntz
- Sem controle EDITORIAL FOLHA DE SP
- Felizes, desiguais e pouco democratas GAUDÊNCIO T...
- A degradação da UNE EDITORIAL O Estado de S.Paulo
- O exame da OAB HÉLIO SCHWARTSMAN
- Quem perde, quem ganha ELIANE CANTANHÊDE
- A improbidade protegida JANIO DE FREITAS
- Ainda Lula DANUZA LEÃO
- Exercício de adivinhação FERREIRA GULLAR
- Tempos difíceis AFFONSO CELSO PASTORE
- O dono do livro MARTHA MEDEIROS
- AMIR KHAIR - Meta de inflação
- Fernando Henrique Cardoso -Corrupção e poder
- CELSO MING - Não emplacou
- ALBERTO TAMER -Brasil e G-20, dinheiro não
- João Ubaldo Ribeiro -À casa torno
- Gilles Lapouge -Monarquia reformada
- DORA KRAMER Impávido colosso
-
▼
novembro
(124)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA