O Estado de S.Paulo - 24/11/11
Está tudo piorando lá fora. Eles não se entendem sobre quem vai pagar a conta e o Brasil tem que se preparar ainda mais para enfrentar esse cenário que se agravou ontem quando a Alemanha não conseguiu colocar no mercado 6 bilhões dos seus títulos tao seguros. "É uma recaída da crise de 2008", afirmou o ministro Guido Mantega, na Câmara. Não exagerou, foi apenas realista. Enquanto a Alemanha testava o mercado e recebia um "não" - mal e mal vendeu 3 bilhões - os investidores continuavam ontem se desfazendo de papéis da eurozona. E não eram só da Itália ou Espanha. Também hesitam em comprar da França.
Mas Que saída? É a monetização da dívida, lembra Luis Carlos Mendonça de Barros em artigo no Valor, refletindo o que todos afirmavam ontem no mercado. Se necessário, é emitir euros como os Estados Unidos emitiram dólares e acenam que vão emitir mais para reanimar a economia. E, olhem, o PIB americano cresceu 2%, enquanto o europeu 0,2%! Mas isso é um "crime" inominável para a Alemanha porque pode levar a inflação para mais de 3%... Não, não, não, reafirmava várias vezes Angela quase a beira de uma crise nervosa. Ufa! Não estamos de Weimar, em 1919, quando a hiperinflação passou de 10.000%, dizia esta semana outro analista em Berlim. Bom senso, senhores, pedia ele!
Insensatez lá fora. Se os Estados Unidos emitiram quase US$ 2 trilhões e o Fed admite que vai precisar emitir mais para animar um PIB que definha, por que seria tão trágico emitir euros? Como temer uma "pressão inflacionária" inadmissível quando a economia entra em recessão, o desemprego aumenta, os países não conseguem rolar suas dividas a não ser a taxas perigosas porque ninguém confia neles, como ficou provado na reunião dos G20?
Um bom senso que há no Brasil que aceita conviver com uma inflação próxima de 6% desde que isso evite a recessão. Nesse cenário externo que só não preocupa os pouco responsáveis, o ministro Guido Mantega fez ontem um alerta na Câmara dos Deputados para a recaída na recessão de 2008 para a qual estamos preparados. "Lá o Estado se paralisa; aqui não." Está agindo para conter a desaceleração da atividade econômica, que estagnou no último trimestre e pode levar à tal 'recessão técnica, "que comentamos na última coluna, na qual crescer 0,3% não é recessão. Cai na área do "erro estatístico."
O que o ministro não disse mas admite, é que é preciso fazer mais. Confirmou isso ao vir a São Paulo para reunir-se com empresários e saber o que é preciso para que se produza e venda mais. Não prometeu nada, dizem os que participaram do encontro, mas deixou claro que o novo objetivo do governo é incentivar as vendas, o consumo interno que ainda cresce 6%, mas era 10%. Mais renda, mais consumo, menos impostos, exatamente o oposto do que eles estão fazendo lá. Na Eurozona, Sarkozy e Merkel brigam como duas comadres ranzinzas, nos EUA, o Partido Republicano e o Tea Party (sai pra lá!), recusam medidas que criam mais demanda e empregos. Aqui, o Congresso mostra bom senso ao admitir que na democracia, é preciso ouvir a voz do povo, mesmo porque há eleições municipais por aí...