Jornal do Brasil |
21/12/2007 |
Pois o Congresso - ou mais precisamente o Senado e o governo - acabam de dar o melhor e o mais oportuno dos exemplos com a cambalhota acrobática do acordo fechado, ainda com as cinzas fumegando da crise com a maior derrota do presidente Lula, com a rejeição pelo Senado da proposta de emenda constitucional para prorrogar até 2011 a cobrança da badalada Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira, a CPMF, que garantiria a arrecadação de mais R$ 40 bilhões anuais para o financiamento de programas sociais, como o Bolsa Família e outros menos conhecidos. Não é apenas o resultado que carimba a calamitosa incompetência e a patusca arrogância da seleção palaciana, comandada pelo presidente Lula com a assessoria de mão trocada dos ministros da área econômica e assessores de discutível serventia. Lula insistiu na tática que vinha dando certo pelas duas vias habituais: a oratória da penca de improvisos diários para a intimidação da ameaça de revides e o anúncio das calamidades com o corte de verbas de destinação certa para a saúde, a educação, a assistência social e outras miudezas. Errou em tudo. Trocou de rumo várias vezes. E no recuo tardio, depois da parada perdida, em cima da votação que sepultou o imposto do cheque. Vencedores e derrotados avaliaram a terra arrasada e, em lances simultâneos, abriram a guarda para a negociação da paz, afinal celebrada. Antes de fechar a cortina para a dispersão do elenco, o acerto abençoado da aprovação, em segundo turno, pelo mesmo Senado apaziguado, da emenda constitucional que prorroga a Desvinculação da Receita da União (DRU) e permite ao governo gastar 20% das suas receitas, ou cerca de R$ 80 bilhões no próximo ano, com liberdade na aplicação em todas as áreas. Um tampão no buraco da derrubada do CPMF, aprovado por 65 votos a 6, com a oposição liberada para votar na linha do angustioso interesse do governo. E a paz é linda, adoça a alma, apaga agravos, reaproxima adversários no abraço entre soluços e olhos úmidos. "Não teríamos aprovado a DRU sem a oposição", suspira o líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), depois de arrancar de Lula o pacote de medidas reclamadas pela oposição: o compromisso de não aumentar alíquotas de impostos nem criar novos tributos para substituir o CPMF; a proposta da reforma tributária, a ser enviada ao Congresso em fevereiro. Cortes no Orçamento, inclusive das emendas de parlamentares, serão negociados com a oposição. Mas esta lista de compromissos do governo, com o aval do presidente Lula, não é a mesma, sem tirar nem pôr uma vírgula, que foi rejeitada nas malogradas negociações que pavimentaram a derrota da rejeição da CPMF? Claro, a mesma, até mais enxuta do que a da cesta natalina. Francamente, não é hora de cutucar em feridas que já não sangram, mas não estão cicatrizadas. Na reabertura do Congresso, de volta das férias, das castanhas e dos presentes, quando da retomada das conversas sobre a pauta dos compromissos da pacificação, as lideranças do governo e da oposição, os presidentes do Senado e da Câmara que tanto se distinguiram nos longos meses de crise deveriam voltar os olhos para o voto e atender a cobrança ética da sociedade, farta de escândalos, de mordomias, de regalias, de verba indenizatória e aproveitar o embalo das boas intenções para varrer o entulho acumulado em décadas de boa vida dos premiados com um dos melhores empregos do mundo. E às nossas custas. |
Entrevista:O Estado inteligente
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