Entrevista:O Estado inteligente

domingo, dezembro 09, 2007

Velhos conhecidos


Esfaceladas as diferenças partidárias tradicionais, mais do que nunca as campanhas políticas "fulanizaram-se"

SÃO AINDA indefinidos, a julgar pela pesquisa do Datafolha hoje publicada, os rumos da sucessão municipal em São Paulo. Nenhum nome emerge com favoritismo inquestionável por enquanto, e os que se destacam são os beneficiados, no passado ou no presente, por elevado grau de exposição pública.
O ex-governador Geraldo Alckmin obtém 26% das preferências do eleitor, quatro pontos abaixo do verificado na última pesquisa. A ex-prefeita Marta Suplicy vai de 24% a 25% entre os dois levantamentos, e o atual prefeito, Gilberto Kassab, passa de 10% a 13%.
A memória da campanha presidencial -onde o candidato tucano obteve 53% dos votos dos paulistanos no primeiro turno- é o trunfo de Geraldo Alckmin para contrabalançar a relativa palidez de sua presença no cenário político atual e sua debilitada ascendência sobre a máquina partidária.
Eis duas desvantagens que não são compartilhadas por seus principais rivais. No PT, o crescimento da influência de Marta Suplicy pôde ser registrado nas últimas eleições para a direção nacional, quando seu grupo foi o segundo mais votado. Nome praticamente desconhecido da população há poucos anos, Kassab tem sua visibilidade assegurada pelo cargo que ocupa.
A disputa pela prefeitura ainda se mantém em compasso de espera, aglomerando numa faixa estreita os que, se fosse cabível usar a linguagem dos antigos filmes policiais, constituem os "suspeitos de sempre". Mais que indagar sobre o quanto esse quadro ainda há de alterar-se, valeria esclarecer outro mistério: que propostas específicas estarão em pauta nas eleições?
No âmbito dos partidos, são bem escassas as pistas. Enquanto isso, temas novos vão ocupando as atenções da população, para além das genéricas "prioridades" que todo candidato afirma defender e dos alinhamentos partidários de rotina.
Questões como as da poluição visual, do pedágio urbano, da lei do silêncio, das políticas com relação aos moradores de rua ou das responsabilidades metropolitanas no aquecimento global aparecem com freqüência nas discussões cotidianas. Tendem a acompanhar-se de uma carga polêmica e doutrinária mais intensa do que as genéricas promessas de eficiência administrativa e de novas obras.
Menos vago e ilusório que o debate em torno dos nomes e dos partidos, esse gênero de temas mereceria entrar em pauta nas preparações para a sucessão municipal. Partidos políticos, em tese, existem para formular programas e linhas de atuação para seus candidatos. Parecem constituir, contudo, meras legendas para postulantes que repetem os mesmos clichês.
As campanhas políticas, mais do que nunca, "fulanizaram-se". Esfaceladas as diferenças ideológicas tradicionais, giram em torno de pessoas, numa espécie de concurso de popularidade em que o cidadão é convocado, obrigatoriamente, a dar seu voto, sem muita certeza quanto ao que de fato significa.

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