Entrevista:O Estado inteligente

domingo, dezembro 09, 2007

Missão difícil Celso Ming

Quais são os problemas econômicos que a presidente Cristina Kirchner, que toma posse amanhã, terá de atacar?

O economista Dante Sica, da Consultoria Abeceb, aponta dois focos que exigem ação prioritária: inflação e falta de investimentos. São problemas interligados.

A inflação real argentina gira em torno dos 14% ao ano, cerca de cinco pontos porcentuais mais alta do que a admitida oficialmente. A diferença corre por conta da manipulação da metodologia do Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), encarregado das pesquisas e do processamento das informações.

É uma inflação anômala, na medida em que acontece sem déficit nas contas públicas. O superávit primário na Argentina é de 3,1% do PIB. A inflação é fruto das emissões de moeda exigidas para manter uma cotação artificial do câmbio em torno dos 3,15 pesos por dólar. Para impedir que o dólar escorregue, como no Brasil, o Banco Central argentino compra moeda estrangeira. E é essa expansão de pesos entregues na compra de dólares que causa a maior parte da inflação.

Por falar em política fiscal, o aumento do Imposto de Exportação (retención), decretado logo depois das eleições de 28 de outubro, assegura para 2008 uma receita extra de 7,67 bilhões de pesos ou 0,8% da arrecadação. Esse aumento garante não só conforto fiscal para a nova presidente, como também margem de manobra para controlar os governadores das províncias, altamente dependentes das transferências de verbas do governo central.

Para impedir a esticada da inflação, o governo Kirchner impôs duas políticas: repressão de preços e salários, obtida por imposição política - distribuição de subsídios, especialmente à energia, aos combustíveis e aos alimentos - ou por acordos setoriais. Essa repressão produz a retração dos investimentos privados.

Dante Sica explica o que acontece: “Para crescer 6% ao ano, sem inflação, os investimentos têm de ser alguma coisa entre 25% e 26% do PIB. Hoje, não passam de 23% do PIB, mas estão excessivamente concentrados na construção civil (56,8%).”

Por aí se vê que a Argentina precisa de Investimento Estrangeiro Direto, mas os fluxos esbarram em dois obstáculos: tarifas artificialmente controladas e suspensão do pagamento da dívida com os países ricos (Clube de Paris), o que bloqueia a injeção de recursos das matrizes estrangeiras nas suas filiais na Argentina.

Dante Sica observa que a nova presidente terá de suspender subsídios tarifários, especialmente aos combustíveis e outras formas de energia, e resolver suas pendências com o Clube de Paris. A revisão dos subsídios, num primeiro momento, tende a aumentar a inflação.

Como os empresários não canalizam recursos novos para atividades de baixo retorno ou de retorno negativo, a capacidade de produção está chegando ao limite em setores-chave, como refino de petróleo, metalurgia básica, têxteis e produtos químicos.

Enfim, o principal problema econômico da presidente Cristina Kirchner é criar condições para o investimento, limitação que seu marido, que a antecedeu no cargo, não enfrentou porque o crescimento econômico dos últimos quatro anos se baseou em capacidade instalada já existente.
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